SustenAgro disponibiliza estudos sobre sustentabilidade da cana
SustenAgro disponibiliza estudos sobre sustentabilidade da cana
Entre os dias 12 a 13 de novembro de 2014 aconteceu o 2o Simpósio da Ciência do Agronegócio, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Promovido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócio (Cepan) com o apoio da CAPES, teve como tema central foram as "Cadeias Globais de Suprimento no Agronegócio".
Pesquisadores do Projeto SustenAgro, que busca desenvolver uma nova metodologia para avaliar a sustentabilidade dos sistemas de produção, inicialmente, de cana-de-açúcar e soja, liderado pela Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) apresentaram vários trabalhos importantes para setor canavieiro nesse simpósio.
O SustenAgro prevê o levantamento de dados dos sistemas de produção mais representativos dessas culturas nas regiões e microrregiões do Centro Sul do Brasil. O projeto visa equacionar as principais questões referentes a esses sistemas produtivos, de modo a possibilitar a utilização racional dos recursos naturais para suprir as necessidades presentes e garantir o suprimento das gerações futuras.
Um dos trabalhos, de Kátia de Jesus, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente e Sérgio Torquato, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA (Tietê, SP), fez uma reflexão sobre a evolução da mecanização da colheita de cana-de-açúcar em São Paulo.
O sistema produtivo da cana-de-açúcar possui particularidades agronômicas com repercussões relevantes sobre o manejo da cultura. Com o advento do Protocolo Agroambiental firmado entre Governo e setor (Unica e Orplana) e as vantagens associadas à mecanização, o setor canavieiro paulista iniciou uma jornada de mudança de um sistema de produção substituindo o uso da queima, como forma de facilitar a colheita da cana-de-açúcar, para um sistema de produção com uso de máquinas. Este processo trouxe várias consequências e impactos, tanto negativos quanto positivos para o setor. Este estudo discutiu algumas implicações da rápida mecanização da colheita da cana-de-açúcar em São Paulo e o seu impacto na região de Piracicaba, SP.
Foram aplicados questionários nas 28 usinas e solicitadas também informações sobre a produtividade das colhedoras referente a safra 2010/11, foi observado que a média de produtividade por colhedora foi de 549,7 ton/dia.
Os pesquisadores concluíram que a mudança nos sistemas de produção canavieiro, especialmente em São Paulo, ampliou o número de máquinas no campo e com isso trouxe ganhos ambientais, especialmente em função da diminuição das queimadas. Por outro lado, o aumento no tráfego de máquinas no campo, pode causar a compactação do solo. Essas mudanças são alvo de estudos em diversas instituições de pesquisa do Estado de São Paulo, avaliando os impactos e buscando soluções para mitigar as externalidades negativas desta mudança no sistema de produção.
Outro trabalho apresentado pelos pesquisadores abordou o tema da bioeletricidade a partir da biomassa da cana-de-açúcar na área de abrangência do Pólo Regional Centro Sul/APTA, Piracicaba.
A bioeletricidade, gerada a partir do bagaço, um resíduo da produção de etanol e açúcar, vem sendo trabalhada dentro das usinas há algum tempo, um processo de conversão que visava atender as necessidades da própria usina, a chamada ‘Cogeração'. Atualmente essa forma bem sucedida de geração de energia encontra novas possibilidades, dentre elas, o fornecimento de energia elétrica, cuja participação vem sendo realizada pelos leilões de energia elétrica alternativos. Foram utilizados dados de 163 usinas signatárias ao Protocolo Agroambiental. A tecnologia predominante nas usinas brasileiras é de ciclo a vapor com turbinas de contrapressão.
Em resumo, o fator preponderante para que ocorra uma produção de bioeletricidade com preços competitivos é a necessidade de investimento em tecnologias para melhoria da eficiência energética na geração. Há a necessidade de incentivos que melhorem o desempenho do setor com relação à inovação tecnológica.
O estudo sobre reflexos do Protocolo Agroambiental Paulista na evolução do revestimento dos tanques e canais de vinhaça, de Guilherme da Silva, Kátia de Jesus e Sérgio Torquato também estudou a vinhaça, resíduos do processamento da cana-de-açúcar. O foco foi avaliar a evolução do revestimento dos tanques e canais de deposição e transporte de vinhaça nas usinas da região de São José do Rio Preto e Araçatuba a partir dos levantamentos realizados para o Protocolo Agroambiental.
Considerado um resíduo pelas destilarias, com taxa média de produção de 11, 836 litros para cada litro de álcool produzido, foi realizada a análise da produção de vinhaça das 10 usinas utilizadas no presente estudo. Cerca de cem vezes mais poluente quando comparado ao esgoto doméstico a vinhaça é rica em matéria orgânica, possui elevada demanda bioquímica de oxigênio, com grande potencial para a fertirrigação. A observação dos dados mostrou a grande variação dos índices em cada safra.
Katia e Torquato também apresentaram o levantamento do consumo de água para processamento da cana-de-açúcar na região de abrangência do Polo Centro –Sul, Piracicaba, SP. A região de Piracicaba na safra 2012/13 apresentou 327 mil hectares de área plantada. Os benefícios ambientais gerados com a eliminação da queima da cana para fins de colheita, também repercutem na diminuição do consumo de água pelas usinas. Com a introdução do novo sistema de colheita não é mais necessário, via de regra, o uso da água para a lavagem da cana-de-açúcar. No levantamento realizado foi possível constatar que as 14 usinas desta região consomem em média 1,97 mm de água por tonelada de cana-de-açúcar. Esse trabalho apresenta os dados de precipitação pluviométrica da estação climatológica da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento – UPD (antiga estação experimental de Tietê) da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA, no período de 2009 a 2014.
