A história do pesquisador da Embrapa, Eliseu Roberto de Andrade Alves, se confunde com a história da agricultura brasileira. São 62 anos de vida profissional dedicados à pesquisa agropecuária, ao desenvolvimento de tecnologias, e aos estudos e análises sobre a pobreza rural no País. Ainda hoje, aos 86 anos de idade, o pesquisador atua como assessor da presidência da Embrapa, e permanece firme em seu propósito de contribuir para a produção e a disseminação do conhecimento em prol do avanço da ciência e da melhoria das condições de vida no campo. E é com esse objetivo que Eliseu Alves deixa também outro importante legado para a Empresa: um acervo com mais de 500 obras, impressas e editadas em diferentes línguas (inglês espanhol e português). O anúncio da doação do acervo pelo pesquisador será feito durante a solenidade comemorativa do 44º aniversário da Embrapa, que ocorrerá no auditório Assis Roberto De Bem, na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF), no dia 27 de abril de 2017, às 10h30. A partir do anúncio, o acervo passará a integrar oficialmente o conjunto de obras técnico-científicas disponíveis na Biblioteca da Sede. Entre as publicações que compõem o “Acervo Eliseu Alves” estão obras científicas de sua autoria, assim como obras sobre macroeconomia, microeconomia, economia agrícola, matemática, políticas agrárias, topografia, administração, capital humano; as quais o pesquisador foi acumulando ao longo de toda a sua trajetória acadêmica, iniciada com a graduação em Engenharia Agrônoma pela Universidade Federal de Viçosa (UFV); mestrado e doutorado em Economia Agrícola pela Purdue University Indiana, nos Estados Unidos; e como professor de estatística, microeconomia e política agrícola de cursos de pós-graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Eu posso dizer que existem três temas que foram fundamentais e fizeram parte de toda a minha vida. O primeiro diz respeito à extensão rural [atuou na Emater/MG de 1955 a 1973], onde produzi extensa bibliografia junto com colegas de área, na época. O segundo, depois que deixei a extensão para ajudar a fundar a Embrapa, em 1973, diz respeito às tecnologias em geral. E o terceiro, que é a minha paixão, trata-se do estudo sobre a pobreza rural. E por que escolhi a pobreza rural? Porque eu quis saber qual o efeito da tecnologia na pobreza rural. Ela aumentou a pobreza ou a diminuiu? Aumentou a concentração da produção na mão de poucos produtores ou a diminuiu? E a conclusão a que cheguei nesse tema é que houve um grande aumento da concentração”. Nessa direção, além do acervo físico que ficará no espaço criado para recebê-lo, encontra-se em acesso aberto – e, portanto, disponível para download nas bases de dados da Embrapa –, um conjunto de artigos e obras do autor, que tem como coautores outros pesquisadores e economistas da Empresa. Tais textos discutem, entre outros temas, os efeitos do uso da tecnologia por pequenos e grandes produtores; a importância da assistência técnica no meio rural; bem como o impacto das chamadas imperfeições de mercado na vida do produtor rural - compreendendo como imperfeições de mercado, por exemplo, as dificuldades do pequeno produtor de obtenção de crédito a partir do Pronaf, ou de acesso à assistência técnica pública, que, na visão de Eliseu, contribui para aumentar ainda mais as diferenças entre os pequenos e grandes produtores rurais no Brasil, impactando diretamente nos níveis de participação na produção da safra brasileira. Acesso aberto A maioria da obra de Eliseu Alves se encontra disponível também na Base de Dados da Pesquisa Agropecuária (BDPA), e pode ser baixada, em acesso aberto, nos repositórios Acesso Livre à Informação Científica da Embrapa (Alice): www.embrapa.br/alice e Informação Tecnológica em Agricultura (Infoteca-e): www.embrapa.br/infoteca. Ao todo, estão reunidas, em acesso aberto, mais de 200 publicações com a contribuição do pesquisador, entre artigos publicados em periódicos, livros e anais de congressos. Para se ter uma ideia da dimensão da busca por artigos do pesquisador, somente em 12 meses – de janeiro de 2016 a janeiro de 2017–, destaca-se que só do artigo intitulado Êxodo e sua contribuição à urbanização de 1950 a 2010, publicado na Revista de Política Agrícola, em 2011, foram feitos 3.941 downloads; enquanto do artigo A agricultura familiar, publicado no periódico de mesmo nome, em 1997, foram feitos 2.915 downloads, ambos a partir do repositório Alice. “Considero uma grande realização a Empresa disponibilizar sua produção científica para o acesso aberto de usuários, pois somos uma instituição pública, e as coisas que são feitas aqui devem estar disponíveis para todo mundo”, destaca o pesquisador, ao falar sobre o acesso a sua obra. Biblioteca Sobre o papel das bibliotecas hoje, especialmente a Biblioteca da Sede, Edmundo da Fontoura Gastal, onde ficará o acervo doado, Eliseu ressalta: “sempre apoiei muito as bibliotecas da Embrapa, e estou vendo que, atualmente, a biblioteca está ganhando um novo papel, deixando de ser um depósito de livros para se tornar eletrônica; e permitindo que milhões de pessoas tenham acesso às nossas publicações. Acho isso uma grande conquista, e uma forma de a Embrapa prestar contas à sociedade”. Biografia Eliseu Alves passou grande parte de sua vida à frente de empresas e projetos. Além de presidir a Embrapa (1979-1985), de ter sido seu diretor (1973 – 1979), e de assessorar hoje a Presidência da instituição; ele presidiu também, de 1985 a 1990, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). Nos últimos 20 anos, dedicou-se a estudar a pobreza sob o ponto de vista da ciência. O que o move é entender, objetivamente, o que se pode fazer para mudar o cenário dos pobres no mundo rural. Sobre suas reflexões acerca desse tema, finaliza: “A ciência não produz o que chamamos de tecnologia; a ciência produz conhecimentos, e esses conhecimentos são transformados em tecnologias por milhões de agricultores. No momento que o produtor monta o seu sistema de produção, aquele grupo de conhecimentos está se transformando em tecnologia. Então, com pequenas mudanças cada produtor cria também a sua tecnologia, a tecnologia dele. Mas aí vem o problema do pequeno produtor: ele não tem conhecimento suficiente para montar o seu sistema de produção, e precisa da assistência técnica para ajudá-lo a fazer isso. Porém, depois de removidas as chamadas imperfeições de mercado”. Saiba mais sobre a vida e a obra de Eliseu Alves acessando o site Memória Embrapa. Colaboração: Rosângela Galon