27/06/17 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Pesquisadores lançam diagnóstico rápido da estrutura do solo

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Foto: Adoildo da Silva Melo

Adoildo da Silva Melo -

A Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a Embrapa, apoiadas por diversas instituições, desenvolveram um método inovador de avaliação visual da estrutura superficial dos solos tropicais e subtropicais, denominado Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES). Com resultados obtidos diretamente no campo e sem a necessidade de avaliações laboratoriais, o DRES permitirá, de forma muito mais rápida, a tomada de decisão sobre práticas de manejo para melhorar a qualidade dos solos.

O método será lançado durante a Reunião de Pesquisa de Soja, nesta quarta-feira, dia 28 de junho, às 9h, no Hotel Sumatra, em Londrina (PR). As informações sobre a metodologia estão reunidas na publicação Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES) , editada pela Embrapa e disponível gratuitamente para download. Também foram produzidos vídeos tutoriais com orientação passo a passo do diagnóstico que serão publicados na página temática sobre o DRES.

 

 

A estrutura do solo é componente essencial da fertilidade, porque influencia o comportamento físico, químico e biológico do solo, dando sustentação à produtividade agrícola. Até agora no Brasil, a estrutura das camadas superficiais do solo vinha sendo avaliada por meio de métodos quantitativos que não a caracterizavam precisamente e eram de difícil aplicação e interpretação em condições de campo. “O DRES foi desenvolvido para atender as especificidades de monitoramento da qualidade do solo brasileiro de forma rápida e fácil. Nosso intuito é facilitar o diagnóstico e melhorar os critérios para a tomada de decisão sobre a adoção de práticas de manejo que melhorem a qualidade estrutural do solo”, avalia o pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi.

Segundo o pesquisador, os dados de pesquisa mostram, por exemplo, que a escarificação do solo quando realizada sem necessidade, além de ampliar o custo de produção, pode levar à perda de produtividade. “Por isso, temos a expectativa de que o DRES contribua para melhorar a avaliação da qualidade física do solo e sirva para dar suporte ao processo de tomada de decisão quanto ao manejo mais adequado do solo”, diz.

O método
Debiasi explica que o DRES é um método de avaliação visual da estrutura do solo que leva em conta a qualidade da agregação do solo, a partir de amostras dos primeiros 25 cm. Nas amostras, são observados o tamanho e a forma dos agregados e torrões, presença ou não de compactação ou outra modalidade de degradação do solo, forma e orientação das fissurações, rugosidade das faces de ruptura, resistência à ruptura, distribuição e aspecto do sistema radicular, e evidências de atividade biológica. A partir desses critérios, atribui-se uma pontuação de 1 a 6, na qual ”6” é indicativo de melhor condição estrutural, e “1” representa o solo totalmente degradado.

De acordo com o pesquisador, a coleta de amostras deverá ser realizada em diferentes glebas da propriedade e subdivididas de acordo com histórico da área e o tipo de solo e de textura. “O processo é bem simples, porque o produtor, ao olhar para a amostra, já consegue identificar se o solo está degradado ou não”, explica Debiasi. “O DRES identifica os parâmetros mais importantes de diagnóstico e indica o melhor manejo a ser adotado para a propriedade”, diz Debiasi.

Para o pesquisador, o DRES possibilita a técnicos e produtores rurais o reconhecimento dos efeitos dos diferentes sistemas de produção nas condições estruturais do solo. O método também auxilia no processo de tomada de decisão em relação às ações de correção ou melhoria da qualidade do manejo do solo de áreas agrícolas, com ênfase para aquelas cultivadas em sistema de plantio direto (SPD). “É importante destacar ainda que esta metodologia auxiliará na identificação dos manejos mais adequados para as diferentes situações e poderá ser empregada para identificar as práticas que melhor conservam o solo e a água”, destaca.

O DRES vem sendo validado, com sucesso, no Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul, ou seja, em regiões de solos argilosos a solos arenosos, em diferentes sistemas de produção. Concomitantemente ao desenvolvimento do método, Debiasi explica que já se iniciou o processo de treinamento para técnicos do Paraná e do Mato Grosso do Sul.

Testes em campo
Em 2016, aproximadamente 80 agrônomos da cooperativa agrícola Cocamar foram treinados na metodologia DRES para aplicar o método em propriedades no norte e noroeste do Paraná, Vale do Paranapanema (SP) e Mato Grosso do Sul. De acordo com o gerente técnico da Cocamar, Leandro Teixeira, o DRES foi aplicado tanto em solos argilosos (presentes nas regiões tradicionais da soja) quanto em propriedades com solos arenosos, a exemplo da região do Arenito Cauiá, onde predomina a produção de soja em integração com as pastagens. “O método é muito simples de ser aplicado e se mostrou eficiente para auxiliar na tomada de decisão a campo. Até então tínhamos carência de uma ferramenta como o DRES que nos direcionasse para a condução de um bom manejo do solo”, diz Teixeira.

Para ilustrar a eficiência da metodologia, Teixeira deu como exemplo o caso de um produtor assistido pela cooperativa que pretendia revolver o solo, sem nenhum critério. O agrônomo da cooperativa, em conjunto com o produtor, aplicou o DRES na propriedade e, com base no diagnóstico, decidiram por descartar o revolvimento do solo. “Ao não fazer a operação de mexer no solo desnecessariamente, o produtor reduziu custos e ainda evitou outros impactos negativos como uma possível compactação do solo, o favorecimento à erosão; a redução de matéria orgânica e também uma interferência negativa na atividade microbiana. “Na minha opinião, o DRES auxiliou na tomada de uma decisão importante, que reduziu o custo do produtor e também minimizou outros impactos negativos”, comemora.

Desenvolvimento
O DRES é um dos resultados da Rede de Pesquisa Solo Vivo. Entre as instituições que participaram do desenvolvimento do método estão: a Universidade Estadual de Londrina (UEL), a Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação (FEBRAPDP), a Embrapa Solos (RJ), Embrapa Soja (PR), Embrapa Trigo (RS) e Embrapa Agropecuária Oeste (MS), com apoio da Itaipu Binacional, cofinanciadora da rede.

Apesar de metodologicamente simples, o DRES está respaldado por uma ampla base científica e usa conceitos do Método do Perfil Cultural (1960), desenvolvido na França, além de alguns procedimentos metodológicos da Avaliação Visual da Estrutura do Solo (Visual Evaluation of Soil Structure - VESS), criado na Escócia.  A metodologia francesa de Perfil Cultural trouxe grande contribuição ao DRES, mas não pôde ser integralmente adotada por ser um método demorado para ser aplicada por produtores.

Equipes de pesquisadores da UEL vêm pesquisando metodologias visuais de análise de solo há mais de 20 anos. O professor daquela Universidade Ricardo Ralisch é um dos coordenadores dessa linha de pesquisa na Universidade. Seus conhecimentos acumulados serviram de embasamento para o desenvolvimento do DRES.

O DRES utilizou ainda alguns dos procedimentos metodológicos do VESS. “Os primeiros testes no Brasil mostraram que essas metodologias não se adaptavam ao nosso objetivo. Por isso, desenvolvemos o DRES, que é um híbrido desses procedimentos existentes, com melhor ajuste, considerando a realidade produtiva do Brasil”, explica Debiasi.
 

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