06/01/15 |   Produção vegetal

Artigo - Citricultura no estado de Sergipe

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Foto: Edson Patto

Edson Patto - Área experimental de copas e porta-enxertos em Umbaúba - SE

Área experimental de copas e porta-enxertos em Umbaúba - SE

Carlos Roberto Martins – Pesquisador da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS)
Adenir Vieira Teodoro – Pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE)
Hélio Wilson L. de Carvalho – Pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE)

*Artigo originalmente publicado na revista Citricultura Atual, editada pelo Grupo de Consultores em Citros

 

A região Nordeste do Brasil responde por aproximadamente 10% da produção nacional de citros, constituindo-se na segunda maior região produtora do país, com 121.498 hectares de área colhida, produzindo 1.858.781 milhão de toneladas de frutos, com rendimento médio de 15,3 toneladas/hectare (IBGE, 2014).  Os estados da Bahia e de Sergipe se destacam com 90% de toda área plantada do Nordeste, ou seja, com 68,8 mil e 57,6 mil hectares plantados, respectivamente.

Em nível nacional, Sergipe é considerado o quarto produtor de citros, com uma produção de aproximadamente 840 mil toneladas de frutos, sendo a maior quantidade de laranjas com 822 mil toneladas em 56,3 mil hectares, seguidos de limão (limas ácidas) com 11 mil toneladas em 857 hectares e tangerinas com 6,5 mil toneladas em 420 hectares (IBGE, 2014).

A cultura do citros se destaca como um dos principais produtos agrícolas de Sergipe, ao redor de 3,0% do PIB, sendo o suco o principal produto exportado. Os pomares estão concentrados em aproximadamente 11.000 estabelecimentos agropecuários, a maioria de base familiar, localizados predominantemente no Sul do estado, na região dos Tabuleiros Costeiros, ocupando uma área de 5,4 mil Km2, compreendendo os municípios de Arauá, Boquim, Cristinápolis, Estância, Indiaroba, Itaporanga d´ajuda, Itabaianinha (principal produtor), Lagarto, Pedrinhas, Riachão do Dantas, Salgado, Tomar do Geru, Umbaúba e Santa Luzia do Itanhy. A área contígua da região Norte da Bahia e o pólo citrícola do Sul de Sergipe, constituem possivelmente a maior área cultivada de toda a citricultura tropical do mundo. Dentre as propriedades citrícolas de Sergipe, mais de 80% possuem área inferior a 10 ha, e o vínculo de milhares de pessoas direta e indiretamente ao setor, dimensionando a importância  socioeconômico do setor.

Apesar do destaque no cenário citrícola brasileiro, a produção de citros em Sergipe passa por períodos de dificuldades, atribuídos majoritariamente à saturação de mercado, períodos de seca, produtividade e longevidade dos pomares, que acabam por descapitalizar principalmente os pequenos produtores, que perdem poder de investimento em tecnologia de produção. A média de produtividade de citros na região esta próxima das 14t/ha, contudo encontram-se pomares conduzidos com tecnologias adequadas, sem irrigação, produzindo entre 35 a 40 toneladas por hectare e de uma vida útil que varia de 12-20 anos.

O regime climático da área citrícola de Sergipe caracteriza-se por um período de chuvas entre abril e setembro e de um período seco entre os meses de outubro e março (1200 mm), apresentando a temperatura média de 24°C e umidade relativa do ar ao redor de 80%. Os pomares estão concentrados nos solos dos tabuleiros costeiros, predominando os Latossolos Amarelos e o Argissolos Amarelos, caracterizados pela presença de camadas coesas (adensadas), localizadas quase sempre entre 20 e 60 cm de profundidade. E ainda, em geral, cultivados em solos arenosos, pobres em nutrientes e em matéria orgânica. Um aspecto positivo é a topografia plana à suavemente ondulada, facilitando tratos culturais como a mecanização. A altitude média em que os pomares estão implantados fica em torno de 150 metros.

