13/02/15 |   Biodiversidade  Gestão ambiental e territorial

Cone Sul busca proteger a qualidade dos corpos de água

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Foto: Arquivo Inta

Arquivo Inta - Participantes do encontro

Participantes do encontro

Representantes do Uruguai, Paraguai, Chile, Brasil e Argentina estiveram em Buenos Aires na sede do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA - Argentina) para discutirem propostas para a proteção da qualidade dos corpos de água de interesse agropecuário no Cone Sul, em dezembro de 2014, em workshop do marco do Programa Cooperativo para o Desenvolvimento Tecnológico Agroalimentar e Agroindustrial do Cone Sul (PROCISUR), organizado pelos Programas Nacionais de Água, Solos, Recursos Naturais, Gestão Ambiental e Ecorregiões do INTA.


O evento teve por objetivos identificar os problemas de gestão - contaminação e uso, avaliar as ferramentas disponíveis a nível regional, revelar os grupos de investigação e iniciativas em rede de cooperação e gerar um plano de ação estratégico com os temas priorizados.


O programa incluiu apresentações orais que permitiram aos representantes de cada país atualizar as informações sobre o estado da arte, desafios e objetivos a respeito das bacias vinculadas ao uso agropecuário.


Foram priorizados os problemas em torno da qualidade, com identificação de parâmetros, além de discussão sobre as demandas e as limitantes científico/tecnológicos para cada região.
Estas dinâmicas permitiram a elaboração de uma agenda comum para 2015 para uma rede de trabalho, a constituição de um projeto regional, a redação de uma publicação científica sobre a qualidade da água e a preparação de uma outra para o público em geral, em especial gestores públicos.


Ricardo Figueiredo, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) falou sobre vários estudos sobre a qualidade de águas e sua relação com as atividades agropecuárias no Brasil.


Conforme Figueiredo, "há pesquisas científicas agropecuárias em bacias em todo o planeta avaliando alterações nas estruturas e funções de ecossistemas, incluindo os fluxos de nutrientes, carbono e água em decorrência do uso agrícola. Por exemplo, o USDA – onde o Centro de Informação sobre Qualidade de Água (WQIC), nos Estados Unidos, disponibiliza informação sobre qualidade de água e agricultura, reúne, organiza, comunica os achados científicos, metodologias educativas, além de questões de políticas públicas relacionadas à qualidade de água na agricultura. O pesquisador citou também como exemplo o Projeto Agropolis, na França, com equipe e unidades de pesquisa no tema ‘Água e Ambiente‘.

Porém, no Brasil, em geral, grupos e instituições da área agropecuária tratam dos recursos hídricos limitando-se às necessidades da atividade produtiva, o que resulta em avanços tecnológicos, mas não colaboram no conhecimento sobre impactos ambientais e a mitigação destes no âmbito rural.

Com a recente reversão de rumo devido à crescente demanda por uma agricultura sustentável e o desafio de produzir frente as mudanças climáticas e a crise hídrica no país, vários estudos hidrológicos em bacias considerando as ligações entre fluxos hídricos e biogeoquímicos com as práticas agropecuárias, assim como a prestação de serviços ambientais, estão sendo conduzidos em universidades em todas as regiões brasileiras, em parceria com ONGs, com a Agência Nacional das Águas (ANA) e com a Embrapa, além de outras instituições.

Assim, formou-se a rede de pesquisa AgroHidro, liderada pela Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), que desde 2011 congrega doze unidades de pesquisas da Embrapa, oito universidades brasileiras e pesquisadores de diversas instituições nacionais e internacionais, com o intuito de investigar questões e obter respostas seguras que possibilitem subsidiar a gestão dos recursos hídricos.

De fato, conforme projeções de diversos estudos, as mudanças climáticas deverão impactar a disponibilidade hídrica em bacias hidrográficas das diversas regiões brasileiras, inclusive indicam que poderão afetar a "geografia da produção agrícola nacional", o que acarretará, também, em alterações significativas no uso do solo no ambiente rural.

