22/03/17 |   Biodiversidade

Equipe analisa espécies arbóreas brasileiras

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Foto: Laerte Scanavaca

Laerte Scanavaca - Excasiata

Excasiata

Em agosto de 2011, Henriette Moranza, estudante de Ciências Biológicas da Unesp de Jaboticabal, orientanda do professor Guilherme Ferraz do Laboratório de Farmacologia e Fisiologia do Exercício Equino (LAFEQ), procurou a Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) com a intenção de realizar um levantamento de espécies de plantas medicinais em fazenda em Ubatuba, SP.

“Como a fazenda está bem preservada, buscamos explorar o potencial de plantas medicinais. Jamais pensamos em cortar árvores, sendo nosso objetivo exatamente o oposto”, explica o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Laerte Scanavaca Jr.

Para a caracterização da vegetação, foram coletadas e identificadas espécies arbóreas da Mata Atlântica (Floresta Ombrófila Densa Submontana) com potencial medicinal. Na primeira etapa, foram feitas visitas de campo para se identificar mais grosseiramente as espécies de interesse, isto é, em nível de família.

A Mata Atlântica, mais especificamente a Floresta Ombrófila Densa Submontana, está ameaçada de extinção. Deste modo, pode ser explorada para produção de frutos, sementes, mel, fármacos, aromáticos, condimentares e turismo. Considerando isso, optou-se pela exploração em plantas medicinais, já que 60% dos fármacos vem das plantas (princípio ativo) e 70% da Amazônia.

Depois dessa identificação das principais espécies, foram feitas viagens com o intuito de coletar material para exsicatas, que é a coleta de material da planta que se pretende identificar, ou seja, folha, fruto, flor, e colagem em uma cartolina para que um botânico possa identificá-la. Coletaram-se 58 espécimes, das quais 44 foram identificadas em nível de família, 34 em nível de gênero/espécie e 13 em nível de subespécie.

Numa segunda etapa, esse material foi levado a especialistas para a confirmação e ou refinação das identificações. “Com as espécies identificadas, fizemos uma revisão bibliográfica voltada para o interesse farmacológico, e posteriormente, a definição ou eleição das espécies mais utilizadas pela população como fitoterápicos”, explica o pesquisador.

Numa terceira fase, começou o estudo propriamente dito, isto é, a checagem dos dados de literatura etnofarmacológica. Esta etapa foi desenvolvida na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp, sob orientação de Guilherme Ferraz, auxílio de Antonio de Queiroz Neto e Maria Isabel Mataqueiro, pesquisadores do Laboratório de Farmacologia e Fisiologia do Exercício Equino (LAFEQ), setor pertencente ao Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal.

De todas as espécies analisadas, uma das mais promissoras foi a Bauhinia forficata, popularmente conhecida como pata-de-vaca, da família das Fabaceae, bastante comum em arborização urbana, com indícios de potencial para o controle da diabetes, utilizada também como calmante, que foi o objetivo do estudo.

Depois disso, foram feitos testes para a decocção (chá) para estudo em ratos Wistar.  O chá foi escolhido por ser o modo mais utilizado.

O objetivo foi investigar a atividade exploratória, nível de ansiedade e glicemia de ratos saudáveis submetidos a tratamento prolongado com decocção de B. forficata. Selecionou-se 20 ratos machos com aproximadamente 150g, distribuídos em dois grupos, um que recebeu a decocção da B. forficata e o grupo controle que recebeu água, durante o período de quatro semanas.

Após este procedimento, mensurou-se o peso, o consumo de ração e ingestão de líquidos, bem como o índice glicêmico. Os testes de campo aberto e labirinto elevado  foram aplicados ao final do experimento. Os dados foram analisados estatisticamente pelo teste de Wilcoxon e a glicemia pelo teste de Bonferrroni. Não houve diferenças significativas no peso corporal, ingestão alimentar ou índice glicêmico entre os grupos.

A ingestão líquida foi maior no grupo Bauhinia. Os resultados de labirinto elevado não diferiram entre os grupos, mas no teste campo aberto, as frequências de levantar e locomoção foram menores e o tempo de imobilidade aumentou para ratos do grupo que bebeu o chá. Isso permitiu concluir que a B. forficata reduziu a atividade exploratória e não alterou a glicemia em ratos saudáveis, conforme trabalho publicado na Revista Científica Plant, v.5, n.1-5, p.27-32, 2017.

Comumente, a população utiliza a decocção desta espécie como forma de prevenção ao diabetes. Desta maneira, podemos mostrar que em indivíduos saudáveis esta utilização é dispensável, já que o estudo demonstrou a não alteração da glicemia em ratos saudáveis. Ademais, a partir deste estudo, podemos inferir que a espécie possivelmente possui efeitos calmantes, frente aos resultados obtidos nos testes comportamentais, que demonstraram uma redução da atividade locomotora.

O trabalho foi possível pela liberação da exploração da fazendo pelo proprietário e pelo financiamento do CNPq. Henriette iniciou seus estudos de doutorado em Zootecnia pela FCAV-Unesp de Jaboticabal.

 

Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente

Telefone: 19 3311 2608

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/