29/10/14 |   Agroenergia

Começam testes com mudas de pinhão-manso resultantes de cruzamentos

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Foto: Bruno Laviola

Bruno Laviola -

A Embrapa Agroenergia está entrando na segunda fase das pesquisas com pinhão-manso. Em setembro, começou o plantio das primeiras mudas geradas por cruzamento, o que marca o início do programa de melhoramento genético propriamente dito.  O objeto é obter cultivares com três características principais: alta produtividade de grãos e óleo; toxidez reduzida ou inexistente; resistência a doenças, principalmente oídio e ferrugem.

No Núcleo de Apoio a Culturas Energéticas (NACE) mantido pela Embrapa Agroenergia em área da Embrapa Cerrados em Planaltina/DF, começaram a ser estudadas 1.400 mudas obtidas pelo cruzamento de 40 plantas selecionadas no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de pinhão-manso existente na empresa. A ação faz parte de projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI), que prevê o uso de ferramentas de seleção genômica e clonagem para acelerar o desenvolvimento de cultivares. "Com isso, esperamos reduzir o tempo de obtenção de uma cultivar de 13 para 6 ou 7 anos", diz o pesquisador da Embrapa Agroenergia Bruno Laviola, que coordena os trabalhos com a cultura.

Estimulados pelo mercado de biocombustíveis,  os estudos com pinhão-manso da Embrapa começaram em 2008 e se consolidaram em 2010, com o início do projeto BRJATROPHA, financiado pela Agência Brasileira de Inovação (Finep/MCTI). Na época, a oleaginosa despontava como promissora fonte de matéria-prima para biodiesel, mas os plantios frustraram os produtores, uma vez que não havia cultivares ou qualquer pacote tecnológico estabelecido.

A primeira ação da Embrapa foi, então,  identificar que pesquisas sobre o pinhão-manso já haviam sido feitas ou estavam em andamento no Brasil. Contudo, foram encontrados poucos trabalhos. "O principal problema era que quase não havia conhecimento sobre diversidade genética e, sem isso, é impossível desenvolver cultivares", ressalta Laviola.

A partir desse diagnóstico, constatou-se a necessidade de constituir um Banco Ativo de Germoplasma. Uma equipe coletou amostras em diversas regiões do Brasil que deram origem às 2 mil plantas que estão hoje no BAG, em Planaltina/DF. A partir deste ponto, iniciou-se o longo trabalho de caracterização desse BAG. Produção de grãos e óleo, toxidez, resistência a doenças, altura de planta – dados como esses foram medidos cotidianamente em cada planta, nas diferentes fases de crescimento. Paralelamente, nos laboratórios, os cientistas investigaram a genética da espécie. "Como o pinhão-manso é um cultura perene, precisamos completar as avaliações em um ciclo de pelo menos cinco anos para poder selecionar as plantas com as melhores características para o melhoramento genético", explica o pesquisador.

Das 2 mil árvores avaliadas, 40 foram escolhidas para serem as genitoras da primeira geração de mudas melhoradas da Embrapa que, agora, estão no campo. O horizonte é de mais um longo período de trabalho. Essas plantas também terão de ser avaliadas no campo por pelo menos cinco anos para que se possa identificar uma ou mais cultivares que atendam às necessidades dos produtores rurais.

Ainda que, ao fim desse período, obtenham-se boas variedades, mais alguns anos de testes em campo serão necessários para validá-las em regiões com condições de solo e clima diferentes do Distrito Federal. "Mesmo que cheguemos a uma boa cultivar com esses primeiros cruzamentos, a expectativa é que o trabalho continue para gerar materiais cada vez mais produtivos", observa Laviola.

Para a segunda geração de plantas melhoradas, o caminho deve ser um pouco mais curto. Os cientistas vão caracterizar geneticamente as plantas geradas pelos cruzamentos por meio de um grande número de marcadores moleculares. Com esses dados em mãos, a expectativa é reduzir o tempo de testes em campo com o uso da seleção genômica. "Estamos utilizando as melhores técnicas para obter as melhores cultivares no menor tempo", destaca o pesquisador.

Além da caracterização da diversidade genética, os estudos promovidos pela rede de pesquisa que compõe o projeto BRJatropha geraram conhecimentos que permitiram definir um sistema de produção preliminar para o pinhão-manso. Além disso, também houve avanços nos métodos para destoxificação e aproveitamento da torta dessa espécie, que é fundamental para viabilizar economicamente a cultura.

A expectativa é que a produção de óleo de pinhão-manso atenda a duas cadeias produtivas principais: a do biodiesel e a do bioquerosene de aviação. O primeiro está no mercado brasileiro desde 2005. A produção das usinas no ano passado foi de quase 3 milhões de m³. Ao fim deste ano, esse número deve subir, já que a mistura do biocombustível ao diesel fóssil subiu de 5% para 6% e passará a ser de 7% em 1º de novembro. O setor espera chegar a 20% de adição, o que é possível sem modificação nos motores. Isso exigirá mais fontes de óleo e gordura, principal matéria-prima para as indústrias.

Além disso, está nascendo o mercado de biocombustíveis para aviões, impulsionado pelo compromisso da Associação Internacional de Transportes de Área (IATA) de reduzir em 50% as emissões de gases de efeito estufa até 2050, em relação aos níveis de 2002. As matérias-primas possíveis para esse produto vão de lixo urbano a açúcares e gorduras. Entre estas últimas, o óleo de pinhão-manso tem chamado a atenção porque a composição do óleo favorece a obtenção de bioquerosene. Em 2013, o consumo de querosene de aviação no Brasil superou os 7 milhões de m³.

Vivian Chies (MTb 42.643/SP)
Embrapa Agroenergia

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