A avaliação da qualidade das águas superficiais em um país de dimensões continentais como o Brasil é dificultada pela ausência de redes estaduais de monitoramento em algumas Unidades da Federação e pela heterogeneidade das redes de monitoramento existentes no País (número de parâmetros analisados, frequência de coleta).

Com relação às águas subterrâneas, não existe uma rede nacional de monitoramento. As principais fontes de informação são, em geral, de caráter pontual e correspondem aos trabalhos desenvolvidos nas universidades e alguns estudos elaborados pelas secretarias estaduais de recursos hídricos.

Os efeitos do desmatamento e da agricultura sobre as características quali-quantitativas dos recursos hídricos já foram razoavelmente estudados, embora muitas lacunas permaneçam. Mas ainda é pouco conhecido o grau de mitigação sobre estes impactos quando são adotadas sistemas e técnicas agropecuárias conservacionistas (terraceamento, barraginhas, plantio direto, agricultura orgânica, IFLP, SAF) e manejo das terras, por meio de zoneamento econômico ecológico e conservação de vegetação natural (incluindo a ripária), os quais prestam inclusive serviços ambientais passíveis de remuneração em algumas inciativas isoladas.

Com a implantação de rede de monitoramento em 23 bacias experimentais em 17 regiões nos diferentes biomas, pretende-se obter um diagnóstico da situação dos recursos hídricos nessas bacias e gerar índices de Qualidade de Bacias Hidrográficas, além de um conjunto de indicadores de qualidade e quantidade para o monitoramento, inclusive com um Manual de Procedimentos.

Outro projeto que Figueiredo participa e destaca é o Solo Vivo, que busca o aprimoramento de processos para a qualificação do manejo de terras no centro-sul do Brasil, por meio do monitoramento da vazão, sedimentos e nutrientes em microbacias em diferentes situações de manejo agrícola em sistemas de plantio direto em seis regiões com diferentes tipos de solo. Esses dados poderão embasar calibração de modelos hidrológicos e validar avaliações mais expeditas de impactos (questionários respondidos pelos produtores).

Para finalizar o encontro, Carolina Sasal (do INTA) declarou que em geral, há informação sobre qualidade de água, de concentrações de nutrientes e pesticidas ou de indicadores biológicos, mas estas se encontram dispersas e fragmentadas, sem constituir-se em ferramenta de planificação ou como estratégia de mitigação. Além disso, há notáveis assimetrias de infraestrutura e de ações de pesquisa entre os países. A integração regional permitirá valorizar os atuais esforços individuais e encontrar soluções para a proteção dos recursos hídricos.

Adrián Andriulo (INTA) acredita que "a construção de redes de conhecimento sobre a qualidade da água de uso agropecuário permitirá avançar sobre essa situação, contar com alternativas tecnológicas regionais para conservar e recuperar a sua qualidade. O trabalho em rede nos permitirá conhecer, aplicar e compartilhar instrumentos de monitoramento e modelação, formular e apresentar projetos que possam contribuir para as políticas e acordos regionais."

Por outro lado, Daniel Prieto, da Aliança Nacional INTA na Plataforma Regional sobre Recursos Hídricos e Tecnologia de Riego (PROCISUR), explicou que pretende-se que este evento seja o início da construção de uma rede, onde se construam as bases de uma agenda de trabalho para os próximos anos que permita acordar uma metodologia de monitoramento e ações tecnológicas que atendam às urgentes demandas da temática.

No workshop também foram abordados, entre vários outros aspectos, a qualidade de recursos hídricos em bacias de interesse agropecuário, pelo INIA Uruguai, manejo e uso da água no Chile e no Paraguai, oportunidades, desafios e alguns problemas relacionados com a qualidade da água em bacias agrícolas da Argentina.

Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente

Contatos para a imprensa

Telefone: 19 3311 2608

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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