04/07/17 |   Fisheries and aquaculture

Panorama econômico da tilápia é divulgado em seminário da Embrapa

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Photo: Jefferson Christofoletti

Jefferson Christofoletti -

Muitos debates e troca de informações no Seminário “Demandas e tendências da tilapicultura no Brasil”, ocorrido na Embrapa Pesca e Aquicultura entre os dias 27 a 29 de junho. Representantes de diversos elos da cadeia da tilápia estavam presentes, tais como associações, produtores, indústrias e instituições de pesquisa. O objetivo do evento foi compartilhar os resultados do projeto “Indicadores Socioeconômicos do Desempenho da Produção de Tilápia no Brasil” e discutir demandas e tendências da espécie no país. O seminário do peixe mais cultivado no país foi transmitido nos dois dias pelo YouTube e finalizado em uma mesa-redonda dentro de um flutuante, no rio Tocantins.

O evento iniciou com a palestra da líder do projeto, a analista Renata Melon Barroso, que abordou o tema “Panorama da tilapicultura no Brasil – tendências e desafios”. Na ocasião, ela revelou os dados de seus estudos nos principais polos de cultivo da espécie do país: Paraná, Rondônia, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul e Ceará.

Um dos gargalos identificados no polo cearense é o preço da ração, que chega com aumento de 34%. “Quando esse insumo é vendido a granel custa R$ 0,89, com uma economia de 39%. O problema é o transporte, que faz com que ela se quebre ao longo do caminho”, avaliou Renata. Os polos juntos consomem 300 mil toneladas de ração.

Além do preço do insumo, outro desafio enfrentado pelo Ceará é a escassez hídrica, que vem reduzido cada vez mais o nível dos reservatórios.

Segundo dados do IBGE DE 2015, o Brasil produz 400 milhões de alevinos, mas são insuficientes para o mercado interno.  Esse é um dos gargalos da cadeia da tilápia, ao lado da necessidade de melhoramento genético. “Não se intensifica produção com peixe selvagem, é necessário décadas de amansamento e eliminação de estresse animal”, ressaltou ela.

Outro problema apontado na pesquisa foi a falta de inspeção sanitária na tilápia processada – cuja maior parte é realizada em apenas seis frigoríficos. O desafio ambiental como consequência da intensificação produtiva também foi identificado no projeto, assim como necessidade de avanços na sanidade animal.

A líder do projeto também destacou os avanços tecnológicos da tilapicultura, tais como rações de alto desempenho, vacinas, tanques-rede de grande volume, software de manejo e gestão, além de equipamentos que automatizam ou mecanizam a produção. No entanto, o emprego de toda essa tecnologia é realizado de forma bastante heterogênea.  “Vale ressaltar porém que o uso de tecnologias por si só não garante grandes produtividades. O fundamental é calcular a produção, mas poucos analisam os custos detalhadamente”, afirmou Renata. Em muitos casos, entram nessa conta o combate ao mexilhão dourado – uma praga que afeta muitos polos produtores.

O projeto também identificou que é necessário distribuir melhor o valor do peixe na cadeia. O quilo custa R$ 14, o filé, R$ 35, mas o produtor no Brasil ganha em média R$ 4, 25 (U$ 1.29). Na China esse valor chega a R$ 1.59.

Ceará e Paraná: situação contrastante

Com um sistema fortemente calcado no cooperativismo, o Paraná lidera a produção de tilápia, com 73.353 mil toneladas (dados de 2015), segundo levantamento do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab). Desde 2010 a produção teve um salto de crescimento em função da industrialização voltada para a piscicultura e do subsídio do estado para compra de equipamentos.

No entanto, a falta ade chuvas, a proliferação de produtores despreparados e fábricas de ração inadequadas também constituem-se ameaças ao futuro da tilápia no estado. “Precisamos de soluções para cultivo de tilápia num cenário de estiagem”, alerta Barreto.

Outro problema do Paraná, segundo ele, é a falta de regulamentação no setor, que faz com que haja um risco de “canibalismo”. “Há muitos frigoríficos na mesma região. Só nos polos pesqueiros são 14 empresas, fora as de fundo de quintal”, descreve o extensionista.

Tal cenário contrasta com o Ceará. O estado nordestino que era um polo promissor de piscicultura agora sofre com a estiagem. Com 35 mil hectares disponíveis para criação de peixes e considerando uma produção de dez quilos por metro cúbico, o estado chegaria a 5 mil toneladas de pescado em 2020.

Só que não.

Levantamento com 123 produtores em 30 municípios, identificou que um dos grandes entraves da região é a questão hídrica. Sem hidrelétricas, a produção é concentrada em açudes. “O índice pluviométrico no litoral é bom, mas no sertão é baixíssimo e sofremos também com o mexilhão dourado e poluição da água”, lamenta Antônio da Costa Albuquerque Filho, secretário executivo da Associação Cearense de Aquicultores (Aceaq).

