14/06/17 |   Produção animal  Transferência de Tecnologia  ILPF

Sistema de ILP São Francisco é lançado em Goiás

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Foto: Breno Lobato

Breno Lobato - Cerca de 120 pessoas participaram do Dia de Campo de lançamento do Sistema ILP São Francisco

Cerca de 120 pessoas participaram do Dia de Campo de lançamento do Sistema ILP São Francisco

Realizado na última sexta-feira (9) na Fazenda Limeira, em Quirinópolis, no Sudoeste goiano, o Dia de Campo de lançamento do Sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) São Francisco contou com a participação de cerca de 120 pessoas, entre produtores, técnicos, estudantes e representantes de entidades da região. O evento foi promovido pela Prefeitura Municipal local, com o apoio da Rede de Fomento ILPF (da qual a Embrapa participa), do Instituto Federal Goiano (IF Goiano), da Emater-GO e das empresas Sementes Limeira e Sementes Moeda.

Validado em 2016 pela Embrapa Cerrados (DF), em parceria com o IF Goiano, a Emater-GO e a Sementes Moeda em fazendas de Quirinópolis, o novo sistema de ILP consiste na sobressemeadura de forrageira do gênero Panicum de porte alto sobre lavoura de soja ou milho em final de ciclo. Se manejado corretamente, o sistema auxilia na recuperação de pastagens degradadas, garantindo forragem em quantidade e qualidade para os rebanhos bovinos no período seco do ano no Brasil Central e palhada suficiente para o sistema plantio direto das culturas de verão subsequentes.

O Sistema São Francisco, como os demais sistemas de ILP, oferece benefícios tanto para agricultores como para pecuaristas, entre eles a melhoria das propriedades químicas do solo, melhoria da qualidade de cobertura do solo para sistemas de plantio direto, redução da ocorrência de pragas e doenças, maior produtividade das plantas e dos animais e a redução de riscos financeiros pela diversificação das atividades.

Na abertura do Dia de Campo, o secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Quirinópolis, João Batista dos Passos, representou o prefeito Gilmar Alves. “Estamos dando hoje mais um passo no processo de consolidação da ILP, que nos dá condições de dobrar a produção na região”, afirmou. “Este momento de lançamento do Sistema São Francisco, que tem concepção local, com esse conjunto de parceiros, é de muita satisfação para todos nós, haja vista as melhorias que serão proporcionadas para o ambiente produtivo agropecuário brasileiro”, disse o supervisor do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias da Embrapa Cerrados, Chang das Estrelas Wilches, que representou a chefia da Unidade.

Também estiveram presentes representantes do IF Goiano (Eduardo Severiano, do Campus Rio Verde), da Emater-GO (Sérgio Oliveira, gerente da Regional Rio Paranaíba), da Sementes Moeda (David Campos) e da Sementes Limeira (Ricardo Guimarães). “Estamos muito felizes de hoje vermos a realização de um trabalho que começou há três anos e a multiplicação dessa ideia”, disse David Campos, incentivador do sistema.

Benefícios da integração

Os participantes acompanharam apresentações em três estações técnicas. Na primeira, o pesquisador Lourival Vilela, da Embrapa Cerrados, falou sobre sistemas de Integração Lavoura-Pecuária como alternativa de intensificação sustentável do uso da terra em áreas já abertas para a agropecuária, com maior eficiência. O pesquisador apontou os diversos benefícios proporcionados pela ILP, como a intensificação dos fatores de produção (trabalho, capital e terra), verticalização do sistema de produção, melhoria dos atributos químicos e físicos do solo com maior ciclagem de nutrientes, aumento da produtividade da soja ou do feijão após a braquiária e diminuição das plantas daninhas.

Segundo Vilela, os dois focos da ILP são a recuperação de áreas de pastagens degradadas e a cobertura de solo em lavouras de grãos. “70% das pastagens (no Brasil) têm taxa de lotação abaixo de 1 UA*/ha, o que é muito pouco para o que temos de tecnologia hoje. Se dobrássemos essa taxa de lotação, conseguiríamos manter o mesmo rebanho, liberando 74 milhões de hectares para outras atividades”, explicou.

Ele citou exemplos de fazendas em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e no Oeste da Bahia que adotaram a ILP e obtiveram maiores taxas de lotação nas pastagens, mais produtividade na lavoura de grãos e incremento na renda bruta, mesmo em solos arenosos. Um dos casos de sucesso é o da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), que em 2016 produziu, dentro desse sistema, 78,3 sc/ha de soja, cerca de 190 sc/ha de milho e 22 mil arrobas de boi.

