01/04/17 |   Melhoramento genético

BRS Mediterrânea, BRS Leila e BRS Lélia: Avanços no programa de melhoramento genético de alface da Embrapa

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Foto: Fabio Suinaga

Fabio Suinaga - Canteiro de BRS Leila

Canteiro de BRS Leila

As receitas de salada podem até agregar outros componentes da família das olerícolas folhosas, como rúcula, agrião, couve, espinafre, chicória, entre outras, mas a presença da alface é garantida, tendo em vista que reina absoluta quanto ao cultivo e consumo dessas hortaliças, também chamadas popularmente de verduras. Justamente por sua importância dentro da cadeia produtiva e na preferência dos apreciadores das verdinhas, um projeto de pesquisa vem sendo desenvolvido pela Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) com linhas de ação que visam disponibilizar para o produtor materiais com resistência a doenças e proporcionar para o consumidor uma maior diversidade de opções entre os tipos de alface existentes no mercado. 

Relativamente recentes em meio às hortaliças que constam no portfólio de produtos da Embrapa, os trabalhos com a alface foram impulsionados a partir da aprovação do projeto “Melhoramento Genético de Alface: desenvolvimento de linhagens do tipo americana e crespa com resistência ao calor e ao mosaico provocado por LMV”, em 2010. Por se tratar de um produto sem histórico de pesquisas anteriores na Unidade, a primeira fase do projeto foi dedicada a testes que envolveram cruzamento de parentais que apresentavam determinadas características, a exemplo de comportamentos frente a estresses bióticos – relacionados a doenças de folhosas – e abióticos, referentes a reações quanto a altas temperaturas.

Com os caminhos delineados e o saldo positivo de três cultivares de alface verde crespa, frutos dos primeiros trabalhos de melhoramento genético com essa espécie, a segunda fase do projeto ampliou o raio de atividades empreendidas durante a primeira etapa. De acordo com o pesquisador Fábio Suinaga, que coordena o programa de melhoramento genético de alface, “além de seguir testando os materiais que têm
apresentado características promissoras de resistência à fusariose, causada pelo fungo Fusarium oxysporum f.sp lactucae e ao nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica), doenças importantes das folhosas, estamos investindo no desenvolvimento de outros tipos varietais de alface”. 

Enquanto essas linhagens seguem na fase de testes para confirmação de determinadas características consideradas promissoras, as pioneiras já começam a dar os primeiros passos para suas respectivas inserções na cadeia produtiva de alface. 

Novas cultivares 

Entre as três novas cultivares de alface verde crespa, a BRS Leila e a BRS Mediterrânea saíram na frente: estão com os certificados de registro e proteção emitidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e aguardam a liberação pela Embrapa Produtos e Mercado (SPM) do contrato de licenciamento da Agrocinco, empresa produtora de sementes e parceira no programa de melhoramento genético de alface.

A BRS Lélia é a próxima cultivar a seguir os passos das duas primeiras: já possui o registro do MAPA e aguarda o certificado de proteção, cuja emissão está prevista para ocorrer ainda nesse semestre. 

Com relação às duas cultivares já protegidas, as qualificações superaram as expectativas da equipe envolvida com o projeto. A BRS Mediterrânea, por exemplo, apresentou crescimento vegetativo bastante vigoroso – em alguns testes de validação realizados na região do Distrito Federal, a cultivar mostrou uma precocidade de sete dias ante a cultivar padrão, a mais plantada na região, uma qualidade avaliada pelo pesquisador como “extremamente interessante”.

“A característica de colheita antecipada representa uma grande diferença, em se tratando de uma cultura de produção constante, porque possibilita maior rendimento numa mesma  unidade de área”, acentua Suinaga, para quem “isso pode parecer pouco, mas, com relação à cultura, é bastante importante”. 

Ao acrescentar que essa antecipação faz com que a cultivar “escape” do estresse provocado pelo calor, ele aponta outras características atrativas da BRS Mediterrânea a exemplo da sua alta resistência ao patógeno de nematoide-das-galhas. Outra importante resistência diz respeito à fusariose, patógeno que vem adquirindo ano a ano cada vez mais importância na cultura da alface. “Estamos efetuando testes para medir a resistência também ao mosaico da alface (Lettuce Mosaic Virus, LMV) e finalizando outros com relação ao mildio (Bremia lactuae), um fungo com muitas raças. Os trabalhos relacionados ao mosaico são realizados em áreas dos campos experimentais da Unidade; já aqueles com o míldio estão sendo conduzidos em parceria com a professora Leila Trevisan, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus Jaboticabal, que vem avaliando a suscetibilidade da cultivar a esse fungo”, descreve o pesquisador.

