26/04/17 |   Gestão Estratégica

Cadastro Vitícola mostra o novo mapa da viticultura no Rio Grande do Sul

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Expansão para outras regiões do Estado reduz participação da Serra Gaúcha na área de produção de uva 

A mais tradicional região produtora de uvas e vinhos do Brasil, a Serra Gaúcha, está reduzindo a sua supremacia na produção de uvas, em função da expansão da cultura em outras regiões. Essa foi uma das informações apresentadas pela pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho e Coordenadora Técnica do Cadastro Vitícola do RS, Loiva Maria Ribeiro de Mello, na manhã desta segunda-feira, dia 24 de abril, na sede da Unidade de Pesquisa em Bento Gonçalves. Segundo o levantamento, a tradicional Microrregião (MR) Caxias do Sul, que contempla 19 municípios na Serra Gaúcha, no quinquênio 1996/2000, era detentora de 90% da área vitícola do Estado. Com os dados recém-publicados na edição do Cadastro Vitícola do Rio Grande do Sul 2013-2015, a região ainda permanece em primeiro lugar, mas reduziu para 80% da área de produção de uvas no estado. Outro ponto interessante foi a expansão da viticultura para quase todas as áreas do Estado. Ela já atinge 161 municípios e está presente em 27 das 35 microrregiões do Rio Grande do Sul, ocupando uma área de aproximadamente 40 000 hectares de vinhedos em 2015, enquanto que em 1995 estava presente em 11 Microrregiões e ocupava 21.542 ha.

Abrindo a solenidade que reuniu políticos e lideranças ligadas ao setor vitícola, como a Senadora Ana Amélia Lemos, que presidiu até 2016 a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal, e o Secretário Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação, Ernani Polo.  Na abertura do evento o Chefe-Geral da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Zanus, destacou que o quadro da viticultura, na quantidade, distribuição geográfica e perfil de variedades, é bastante influenciado pelas vinícolas. “São elas que observam os mercados, incentivam a escolha da matéria-prima e instalam vinhedos em novas áreas geográficas de produção” pontuou. Segundo o dirigente, cabe às empresas, entidades, sindicatos e associações fazer uma leitura e análise dos números da produção apresentados no Cadastro e pensar uma visão estratégica para essa cadeia, identificando distorções e oportunidades de melhorias. 

Em seu pronunciamento, o presidente do Ibravin, Dirceu Scottá, reiterou que o Cadastro tem uma grande importância para o Rio Grande do Sul e, segundo declarou, espera-se que em breve seja expandido aos outros estados que têm produção vitivinícola. Também divulgou, em primeira mão, os dados do primeiro trimestre, que indicam uma redução nas vendas tanto em vinhos, sucos e espumantes nacionais e um aumento das importações de vinhos. “Convidamos a todos os políticos e presentes no local para trabalhar e reverter o quadro atual”, conclamou Scottá.

O Secretário Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação, Ernani Polo, destacou a importância do Cadastro Vitícola em fornecer dados concretos confiáveis. “O Cadastro dá condições de uma radiografia qualitativa dos vinhedos. Melhores resultados só serão alcançados se nos unirmos, reconhecendo todos os que trabalham na produção”, pontuou o Secretário.

Para a Senadora Ana Amélia Lemos, o Cadastro sobre o setor é uma ferramenta poderosa. Em sua manifestação, a Senadora elogiou o trabalho das entidades na construção do banco de dados e no lançamento de edições atualizadas, que deve ser um exemplo a ser seguido. “Mesmo sendo protagonistas de toda cadeia produtiva, desde 2007 não temos um censo agropecuário”, relembrou. “Temos que exaltar a coragem do vitivinicultor gaúcho. Navegamos num mar revolto e acredito muito na capacidade dos nossos agricultores”, destacou a senadora. 

O prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin, vê o momento que passa o setor como conjuntural. “No ano passado não tínhamos produtos. Buscamos mercado em outros países e não tínhamos condições para entregar uva, perdemos mercado interno”, comentou. O prefeito destacou ainda que se não houver um novo planejamento do que se quer e para onde se vai, não será possível materializar esse caminho. “Não podemos deixar de brigar e qualificar nossos setores”, finalizou o prefeito.

Na sequência, a pesquisadora e Coordenadora do Cadastro Vitícola do RS, Loiva Ribeiro de Mello, apresentou alguns destaques das análises realizadas nos dados do Cadastro Vitícola 2013-2015. Durante a solenidade, a pesquisadora Loiva reforçou que estão sendo publicados e disponibilizados ao público em geral os dados consolidados até 2015, mas que os Órgãos estaduais de fiscalização e outras instituições podem solicitar os dados em tempo real à Coordenação. 