A presença de camadas coesas na subsuperfície do solo, associada ao regime climático característico dessa região, com período seco e com chuvas concentradas, constituem num desafio constante à produção, exigindo práticas de manejo específicas que amenizem os efeitos do movimento da água e ar no solo, com reflexos também no aprofundamento do sistema radicular das plantas. Essas camadas, quando o solo está seco, são extremamente duras, e influenciam diretamente a produtividade dos pomares e qualidade dos frutos, bem como, a redução da vida útil das plantas. Algumas práticas recomendadas para superar estas condições são utilizadas por uma minoria de produtores: porta-enxertos adaptados a estas condições edafoclimáticas, cobertura verde da linha de plantio durante a estação chuvosa, como estratégia para melhoria das características da zona de exploração radicular, minimização de práticas de revolvimento do solo a fim de evitar a perda de águas, e uso de coberturas vegetais nas entrelinhas dos pomares.

Alguns produtores vêm optando pelo uso de semeadura direta "plantio direto" de porta-enxertos no local definitivo do pomar como forma de propiciar o melhor desenvolvimento radicular.

A citricultura sergipana sustenta-se na sua quase totalidade em plantios sem irrigação, além da consorciação dos pomares com culturas intercalares de ciclo curto, como: feijão, milho, amendoim, mandioca, aipim, fumo, caupi, batata-doce, inhame, abóbora, melancia ou fruteiras de ciclo relativamente curto, a exemplo do abacaxi, mamão ou maracujá. Embora esta prática seja tradicional entre os pequenos e médios agricultores produtores, o consorciamento dos pomares com culturas como o milho vem sendo paulatinamente adotado por grandes produtores, sobretudo, do litoral Norte do Estado da Bahia e Sul do Estado de Sergipe. A consorciação é uma prática indispensável à medida que o custo de produção vem aumentando frequentemente e a remuneração com a produção de citros oscilando de uma safra para outra.

Outro aspecto importante da citricultura sergipana é a presença de viveiros selecionados (ambientes telados) específicos para a produção de mudas, que até pouco tempo atrás, os produtores conseguiam suas mudas pela metade do valor subsidiadas pelo governo estadual.

Os pomares sergipanos, com poucas exceções, baseiam-se no uso da combinação de laranjeira ‘Pêra' (Citrus sinensis) e limoeiro ‘Cravo' (C. limonia) como porta-enxerto, situação comum aos Tabuleiros Costeiros baianos e sergipanos, verificando-se em Sergipe também o emprego do limoeiro ‘Rugoso' (C. jambhiri), muito utilizado no passado, mas aos poucos substituído pelo limoeiro ‘Cravo'. Embora estas combinações tenham alcançado resultados significativos em termos produtivos, a concentração dos pomares sergipanos, quase que exclusivamente, em uma única variedade copa de laranja, demonstra uma vulnerabilidade considerável em termos sustentáveis. Adicionalmente, a colheita é concentrada em determinadas épocas, o que ocasiona dificuldades de encontrar mão-de-obra para colheita além dos baixos preços em função da concentração da produção, refletindo em problemas econômicos na condução do pomar.

Percebe-se um crescimento e uma exigência pelos produtores de novas cultivares copa e porta-enxertos adaptados às condições edofoclimáticas da região. Algumas variedades copas são promissoras, surgindo como alternativas para a região como, por exemplo, as variedades de laranjeira doce, a limeira ácida Tahiti (C. latifolia Tanaka), tangerineiras (C. reticulata Blanco), tangeleiro Piemonte [C. clementina x (C. reticulata x C. sinensis)]. Para porta-enxertos, vem sendo incluídos e disponibilizados comercialmente como novas opções à tangerineira Sunki Tropical e os Citrandarins Índio, Riverside e Sandiego. A Estação Experimental de Umbaúba da Embrapa Tabuleiros Costeiros vem se destacando nos estudos de novas combinações copa e porta-enxerto de citros, com mais de 300 porta-enxertos sendo pesquisados. Essa pesquisa é uma parceria entre as unidades da Embrapa Tabuleiros Costeiros e a Embrapa Mandioca e Fruticultura.

