Inovação muda lista de campeões da produção
13/04/17
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Estudos socioeconômicos e ambientais
Inovação muda lista de campeões da produção
Em 2007, nada mais que 12, ou menos que 10%, de uma longa lista de produtos respondia por 75% da renda agrícola nacional. É o que mostra uma estimativa elaborada por pesquisadores da Embrapa com base no valor médio da produção, dos anos de 2006 a 2008, de 122 produtos obtidos em lavouras permanentes e temporárias, na criação de animais, na produção pecuária (casulos, leite, lã, mel e ovos), no extrativismo vegetal e na silvicultura.
O estudo, liderado por Fernando Luís Garagorry, da área de estatística agrícola da Secretaria de Gestão Institucional da Embrapa, com base em dados do IBGE, não produz análises sobre a dinâmica da produção agrícola, mas oferece uma fotografia da concentração em termos do volume de produtos. Concentração sempre existiu na agricultura brasileira, mas parece razoável imaginar que o fenômeno terra se acirrado a partir das transformações ocorridas na agricultura desde o início do processo modernização tecnológica há quatro décadas.
Obtidos os valores de produção de cada item, os pesquisadores organizaram os produtos em conglomerados a que chamaram “quartéis”, pela ordem decrescente de valor. No quartel 4 estão o produtos que apresentaram maior participação na renda agrícola, no caso a carne bovina (14,57%) e a soja (14,19%), que contribuíram para a formação de pelo menos 25% dessa renda, naquele triênio. No quartel 3, estão cana-de-açúcar (9,84%), milho (7,93%) e leite bovino (7,73%), que somados aos dois primeiros, compuseram mais que 50% da renda agrícola.
Café, tão marcante em toda a história do Brasil, no período figurou apenas como sexto item em importância econômica para a agricultura, abrindo o quartel 2, no qual ainda se incluem, ordenados pelo peso da contribuição, galinhas/frangos/pintos, suínos, arroz, laranja, mandioca e feijão, completando 75,52% da renda agrícola naquele triênio. Os 110 produtos remanescentes estão no quartel 1 e contribuíram com os 24,48% necessários para completar 100% da renda agrícola total.
Além da panorâmica nacional, o estudo mostra também quais produtos se tornaram mais importantes para a formação da renda regional e estadual. A comparação entre as tabelas convida a imaginar como o empreendedorismo, a busca pela eficiência e competitividade, a oferta tecnológica, restrições ambientais e as políticas públicas influíram nas resultantes do conflito entre a agricultura tradicional e extrativa e as forças de mudança e inovação.
Na região Norte, apenas 8 produtos, numa pauta de 83, explicaram 76,45% da renda agrícola da região. Produtos típicos e icônicos como borracha, castanha-do-brasil, mais conhecida conhecida como castanha-do-pará, guaraná e palmito não estão entre eles. A histórica bovinocultura de corte, com roupagem tecnológica moderna, se consolidou como principal ativo e respondeu por 31,47% da renda agrícola da região. Com o valor da produção de madeira em tora (10,54%) e mandioca (10,27%), explorações ancestrais já então mais tecnificadas, compuseram 52,28% da renda da região. Soja era o único produto novo naquele triênio.
Na região Sudeste, dentre 82 produtos, apenas 9 respondiam por 76,78% da renda agrícola. Soja também era novidade. Todos os demais eram produtos históricos como leite, carne e milho, sendo cana-de-açúcar (20,86%) e café (13,40%) os campeões de renda naquele período. Na região Sul, numa lista de 86, 10 produtos, praticamente todos históricos, responderam por 76,38% da renda agrícola. Soja (19,42%), a exceção, foi o campeão de renda. Carne (8,75%), leite (7,09%) e trigo (3,05%), ícones da colonização na região, foram respectivamente apenas o terceiro, quarto e décimo em termos de contribuição para formação de 75% da renda agrícola.
O Centro-Oeste e o Nordeste ocupam os extremos na marcha da concentração produtiva. Até então, sem uma agricultura tradicional forte e totalmente dependente do uso intensivo de tecnologias tropicais para sua incorporação ao processo produtivo, o Centro-Oeste é o campeão da concentração produtiva: apenas quatro produtos responderam por 75,44% de sua renda agrícola. Soja e carne bovina geraram 59,83% da renda. Milho e algodão herbáceo contribuíram com o restante para alcançar essa marca.
O Nordeste é a região em que a produção é menos concentrada: 16 produtos, entre modernos e tradicionais, contribuíram para gerar 76,16% da renda agrícola da região. Tradição e restrições ambientais podem ter refreado o ímpeto da concentração.
Nas faixas do cerrado nordestino, onde a chuva é mais constante e generosa, prosperaram tanto novidades como a soja, o algodão herbáceo, a madeira para celulose e até mesmo o café, quanto produtos históricos como carne, leite, cana-de-açucar, milho, mandioca e feijão. Na caatinga, nos nichos onde a irrigação foi possível, convivem novidades como manga, banana, melão, uva e tomate com cultivos e criações históricas mais tecnificadas.
Nos estados, a fotografia mostrou surpresas oriundas do mesmo processo de modernização agindo sobre diferentes condições de oferta ambiental, empreendedorismo, mercado e políticas públicas. São Paulo já não era mais o estado da política do café com leite: embora o estado continuasse como o terceiro maior produtor de café e o sexto maior de leite, no triênio 2006-2008 esses produtos eram apenas sétimo e oitavo em contribuição para a formação da sua renda agrícola. Cana-de-açúcar e laranja já respondiam por 50% da renda agrícola estadual.
Minas Gerais abraçou a inovação, mas permaneceu onde sempre esteve: no momento da pesquisa era o maior produtor de café e de leite, que eram os produtos mais importantes de sua pauta, respondendo por 39,19% de sua renda. Ainda que já fosse a maior produtora da amêndoa, Bahia não era mais a terra do cacau: tornara-se a terra de soja e do algodão herbáceo.
Pernambuco, apesar de toda inovação da fruticultura irrigada, ainda persistia como a terra dos engenhos de cana-de-açúcar. Aparentemente, cada estado reagiu de maneira distinta à constante pressão por inovação. Será que essas tendências se mantiveram nos anos que se seguiram? Certamente um novo censo agrícola nos dirá o que aconteceu.
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Renato Cruz Silva (MTb 610/04/97v/DF)
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