Vilela também explicou o funcionamento do Sistema São Francisco, desenvolvido em Quirinópolis, município que produz cerca de 40% das sementes de Panicum comercializadas no País. “Nosso foco foi trabalhar com os pecuaristas com pastos de baixa produtividade”, disse, apontando estudos sobre épocas de semeadura e arranjo de plantas e subdoses de herbicidas para mitigar a competição entre as plantas nos consórcios. No caso da soja, a sobressemeadura deve ser realizada, em média, no estágio 5,4, quando 50% a 70% de vagens estão totalmente formadas.

Foram monitoradas sete fazendas, que obtiveram entre 1.500 kg/ha e 4.500 kg/ha de matéria seca de forragem. Numa das propriedades, 138 animais pesando em média 459 kg foram terminados em 50 hectares, recebendo apenas sal mineral, e obtiveram ganho médio diário de 507 gramas durante 75 dias.

Alternativas de sobressemeadura

A segunda estação abordou as diferentes possibilidades de sobressemeadura do capim nas lavouras de grãos no sistema. Diêgo Martins, coordenador técnico da Aerotek, abordou as vantagens do uso de avião agrícola, as tecnologias e os equipamentos envolvidos na sobressemeadura via aérea, bem como a evolução dos trabalhos realizados nas últimas cinco safras em propriedades rurais da região de Quirinópolis, onde a empresa está sediada.

Já o engenheiro José Hajime Takahasi, diretor da Ikeda, de Marília (SP), e o representante comercial da empresa em Uberaba (MG), José Bighetti, apresentaram detalhes do funcionamento do implemento da linha MS, uma sobressemeadora desenvolvida em parceria com a Embrapa Cerrados. A sobressemeadora pode ser acoplada a motocicletas, tratores ou barras de pulverização para realizar a sobressemeadura via terrestre da forrageira, além da distribuição de fertilizantes e corretivos de solo.

Experiências de produtores

Na última estação, três produtores rurais que já adotavam de forma experimental o Sistema São Francisco – Jorge Goulart, Ricardo Guimarães, proprietário da Fazenda Limeira e da Sementes Limeira, e Heinz Guderian Jacintho – fizeram depoimentos sobre suas experiências com a modalidade de ILP, acompanhados pelo pesquisador João Kluthcouski, também da Embrapa Cerrados, que, junto com Jacintho, concebeu o Sistema São Francisco. Eles também fizeram um bate-papo com os participantes sobre o uso do sistema no contexto produtivo da região.

Entusiasta do sistema, Goulart está utilizando o São Francisco pelo segundo ano para alimentar vacas de leite e animais de recria. Ele realizou a sobressemeadura da forrageira na lavoura de soja por avião. “Quando comecei, a produção era de 500 litros de leite/dia, passando para 800 litros/dia com as vacas no capim e apenas uma suplementação no cocho. Fiquei praticamente 90 dias sem gastar com volumoso”, lembrou, acrescentando que o investimento se limitou à compra da semente do capim e ao serviço de aviação agrícola.

Já Ricardo Guimarães, que produz de sementes de forrageiras na Fazenda Limeira, acoplou a sobressemeadora a barras de pulverização para realizar a sobressemeadura de capim Mombaça, cultivar de Panicum maximum da Embrapa, no final do ciclo da soja. Ele falou sobre o manejo do sistema na propriedade, que tem permitido a engorda dos animais a baixo custo, sem comprometer a produção de sementes forrageiras. A semeadura da soja na propriedade é feita entre os dias 10 e 15 de janeiro e a colheita entre 10 e 12 de fevereiro. No final de abril, o produtor já está colhendo sementes do capim. O gado entra na pastagem em junho, após a estação de monta dos animais.

Para a engorda, Guimarães trabalha com três vacas por hectare, que são abatidas em até 85 dias. “Normalmente, os animais chegam pesando 10,5@ a 11@ e saem com 13,8@ a 14@, então conseguimos ganho de pouco mais de 3,5@ por animal ou pouco mais de 10@/ha. Digamos que 0,5@/ha é o custo do suplemento proteico por animal e 3@/ha é o que você ganha com matéria barata, que é o pasto da sobressemeadura. E em setembro ainda tem capim verde no pasto”, explicou. Uma semana após as primeiras chuvas, em outubro, o capim é dessecado, dando origem à palhada para o plantio direto da safra seguinte de soja.

“A integração veio reunir todos os ganhos tecnológicos num sistema apenas: o animal melhorado, a forrageira melhorada, a soja tropical, o sistema plantio direto e safra-safrinha. Com esse modelo, que já está em cerca de 12 milhões de hectares no Brasil, chegamos a colher quatro safras em 12 meses”, destacou o pesquisador João Kluthcouski.

* Cada UA/ha corresponde a um animal adulto com 450 kg de peso vivo ou total por hectare.

Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados

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