A citricultura sergipana caracteriza-se ainda por apresentar um sistema de cultivo diversificado compondo um arranjo produtivo amplo, composto por produtores de insumos, frutas e subprodutos agroindustriais, beneficiadores de laranjas e comerciantes. Praticamente toda a região Nordeste, com destaque para os estados de Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte, é abastecida pela laranja produzida na região Sul de Sergipe e áreas adjacentes ao Norte da Bahia. A maioria dos citricultores comercializa suas frutas via atravessadores/intermediários (algumas são pequenas empresas beneficiadoras), seguidos da indústria de suco e venda direta em mercados e feiras livres. As principais empresas localizam-se na região Sul de Sergipe, destacando-se, nos últimos anos, a Maratá e a Tropfruit localizadas no município de Estância e a Sumo, baseada em Boquim.

No que se refere à exportação de suco concentrado congelado de laranja, desde 2009 o mercado vinha apresentando uma evolução na comercialização de US$ 60,7 milhões em 2009, US$ 76,6 milhões em 2010, US$ 122,4 milhões em 2011, e US$ 149 milhões em 2012, com exceção de 2013 que apresentou o valor de US$ 84,5 milhões (MDIC, 2014). O principal destino do suco sergipano é a Holanda, além de outros mercados como o da Irlanda, o Reino Unido, a Turquia, a Polônia, entre outros.

Com relação aos problemas fitossanitários que ocorrem nos pomares, no que diz respeito às doenças, destacam-se a CVC (clorose variegada dos citros), a estrelinha ou PFC (podridão floral), o declínio, a gomose, a mancha marrom de alternaria, a mancha graxa, o feltro e tristeza dos citros. Dentre as principais pragas de importância econômica na região, cita-se o ácaro-da-ferrugem, as cochonilhas ortézia e escama-farinha ,a larva-minadora , o pulgão-preto e cigarrinhas vetoras da CVC. Em termos de pragas em potencial, o psilídeo é encontrado nos pomares de Sergipe, no entanto a doença transmitida por esse inseto (Huanglongbing ou HLB), ainda não foi relatada no estado. Adicionalmente, a mosca-negra foi recentemente notificada em algumas cidades do estado, e preocupa técnicos e agricultores por sua capacidade de dispersão e potencial de praga.  

A produção citrícola sergipana vem enfrentando dificuldades para manter os patamares de produção alcançados nas décadas anteriores. A baixa produtividade está associada principalmente à incidência de problemas fitossanitários, com significativos reflexos nos custos de produção; ao nível tecnológico empregado nos pomares, a falta de investimento, e à estreita base genética das plantas. Apesar de ser um importante produtor de citros no Brasil, o estado de Sergipe apresenta considerado déficit tecnológico em todas as etapas da produção, colheita, beneficiamento e transporte; fatores que interferem na vantagem competitiva da comercialização. Há um concenso entres os agentes da cadeia citricola do estado, de que um dos principais desafios da citricultura sergipana  é a diversificação de variedades copas e porta-enxertos, dado à fragiligilidade fitotecnica que representa tal concetração. De uma maneira geral os produtores atribuem o baixo investimento na cultura em função dos preços pagos pela fruta.

Referências

EMDAGRO. Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe. http://www.emdagro.se.gov.br/. Acesso em 14 de agosto de 2014.
IBGE. Produção Agrícola Municipal. Disponível em: <htttp:www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisa>. Acesso em: 10 agosto. 2014.
MDIC. Ministério do desenvolvimento industria e comercio exterior. Disponivel em <htpp://aliceweb.desenvolvimento.gov.br> acesso em 22 de agosto, 2014.
RECITROS. Rede Sergipana de pesquisa em Citricultura. III Seminário da Citricultura Sergipana, Boquim-SE, em 2014. Anais do evento. (CD). 2014.

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