BRS Leila

No quesito qualidade, a cultivar BRS Leila também está bem posicionada. Ela possui boa tolerância ao calor, característica que em tempos de mudanças climáticas pode fazer a diferença com relação a outras cultivares – em experimento onde foi testada juntamente com outros genótipos, mostrou-se uma das mais tolerantes ao estresse provocado por altas temperaturas, isto é, acima de 30°C. Essa faceta da cultivar, segundo o pesquisador, resulta em florescimento mais tardio, uma característica paralela de avaliação de tolerância ao calor, o chamado estresse abiótico. Ao destacar que, diferentemente da BRS Mediterrânea, essa cultivar demora mais a atingir o ponto de desenvolvimento reprodutivo, Suinaga observa que esse diferencial é positivo na medida em que pode ajudar o produtor a escalonar sua produção.

“Para um produto que é consumido fresco, se existe uma demanda diária o produtor pode suprir com a BRS Mediterrânea, e pode planejar a colheita com a BRS Leila – a primeira ficaria com a parte emergencial, enquanto a segunda entraria na fase de planejamento, já que fica em ponto de colheita no campo por mais tempo”.

Próximos passos

A escolha da alface crespa como primeiro material a ser trabalhado, durante a primeira fase do projeto, não foi aleatória, e levou-se em consideração a sua liderança em termos de consumo – cerca de 60% do mercado – e os resultados obtidos podem ser considerados bastante satisfatórios, haja vista as novas três cultivares desenvolvidas e bem-sucedidas nos testes de avaliação e nas etapas de validação.

Nessa segunda fase, as metas são mais ambiciosas e também mais desafiadoras, na opinião do pesquisador, que não disfarça o seu entusiasmo pela folhosa e sua diversidade de tipos. “A alface é uma espécie fantástica para se trabalhar, tanto do ponto de vista biológico como nutricional, e abre um leque de oportunidades que dificilmente é encontrado em outras espécies de hortaliças”, ressalta Suinaga.

E trabalho não vai faltar, já que além da crespa a lista contempla os tipos americana, romana, roxa e mimosa. Ao figurar em segunda posição no ranking dos tipos mais consumidos, a americana vem merecendo destaque dentro do programa de melhoramento genético da alface. Com diferença no sabor e, principalmente, na aparência, a alface tipo americana exibe um formato que lembra o repolho, e essas características requerem, por sua vez, passos diferenciados dos seguidos com a alface crespa.

Crocante, devido a uma maior espessura de sua folha, fator que contribui para uma maior durabilidade pós-colheita, a americana é preferida das grandes redes do tipo fast food, justamente por essa característica: ao ser processada para compor os sanduíches e hambúrgueres, ela conserva sua crocância, devido a uma maior resistência térmica, e ao seu bom aspecto, ao contrário de algumas variedades de alface crespa.

E com relação à preferência dos consumidores? Essa questão, conforme Suinaga, envolve algumas variantes que vêm sendo discutidas desde a primeira etapa do projeto. “Uma variedade de alface roxa, por exemplo, que não é cultivada no Distrito Federal, é a preferida no Rio de Janeiro. Um outro padrão varietal, também de cor roxa, mas com a folha mais fina, ocupa o primeiro lugar na ordem de preferência em São Paulo e na região do Distrito Federal, embora seu aproveitamento pós-colheita seja apenas de dois dias”. 

Essa dicotomia de ganhos e perdas não foi desprezada nos trabalhos de melhoramento de alface, cujos resultados poderiam ser incluídos entre os casos de sucesso dentro da carteira de projetos da Embrapa. 

“Estamos desenvolvendo uma nova cultivar de alface, resultante do cruzamento entre uma roxa e uma americana, e onde foram selecionadas as principais características de cada uma, conforme a preferência manifestada pelo consumidor: roxa, com uma certa crocância, e com uma vida útil de geladeira maior, antes de dois dias no máximo para quatro dias”, comemora o pesquisador, acrescentando que esse resultado mostra que a Embrapa Hortaliças já dispõe de tecnologia ligada a essas variedades, e que “contribui para a longevidade do programa e estimula ainda mais os colegas que compartilham as atividades referentes ao projeto”.

Anelise Macedo (MTB 2.749/DF)
Embrapa Hortaliças

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