Alimentos biofortificados são produzidos na Borda Oeste do Pantanal
Alimentos biofortificados são produzidos na Borda Oeste do Pantanal
Foto: Nicoli Dichoff
Cultivares mais nutritivas chegam à lavoura do produtor e terminam na mesa do brasileiro
Toninho, ou Antônio da Rocha, é produtor rural há mais de 30 anos. Dono do sítio Sopé de Morro, localizado no assentamento Tamarineiro 1 – próximo à fronteira com a Bolívia em Corumbá, MS, Toninho trabalha com o programa de merenda escolar do município desde 2011, fornecendo produtos para alguns colégios. Para ter uma produção diferenciada nos próximos anos, o produtor conta que investiu em uma alternativa desenvolvida pela Embrapa: os alimentos biofortificados. "Quero ter um produto melhorado em termos de qualidade nutricional para ter um preço melhor, me estabelecendo dentro do programa e ampliando as escolas que eu posso atender", diz Toninho.
Os alimentos biofortificados possuem mais nutrientes (entre eles, ferro, zinco e vitamina A) e boas características agronômicas, como produtividade, resistência à seca e a doenças. Eles são criados a partir de cruzamentos convencionais, resultando em alimentos saborosos, macios e coloridos – o que atrai, inclusive, a preferência das crianças. As informações são do site da Rede Biofort (www.biofort.com.br). A rede reúne os projetos de biofortificação coordenados pela Embrapa, que atualmente envolvem mais de 150 profissionais em 11 estados do país com o objetivo de combater a "fome oculta" nas populações carentes – ou seja, a carência de micronutrientes necessários para uma dieta saudável.
Do laboratório ao campo
Para incluir esses alimentos na produção do sítio, o produtor Toninho plantou batata doce, milho e duas variedades de feijões biofortificados, BRS Pontal e BRS Cometa, em um campo de multiplicação de sementes este ano. Os feijões foram enviados pela Embrapa Milho e Sorgo, de Minas Gerais, para o Mato Grosso do Sul. Em Corumbá, José Aníbal Comastri Filho, chefe adjunto de transferência de tecnologia da Embrapa Pantanal, e Frederico Lisita, pesquisador da instituição, acompanharam o plantio, desenvolvimento, colheita e armazenamento das sementes. "Nós analisamos a produtividade, suscetibilidade a doenças, adaptação ao clima", diz Frederico. "Assim, podemos analisar o desenvolvimento das cultivares em diferentes assentamentos da região".
Apesar de 2014 ter sido um ano com chuvas irregulares, Toninho conta que os pés de feijão cresceram saudáveis e produtivos. "Esse Pontal, por exemplo, me deu uma qualidade de grão excelente em termos de tamanho e robustez", diz o produtor. Segundo o pesquisador Frederico, "praticamente, não ocorreram doenças aqui. Isso é muito importante porque mostra que as variedades são resistentes e adaptadas à nossa região". A ideia deu tão certo que Toninho espera repeti-la no ano que vem. "Vamos guardar todas as sementes que colhemos para plantar de novo em 2015. A partir daí, a gente deve fornecê-las aos produtores interessados nas variedades. Também queremos abastecer a rede pública escolar de Corumbá e Ladário com esses alimentos", conta o produtor.
Transferência de tecnologia
José Heitor Vasconcellos, analista da Embrapa Milho e Sorgo, ressalta o cenário favorável ao plantio dos biofortificados para pessoas como Toninho. "Como os produtores estão com alimentos de melhor qualidade e as prefeituras têm que comprar 30% do material da merenda da agricultura familiar, isso se torna um poder de barganha grande", afirma. Para que histórias como essa se repitam, o trabalho da Rede Biofort é desenvolvido há cerca de 10 anos no Brasil. Entre os próximos objetivos da Rede estão o desenvolvimento de novas cultivares, o aumento do número de pessoas beneficiadas por esses alimentos e a continuação da transferência de tecnologia para as diversas regiões brasileiras, além de outros países da América Latina e África.
O pesquisador Frederico Lisita fala da importância da iniciativa para os pequenos produtores do Mato Grosso do Sul. "A gente deseja ampliar essa parceria e trazer mais variedades para oferecer opções de plantio aos agricultores locais", conta. José Heitor completa: "a quantidade de pessoas que têm alimentação com deficiência no mundo é muito grande. A ausência dos micronutrientes provoca anemia, baixa resistência do organismo, problemas de visão. A nossa ideia é levar esses alimentos para ajudar o produtor, as famílias e escolas que não têm condições de ter uma alimentação saudável. Estamos introduzindo esses produtos na mesa do brasileiro para fazer com que esses problemas sejam minimizados", finaliza Heitor.
Nicoli Dichoff (MTb 3252/SC)
Embrapa Pantanal
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