23/10/14 |   Melhoramento genético

Artigo: Recursos genéticos em gado de corte

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História evolutiva
 
As raças bovinas que compõem os recursos genéticos explorados atualmente percorreram uma longa história evolutiva desde o seu ancestral primitivo, denominado urus ou auroch (Bos primigenius).
 
Durante a última era glacial (250 mil a 13 mil anos antes de Cristo), quando o nível dos mares se encontrava muito abaixo do atual, em função da grande quantidade de água retida nos polos, este gado selvagem começou a migrar de sua região de origem, no oriente médio, para outras regiões do continente asiático, para o norte da África e para a Europa.
 
Encontrando ambientes hostis, em relação ao original, indivíduos com pouca adaptabilidade deixavam poucos descendentes ou eram até, completamente, eliminados da população. Resultado da poderosa seleção natural. Por outro lado, em consequência do isolamento geográfico e da formação de pequenas populações, os acasalamentos passaram a ser mais consanguíneos, formando-se linhagens evolutivas divergentes.
 
Desta forma, do ancestral original, foram formadas duas subespécies principais: Bos primigenius primigenius, que deu origem ao gado europeu, da subespécie Bos taurus taurus, sem cupim; e Bos primigenius namadicus, que formou o gado indiano ou zebu, de cupim localizado na altura da cernelha, da subespécie Bos taurus indicus.
 
Finalmente, após a domesticação, ocorrida por volta de 10 mil anos antes de Cristo, o homem passou a interferir diretamente no processo evolutivo pela escolha deliberada dos animais a serem utilizados na reprodução.
 
Assim sendo, sob as mãos do homem, o bovino primitivo sofreu grandes transformações, resultado não só da seleção natural e do isolamento geográfico, como também em função de eventos genéticos, como a mutação, fonte natural de novos genes. Além dessas forças naturais, a própria história das civilizações, com seus reflexos sobre os objetivos da criação e da seleção dos animais, tem também contribuído para a evolução desta espécie. Desta forma se explica o grande número de raças bovinas disponíveis, atualmente.
 
Principais grupos raciais de importância econômica para o Brasil
 
Raças mochas das ilhas britânicas
 
Incluindo Aberdeen Angus, Red Angus e Red Poll, este grupo é o de menor porte dentre as raças taurinas, com peso de abate ao redor de 420-450 kg. Animais dessas raças apresentam excelentes características de fertilidade, precocidade sexual e de acabamento da carcaça com qualidade de carne reconhecida mundialmente, tendo em vista a maciez das fibras musculares e a suculência, devida à gordura entremeada nos músculos (marmoreio).
 
Em função destas características e de serem geneticamente mochas, estas raças foram difundidas amplamente pelo mundo, para serem criadas puras ou em cruzamentos comerciais e para a criação de novas raças.
 
Raças do continente europeu
 
Este é o grupo que envolve a maior diversidade entre raças. Salientam-se dois subgrupos principais: raças dos países baixos, do noroeste europeu e do sudoeste da Inglaterra e as do interior do continente.
 
As raças do primeiro subgrupo são de porte maior que o das mochas britânicas e menor que o das demais raças do interior do continente. Apresentam peso de abate em torno de 450 a 500 kg. Quando presentes, os chifres são curtos. Exemplos: Hereford, Shorthorn, Maine Anjou, Belgian Blue e Normando.
 
No segundo subgrupo são incluídas as demais raças do continente europeu, desde a Península Ibérica até Alemanha e Itália. São raças de elevado peso à maturidade, com abates ocorrendo entre 500-610 kg. Quando presentes, os chifres são mais longos. A principal característica deste subgrupo é a presença de grandes massas musculares que lhes confere elevada produção de carne por animal.
 
Comparativamente às mochas britânicas e às raças do primeiro subgrupo acima descritas, são mais tardias, do ponto de vista sexual e de acabamento de carcaça apresentando ainda maiores custos de mantença. Exemplos: Barroso e Miranda, de Portugal; Retinta, da Espanha; Devon e South Devon, do sudoeste da Inglaterra; Limousin, Blonde d´Aquitaine, Charolês e Salers, da França; Simental, Gelbvieh, Fleckvieh e Pardo Suíço Corte, da Suíça e Alemanha; e Chianina, Marchigiana e Piemontês, da Itália.
 