A nova edição foi realizada pelas entidades promotoras, com o apoio da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul (Seapi-RS), IBRAVIN e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e conta com o apoio dos Sindicatos de produtores, Emater/RS-Ascar e associações de produtores. 

Como acessar a publicação:
O Cadastro Vitícola é gratuito, podendo ser integralmente visualizado pelo link https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/cadastro-viticola
Para assistir um tutorial passo-a-passo:  https://www.youtube.com/watch?v=s3xcgHJCrYg


Algumas informações sobre o cadastro e evolução das áreas de vinhedos:

- Os dados agregados do cadastro vitícola, referentes aos anos de 2013, 2014 e 2015 podem ser obtidos no menu de navegação, de várias formas, através do uso de filtros - por microrregião (segundo IBGE), por município, por cultivar, por sistema de condução, dentre outros. Os mesmos podem ser visualizados na tela, impressos ou exportados no formato de uma planilha eletrônica.

- No Rio Grande do Sul são cultivadas 138 variedades de uva, entre Vitis vinifera, destinadas para a produção de vinhos finos, e uvas americanas e híbridas, destinadas à produção de vinhos de mesa e sucos. Destas, 30 são responsáveis por 95% da área total de cultivo e duas delas, 'Isabel' e 'Bordô', representam 49% da área do Estado.

- Com base na área dos novos investimentos vitícolas vitícolas, a tendência para os próximos anos é o de aumento da oferta de uvas para elaboração de sucos e de uvas para elaboração de espumantes finos.

- É possível se observar uma evolução da área plantada com videiras no estado. Observa-se que, de 1996 até 2011, ocorreu crescimento na área com videiras na ordem de 4% ao ano em média. Após o ano de 2011, houve contínuos decréscimos. A área plantada com videiras atingiu o máximo em 2011, com 41.432,20 ha, caindo para 40.232,55 ha, em 2015, ou seja, uma redução de quase 3%, em 4 anos.

- A evolução da área por grupo de cultivares faz parte da análise. Observa-se que as uvas americanas apresentaram maior crescimento que as cultivares híbridas, embora ambas tenham apresentado aumento na área plantada até o ano de 2011. O grupo das cultivares viníferas, com área plantada muito inferior aos demais agrupamentos, apresentou crescimento de área no período de 2000 a 2007 equivalente a 7,8% ao ano.

- As cultivares viníferas são usadas para elaboração de vinhos finos tranquilos e espumantes. Nas cultivares brancas de maior área destaca-se a cultivar Chardonnay, que apresentou um aumento de 253 ha, em 1996, para 1011 ha, em 2015. A cultivar Riesling Itálico, emblemática e uma das pioneiras em vinhos varietais no Brasil, apresentou queda na área plantada de 1996 até o ano de 2008 (de 653 para 260 ha), seguida de um período de estabilidade e após um leve crescimento, atingindo 290 ha em 2015. A variedade Moscato Branco também teve sua área reduzida durante o período em análise, com crescimento da área no início do período, seguido de quedas mais acentuadas nos últimos anos, passando de 633 ha em 1996 para 613 ha em 2015. A cultivar Trebbiano apresentou redução acentuada na área plantada no estado, de 1996 a 2008 (de 509 para 158 ha), seguida de uma leve recuperação nos anos subsequentes (180 ha em 2015). A cultivar Sauvignon Blanc manteve sua área mais ou menos constante durante os últimos 20 anos.

- Dentre as cultivares Vitis vinifera tintas de maior área cultivada no estado do Rio Grande do Sul, a cultivar Cabernet Sauvignon se destaca em área plantada. Nos quatro primeiros anos do período 1996/2015 a área permaneceu estável, iniciando com 433 ha. Nos anos seguintes a área aumentou fortemente chegando a 1.868 ha em 2007,  quando teve início uma rápida redução de área, situando-se em 1.028 ha em 2015. A segunda cultivar vinífera tinta é a Merlot, com comportamento semelhante à primeira, porém de intensidade distinta. Em 1996 a área dessa cultivar foi de 361 ha, passou para 1.089 ha em 2007, quando começou a redução de sua área, ficando em 800 ha em 2015.

- Durante o período do estudo tem se destacado, pelo aumento contínuo da área, a cultivar Pinot Noir que passou de 53 ha em 1996 para 344 ha em 2015. A cultivar Tannat apresentou crescimento na área até o ano de 2007 atingindo a área máxima de 421 ha em 2007, seguida de reduções anuais, situando-se em 352 ha em 2015. A tradicional Cabernet Franc possuía 308 ha em 1996, atingiu o pico em 2004 com 414 ha e, na sequência, quedas anuais, sendo que, em 2015, a área foi de 213 ha.

Viviane Zanella (Mtb14400)
Embrapa Uva e Vinho

Telefone: (54) 3455.8084

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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