A cultura da cana-de-açúcar possui grande potencial de geração de água, pois em sua estrutura vegetal a cana é composta geralmente por 1/3 de água, 1/3 de fibras e 1/3 de sacarose. Essa água que é extraída do esmagamento da cana entra no processo de transformação da matéria-prima.
No futuro as usinas de cana-de-açúcar serão produtoras de água a partir da introdução de tecnologias adequadas para extrair e separar essa água durante o processo.
A inovação e seus impactos no setor canavieiro paulista foram tratados em outro trabalho apresentado pelos autores: o caso dos fornecedores de cana-de-açúcar da região de Piracicaba, SP, abordou a necessidade de um novo arranjo na forma de disposição, gestão e traçado dos talhões para que o maquinário possa operar com eficiência, com a eliminação da queima.
Os primeiros resultados obtidos junto aos fornecedores mostraram que há uma grande necessidade de apoio e conhecimento para que os resultados sejam favoráveis e tragam ganhos ambientais, técnicos, sociais e econômicos. Desse modo, estudar o funcionamento e características dos sistemas de produção de cana-de-açúcar no estado de São Paulo e as mudanças necessárias para os novos ambientes de produção pode ser a chave para entender com maior clareza os impactos das inovações eminentes para o setor e com isso definir instrumentos para apoiá-lo de modo mais efetivo.
Desse modo, o objetivo foi discutir a inovação da mecanização da colheita da cana-de-açúcar e a decorrente alteração na gestão no campo e busca elucidar o processo de mudança no sistema de produção colheita manual versus a colheita mecânica e os impactos desta mudança para os fornecedores de cana da região de Piracicaba, São Paulo.
Os pesquisadores concluíram que o processo resultou em benefícios ambientais, com a redução da queima da cana, e alterou a estrutura de gestão com novas técnicas e equipamentos que demandam novas funções e conhecimento diferenciado para a operação das máquinas. Por outro lado, evidenciou alguns impactos técnicos e agronômicos na lavoura, impactando na rebrota e acarretando redução na longevidade do canavial que estão sendo amenizados no decorrer do processo de aprendizagem da tecnologia.
O estudo das questões e desafios dos indicadores de sustentabilidade por especialistas do setor sucroalcooleiro do Estado de São Paulo, foi o foco do trabalho de Jonatan Sacramento, Bruno de Oliveira, Katia de Jesus e Sérgio Torquato, no qual foram analisadas qualitativamente as percepções de especialistas do setor sucroalcooleiro sobre indicadores de sustentabilidade dos sistemas de produção de cana-de-açúcar do estado de São Paulo, com base nos 166 respondentes dos questionários de consulta remota formulados de acordo com a Técnica Delphi no projeto SustentaCana, desenvolvido na Embrapa Meio Ambiente. A análise dos dados foi realizada com emprego da técnica de ‘Análise do Discurso' e foi relacionada à percepção dos indicadores os dados que remetiam a identificação dos especialistas, como área de formação e atuação, assim como a localização das referidas instituições, a fim de contextualizá-los e melhor compreender as respostas e comentários ao questionário.
Os indicadores apresentados nos questionários foram agrupados em seis dimensões: ambiental, social, agrícola-industrial, produtos e subprodutos, tecnológica e política e os comentários representam as dúvidas, sugestões e percepções que os/as respondentes tinham sobre cada indicador analisado e que foram coletados através do próprio questionário em espaço reservado para esse fim.
Nos comentários da dimensão ambiental o ponto que mais chamou atenção dizia respeito às dificuldades de se adaptar às normas e regulamentações de órgãos como a Cetesb, dado o caráter pouco claro de algumas definições técnicas. Tais comentários partiram de engenheiros/as que atuam na agroindústria.
Na dimensão social, os respondentes diziam ser necessário relativizar os indicadores, como nível de escolaridade, poder de compra e índice de formalidade dos/as trabalhadores do setor que, segundo eles, variaria a depender da região do país. A necessidade de contextualizar esses indicadores não aparecia como fator de invalidação dos mesmos, mas antes, como potencializador de sua capacidade de representatividade.
Já os comentários da dimensão Agrícola-Industrial versavam sobre a interface com a dimensão ambiental. Um engenheiro agrícola, afirmou que a rotação de cultura deveria respeitar as especificidades do solo em questão. Em interface com a dimensão social, um especialista em sistemas de produção apontava a necessidade de políticas públicas para realocação justa dos/as trabalhadores/as dispensados/as do corte a partir da mecanização crescente da colheita.
Os comentários da dimensão de Produtos e Sub-produtos e a dimensão Tecnológica podem ser resumidos na afirmação dos respondentes sobre a necessidade de maiores investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento na área de biocombustíveis. A partir de então, segundo os mesmos, seria necessário também analisar a necessidade de infraestrutura do mercado nacional e internacional a respeito da demanda dessas tecnologias.
A pesquisadora Katia de Jesus, líder do Projeto SustenAgro, agradece aos coautores que colaboraram com essas pesquisas: Sérgio Torquato; Catiana Zorzo e Bruno Oliveira (UFSCar/São Carlos e Embrapa Meio Ambiente), Jonatan Sacramento (Unicamp e Embrapa Meio Ambiente), Guilherme Silva (PUCC e Embrapa Meio Ambiente). Agradece também aos colaboradores dos estudos Jéssica Funari e Júlia Cabral (PUCC e Embrapa Meio Ambiente).
Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente
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