Depois de cinco dias de atividades diversificadas e interação entre bolsistas e pesquisadores, chegou ao fim a XIV Semana Científica Johanna Döbereiner da Embrapa Agrobiologia (Seropédica/RJ), sob o tema Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social. O evento foi realizado de 13 a 17 de outubro e trouxe diversas palestras, mesas-redondas, sessões de pôsteres, apresentações de trabalhos de bolsistas, minicursos, exibição de filme e visitas de estudantes do ensino fundamental a laboratórios. A intenção, segundo a chefe de Pesquisa & Desenvolvimento da Unidade, Elizabeth Correia, foi contribuir com a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, promovendo a popularização da ciência. A Semana JD, como já ficou conhecida na Unidade, é uma forma de, tradicionalmente, manter viva a memória da pesquisadora Johanna Döbereiner, uma das pioneiras nos estudos sobre Fixação Biológica de Nitrogênio e uma das responsáveis pela fundação da Embrapa Agrobiologia. Tanto isso é fato que a primeira atividade deste ano foi justamente uma mesa redonda sobre a trajetória e o legado da cientista, que chegou a ser indicada para o Prêmio Nobel de Química. Nos depoimentos dos pesquisadores José Ivo Baldani, Segundo Urquiaga e da aposentada Maria Cristina Prata Neves, foi possível perceber o carinho, a amizade e, acima de tudo, a admiração que Johanna despertava em quem pôde aprender e até dividir a bancada de laboratório com ela. "Ela era simples e usava pouco os equipamentos. Suas principais ferramentas eram uma máquina de escrever e seu microscópio", disse, visivelmente emocionada, a pesquisadora Vera Baldani, durante visita comentada à exposição que se seguiu à abertura do evento, com alguns itens do acervo da cientista, como medalhas, condecorações, a velha máquina de escrever e o microscópio. Mesas-redondas – A sessão de abertura da Semana JD foi apenas a primeira das apresentações científicas do evento. Na terça-feira, 14 de outubro, o dia começou com a palestra Fotossíntese e fixação biológica de nitrogênio em sistemas simbióticos, da professora convidada Glaciela Kaschuk, coordenadora do colegiado de curso de Engenharia Agronômica da Universidade Paranaense (Unipar). A apresentação de Glaciela foi bastante elogiada pelos presentes e foi seguida da mesa-redonda Avanços e desafios na produção de inoculantes microbianos no Brasil, que reuniu em um debate produtivo os pesquisadores Verônica Reis, Jerri Zilli, Luis Henrique Soares e Norma Rumjanek, tendo como mediadora Cristhiane Amâncio. Na ocasião, eles abordaram aspectos do mercado atual de inoculantes no Brasil, as novidades da pesquisa científica para a área, como os produtos à base de compostos de moléculas bioativas e bacteriocinas, o uso de bactérias promotoras de crescimento vegetal e até mesmo as dificuldades impostas pela legislação. Com uma plateia bastante participativa, o debate foi rico e trouxe à tona a necessidade de a pesquisa atuar mais efetivamente na proposição de políticas públicas que incentivem o uso de inoculantes no País e na elaboração de leis que não dificultem as pesquisas e a inserção de novos produtos no campo. "Não faz sentido; a legislação é arcaica. Quem tem que ditar esses protocolos é a academia", disse Jerri. Os pesquisadores Luiz Fernando Duarte de Moraes, Mariella Uzêda e Alessandra de Carvalho, mediados por José Guilherme Guerra, constituíram a outra mesa-redonda da Semana JD, sobre o macrotema Agrobiodiversidade: da conservação ao manejo. Dentro desse contexto, foi explorado o debate do uso de técnicas como os sistemas agroflorestais, o controle biológico e a construção de paisagens multifuncionais nas propriedades rurais, especialmente naquelas em que predomina a agricultura familiar. Um dos conceitos trabalhados em comum por todos foi a necessidade de conversar com o agricultor, de forma a analisar suas necessidades e possibilidades de adaptação para a inserção de técnicas que possam garantir a biodiversidade em sua propriedade. "Conservar a biodiversidade é igual a promover a sustentabilidade do processo produtivo", destacou Alessandra. Apresentações de bolsistas - As sessões orais temáticas com a participação de bolsistas convidados foram outro diferencial do evento, pois possibilitaram que colaboradores que atuam diretamente na pesquisa desenvolvida no Centro mostrassem de forma mais detalhada e com mais tempo um pouco de seus trabalhos, com discussões sérias e consistentes. "Fiquei realmente surpresa pelo alto nível dessas mesas-redondas. O que vi nelas, de verdade, foram pesquisadores, não estudantes", afirmou Elizabeth. Ao todo, dez bolsistas de diferentes áreas de pesquisa se apresentaram, sob três eixos temáticos: avanços tecnológicos para o desenvolvimento social, organismos promotores de crescimento de plantas e agrobiodiversidade. O resultado foi a proposta de reflexão sobre as contribuições das instituições de ensino, pesquisa e extensão para a sociedade e a constatação de que mesmo as pesquisas com objeto de estudo restrito e específico contribuem de alguma forma para o avanço no conhecimento e a consequente melhoria aplicada na agricultura e no meio ambiente. A Semana JD contou ainda com a apresentação do filme O Vale, de Marcos Sá Corrêa e João Moreira Salles, sessões de pôsteres de bolsistas e empregados interessados, além de minicursos sobre biologia molecular, biologia do solo, produção de inoculantes e recuperação de áreas degradadas. O evento terminou com a visita de alunos do segundo segmento do ensino fundamental da rede pública de Seropédica. A intenção foi mostrar a eles os laboratórios da Unidade e ressaltar a importância da ciência para uma agricultura em parceria com a natureza, estimulando a busca pelo conhecimento científico.