De forma semelhante às mochas britânicas, raças deste grupo são exigentes em termos nutricionais e muito sensíveis aos efeitos do clima tropical. Exceto em regiões de clima temperado ou em microclimas de áreas subtropicais de altitude, onde podem ser criadas puras, na maior parte das vezes elas são utilizadas em cruzamentos com raças zebuínas ou crioulas locais.
 
Raças taurinas adaptadas
 
São raças formadas a partir do gado europeu introduzido durante o período colonial. São também denominadas "crioulas" ou naturalizadas. Exemplos: Caracu, Curraleiro ou Pé-duro, Pantaneiro, Crioulo Lajeano e Mocha Nacional; taurinas africanas (sem cupim), como N´Dama, e compostos taurinos como a raça Senepol. Além de adaptabilidade ao ambiente tropical, estas raças se destacam por elevados níveis de fertilidade, habilidade materna e maciez de carne, típica da subespécie Bos taurus.
 
Raças zebuínas
 
Em função de terem evoluído em condições ambientais mais adversas e com histórico de seleção muito recente, as raças zebuínas apresentam índices produtivos mais baixos do que as taurinas europeias. Em sua região de origem, Índia e Paquistão, o peso adulto destas raças varia de 350 a 450 kg, enquanto no Brasil, de um modo geral, os abates são feitos com pesos de 460 a 500 kg. Em relação aos taurinos, o gado zebu é considerado de tamanho médio a pequeno e é mais tardio sexualmente. Apresentam menos convexidade nas massas musculares e maciez de carne mais variável. Por outro lado, tolera melhor calor, radiação solar, umidade, endo e ectoparasitas. Estas características constituem o grande trunfo das raças zebuínas para sistemas de produção em meio ambiente tropical.
 
Guzerá, Gir, Sindi e Cangaian são raças criadas no Brasil que apresentam biótipos semelhantes aos dos animais indianos que lhes deram origem, respectivamente, Kankrej, Gir, Red Sindhi e Kangayam. A raça Nelore, criada no Brasil, é ligeiramente distinta da Ongole, sua principal raça fundadora indiana, em função de objetivos de seleção e da contribuição de outras raças zebuínas em sua formação inicial. Novas raças zebuínas foram formadas no Brasil tais como: Indubrasil, Tabapuã, as variedades mochas Gir e Nelore. Nos Estados Unidos foi formada a raça Brahman, composta zebuína sobre base taurina, introduzida no Brasil a partir de 1994.
 
Raças compostas
 
São raças formadas a partir de cruzamentos envolvendo duas ou mais raças das subespécies Bos taurus e/ou Bos indicus, com os objetivos de se agregar, nos produtos compostos, características de rusticidade e adaptabilidade, próprias do zebu, com produtividade e qualidade de produto, característicos do europeu. Após uma série de cruzamentos entre as raças fundadoras e seleção permanente em todas as etapas, passa-se à fase final de bi mestiçagem, ou seja, do cruzamento dos indivíduos mestiços entre si de modo a se fixar o padrão da nova raça.
 
O exemplo mais antigo e de estratégia de cruzamento mais tradicional para esta finalidade é a raça Santa Gertrudis (5/8Shorthorn x 3/8Brahman). Outros exemplos: Bosnmara (5/8Africander x 3/16Hereford x 3/16Shorthorn), Braford (5/8Hereford ou Poll Hereford x 3/8Brahman ou Nelore), Brangus e Red Brangus (5/8Aberdeen Angus ou Red Angus x 3/8Brahman ou Nelore), Charbrey ou Canchim (5/8Charolês x 3/8Brahman ou zebu, predominantemente Nelore), Senepol (composto taurino N´Dama x Red Poll, também considerada raça taurina adaptada), Simbrah ou Simbrasil (5/8Simental x 3/8Brahman ou Nelore) e Purunã (1/4Charolês x 1/4Caracu x 1/4Aberdeen Angus x 1/4Canchim).
 
A partir do final do século passado foi iniciada a formação do composto Montana Tropical, com possibilidade de uso de proporções variáveis das raças fundadoras NABC, cujas iniciais nesta sigla são referentes às raças Nelore, Taurinas Adaptadas, Britânicas e Continentais, numa proporção final de >=75% taurino e >=50% zebu ou taurino adaptado.
 
 

Antonio N. Rosa, engenheiro agrônomo e Gilberto R. O. Menezes, zootecnista, pesquisadores
Embrapa Gado de Corte

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