20/11/14 |   Biodiversidade

Seminário discute avanços da agricultura indígena no Acre

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Foto: Priscila Viudes

Priscila Viudes - Reunião de avaliação do projeto

Reunião de avaliação do projeto

Na última quinta-feira (20/11), pesquisadores, lideranças indígenas, técnicos e representantes de intituições ligadas à pesquisa e ao apoio agrícola, meio ambiente e questão indígena participaram do Seminário "Etnoconhecimento e agrobiodiversidade entre os Kaxinawá de Nova Olinda", na sede da Embrapa Acre, das 9h às 16h. O objetivo do evento foi discutir resultados práticos de pesquisas desenvolvidas com foco no fortalecimento da agricultura na Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda, do Alto Rio Envira, município de Feijó (AC).

Os Kaxinawá de Nova Olinda têm forte tradição agrícola, principalmente com as culturas da banana e mandioca, alimentos bastante consumidos nas aldeias, mas, a ausência de critérios importantes para o desenvolvimento das atividades agrícolas afetava o desempenho produtivo dos plantios e restringia a oferta de alimentos nas aldeias. Com o objetivo de fortalecer a agricultura indígena, desde 2008 a Embrapa, em parceria com diversas instituições, desenvolve pesquisas com populações indígenas do Alto Rio Envira. Na Terra Indígena (TI) Kaxinawá de Nova Olinda, há três anos uma equipe multidisciplinar de pesquisadores atua em diversas frentes de trabalho, por meio do projeto "Etnoconhecimento e Agrobiodiversidade entre os Kaxinawá de Nova Olinda", com foco na melhoria dos sistemas agrícolas para aumento e diversificação da produção e da oferta de alimentos em quatro aldeias (Boa Vista, Nova Olinda, Formoso e Novo Segredo).

O ponto de partida para a pesquisa foi a troca de conhecimentos entre pesquisadores e indígenas. "Todo o trabalho se baseou na valorização da agrobiodiversidade local e na inserção de novas culturas, especialmente cultivares de mandioca mais adaptadas às condições de clima e solo das aldeias e  variedades de banana resistentes a doenças, principalmente a sigatoka-negra, e na incorporação de novas espécies frutíferas como maracujá, mamão e laranja", explica o pesquisador Moacir Haverroth, responsável pelas pesquisas da Embrapa com populaçõe i ndígenas no Acre.

A ampliação dos plantios cultivados nas aldeias, a implantação de novos cultivos em uma nova formatação dos roçados agrícolas (mais próximos das aldeias), a incorporação de técnicas de manejo simples e de fácil adoção, como o espaçamento adequado entre as plantas, entre outras ações desenvolvidas com a participação direta dos indígenas, contribuíram para aumentar a capacidade produtiva das culturas, resultando em melhoria da produção tanto em termos de quantidade como de qualidade.

Para Haverroth, desde o início da pesquisa muita coisa mudou nas comunidades indígenas, principalmente na organização social das aldeias. "Estes aspectos não causam um impacto direto,  em um primeiro momento, quando se chega às aldeias, mas quando interagimos com os moradores, é visível o ânimo dessas pessoas em relação a novas perspectivas de desenvolvimento para a Terra Indígena", afirma Haverroth.

A partir das pesquisas desenvolvidas e da sinergia deste trabalho com outros projetos desenvolvidos por instituições governamentais como Seaprof, Instituito de Mudanças Clímáticas, Funtac e Ufac, além da parceria com organizações indígenas como a Associação dos Seringueiros, Produtores e Artesãos Kaxinawa de Nova Olinda (Aspankno), os indígena estão apostando na elaboração de seus próprios projetos.

Dentre os resultados do projeto, o trabalho com a fruticultura realizado com a participação dos agentes agroflorestais indígenas (AAFI), chama a atenção tanto pelo aumento da produção, a partir de variedades frutíferas resistentes a doenças, como em relação à qualidade das mudas produzidas nas aldeias. Cada comunidade produziu o seu viveiro de mudas utilizando sementes de espécies nativas da região e de plantas ainda não cultivadas nas aldeias, cedidas pelo projeto e, a partir daí, desenvolveu um modelo de SAF adequado às suas necessidades.

Os kaxinawá de Nova Olinda também aprenderam a identificar pragas e doenças comuns nos roçados, além de trocarem conhecimentos com os pesquisadores sobre medidas para monitoramento e controle desses problemas. Esses conhecimentos trouxeram mudanças na forma de lidar com a cultura da banana e com os roçados novos implantados com mudas produzidas nas próprias comunidades.

As ações para fortalecer a cultura da mandioca envolveram ainda melhorias nas condições de produção de farinha nas aldeias. A parceria com o governo do Estado, por meio da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), possibilitou a implantação de três casas de farinha, em um modelo adaptado à realidade kaxinawá. Essas estruturas, construídas em conjunto com os moradores, são compartilhadas pelas famílias.

A famílias indígenas também aprenderam novas práticas agrícolas e passaram a conhecer e aproveitar melhor as potencialidades produtivas dos solos e da floresta. Junto com os pesquisadores, realizaram um mapeamento detalhado dos solos e da cobertura da vegetação local, trabalho que revelou características específicas da Terra Indígena e novos conhecimentos também para a Ciência. Estes conhecimentos serão reunidos em uma publicação bilíngue (na língua Kaxinawá e em português) – em fase de organização –  e vão orientar o Plano de Gestão Territorial e Ambiental da Terra Indígena (PGTI), a partir de 2015.

As pesquisas também impulsionaram a organização social das aldeias. As famílias passaram a investir na produção artesanal como alternativa de renda e fortalecimento da cultura Kaxinawá. Para Haverroth, este tipo de pesquisa participativa é importante para o empoderamento das comunidades. "As alternativas tecnológicas para fortalecimento da agricultura indígena, além de contribuir para diversificar e aumentar a produção, proporcionar segurança alimentar e renda para as famílias nas aldeias, também ajudam a reforçar o modo de vida local, que uso da terra e da floresta a práticas de conservação ambiental, perspectiva que contribui para a autonomia social, econômica e cultural desse povo", afirma.

 

Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre

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