Ele testemunhou a ascensão e queda da produção da tilápia, hoje restrita a apenas duas áreas:  Orós, que concentra pequenos produtores, e Castanhão, que abriga os médios e grandes piscicultores.

 Até 2014 a produção teve aumentos sucessivos, mas a partir desse ano, com a falta de chuva, a produção começou a cair. Assim, a Agência Nacional de Águas (ANA) passou para a o governo do estado a responsabilidade de concessão de outorgas e outros sistemas de cultivo foram adotados, como viveiros escavados. “A criação de tilápia tem muito o que aprender com a criação itensiva de camarão”, desabafa Filho.

Orós tem um história com a piscicultura que começou com a pesca para depois se transformar em cultivo. Numa região onde quase 20% dos produtores da região têm um rendimento até R$ 70, até o ano de 2000 o município era o principal polo pesqueiro da região, com 3 mil pescadores. Agora não passa de mil, entre pescadores e piscicultores. “A piscicultura proporcionou aumento de renda da população ribeirinha, que mora na barragem. Mas com o tempo a produção foi caindo e hoje fábricas de gelo trabalham muito aquém de sua capacidade”, lamenta Elda Fontinele Tahim pesquisadora do Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec). Segundo levantamento realizado por ela, entre 2014 e 2016 houve uma queda na produção de 61,6%.  

No alto e médio Jaguaribe, há cinco anos as chuvas estão abaixo da média. Ali a água é disputada entre piscicultores, agricultores e público urbano. A última esperança entre os moradores é a transposição do rio São Francisco. “Somado a isso, ainda há o problema de mortandade de peixes desde 2014, mas ainda não há estudos conclusivos para saber a causa exata. Sabe-se apenas que a poluição é um dos principais fatores”, ressalta Elda.  

Em contraste a esse cenário difícil, a tilapicultura no oeste paranaense está indo muito bem, obrigado. Com base em produção familiar, muitas vezes dividindo espaço com a pecuária e a agricultura, o cultivo de tilápia avança a passos largos. “Peixe está dando dinheiro. O retorno do capital investido é de no máximo cinco anos”, atesta Gelson Hein, técnico da Emater do Paraná. De acordo com ele, a produtividade vem crescendo de forma sólida há 30 anos. E onde era uma região baseada na suinocultura, hoje a criação de peixes é que desponta na economia. “Produtores contam com crédito bancário mais acessível, assistência técnica atuante, forte produção de alevinos, além de frigoríficos e abatedouros que dão estrutura à cadeia”, enumera Hein.

O mercado consumidor por sua vez tem grande potencial de expansão. O brasileiro compra 2 milhões de toneladas por ano, uma média de 10 quilos por habitante. No entanto, apesar da metade da produção nacional de pescado ser de tilápia, a espécie responde por apenas 16% do consumo nacional. “Há um mercado a ser conquistado de 500 mil toneladas de peixe, onde entram ações de marketing e promoção. Além de ações em mercados locais, com investimento em preço e qualidade,  frigoríficos, com oferta de cortes diferenciados e pré-prontos e supermercados”, explicou Renata. 

Pesquisa da Aceaq com consumidores cearenses revelou que 64,98% preferem o peixe fresco, 20,22% resfriado e apenas 14,80% congelado. O mercado é crescente e é possível encontrar tilápia viva e abatida na hora para consumo. Nas praias, há barracas onde são vendidas mais tilápia do que pargo – que é mais caro do que o peixe de água doce.  

A tilápia também é forte em Ilha Solteira e Santa Fé do Sul (SP). Levantamento realizado pela estudante de Agronomia e estagiária da Embrapa Pesca e Aquicultura, Daniela Matins, revelaram que é o tipo de peixe preferido por 45,35% dos consumidores. Nesse caso, o sabor é o grande diferencial entre 35,2% dos pesquisados. E assim como no Ceará, a grande maioria (58%) preferem na sua forma fresca e em forma de filé (85,11%).

Segundo Filho, ao menos parte da rejeição do mercado aos peixes congelados deve-se à manipulação de alguns frigoríficos. “Tem muitas empresas que inventam espécies de peixe, como abadejo, para levar o consumidor ao engano, fazendo-o pensar que está consumindo badejo. Ele também só vende uma vez, porque o consumidor nunca mais compra de novo”, ressalta.

Para Francisco Medeiros, diretor presidente da Associação Brasileira de Piscicultura Peixe Br, o Brasil precisa desenvolver um pacote tecnológico para o setor como possui para grãos e pecuária, por exemplo. “Estamos num momento de definição de protocolos de como produzir com tecnologia, como ocorre em outras áreas. O Brasil ainda está engatinhando”, resume.

Elisângela Santos (19.500/ MTb - RJ)
Embrapa Pesca e Aquicultura

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