Construção do conhecimento agroecológico da cultura do algodão no Semiárido é tema de encontro na Paraíba
Construção do conhecimento agroecológico da cultura do algodão no Semiárido é tema de encontro na Paraíba
Um dia para debater sobre a sustentabilidade dos sistemas produtivos do Semiárido. Esse foi o mote da oficina de construção coletiva do conhecimento agroecológico sobre a cultura do algodão consorciada com culturas alimentares no Território do Cariri Paraibano, realizada no último dia 27, no Assentamento Zé Marcolino, Prata, PB. O encontro reuniu agricultores dos municípios da Prata, Monteiro e Juarez Távora, PB, profissionais da Embrapa, técnicos de extensão rural, professores, estudantes, autoridades do setor e lideranças comunitárias.
No período da manhã, os participantes visitaram a Unidade de Aprendizagem Tecnológica da cultura do algodão em consórcio com culturas alimentares - instalada no próprio Assentamento - e puderam intercambiar in loco, conhecimentos adquiridos sobre o manejo da cultura para melhorar o desempenho do sistema de produção, quais as culturas mais adaptadas à realidade local, como lidar com o bicudo do algodoeiro sem o uso de inseticidas químicos, entre outros.
“A estratégia do consórcio é garantir alimento para a família, alimento para os animais e uma fonte de renda extra. Cultivado em consórcios com as culturas alimentares, o algodão é dinheiro no bolso e é alimento para os animais”, afirmou o pesquisador da Embrapa Algodão, Marenilson Batista. Segundo o pesquisador, outro benefício dos consórcios agroecológicos é que a diversificação de culturas favorece o manejo de insetos pragas com os seus inimigos naturais. “Quando se pergunta aos agricultores porque não se planta algodão no Semiárido, a resposta é: por causa do bicudo. E aqui nós podemos ver que o bicudo não tem sido problema”, destaca.
O agricultor Ancelmo Coelho da Silva, dono da propriedade onde está instalada a Unidade de Aprendizagem Tecnológica, conta que vem cultivando o algodão agroecológico desde 2005 e o manejo do bicudo se dá por meio do monitoramento da plantação, coleta e destruição dos botões florais atacados pelo inseto e maior espaçamento entre as linhas do algodoeiro para que as larvas do inseto morram com a insolação. “É importante acompanhar sempre o desenvolvimento das plantas e apanhar os botões assim que eles caem, porque se deixar lá, em poucos dias tem uma explosão de bicudos e aí não dá mais para controlar”, diz o produtor. Ele vem experimentando diversas culturas em consórcio com o algodão e diz que cada agricultor deve adaptar as culturas escolhidas com a sua realidade. “Do consórcio vem o milho, o feijão, o gergelim, o amendoim, a melancia e o que o agricultor quiser plantar”, conta.
“O Seu Ancelmo é um agricultor experimentador por natureza. Ele está sempre buscando novidades para o seu roçado e em função da parceria de vários anos com a Embrapa, a propriedade dele foi escolhida para instalarmos a Unidade de Aprendizagem Tecnológica, onde nós estamos sempre observando como se comportam os consórcios. Quando essas Unidades cumprem sua função de aprendizagem tecnológica, sob o enfoque agroecológico, transformam-se em Unidades de Aprendizagem Pedagógica com intercâmbio de experiências e de saberes entre pesquisadores, agricultores, extensionistas, professores e estudantes no processo de formação e fortalecimento dos conhecimentos científico e popular”, afirma a pesquisadora da Embrapa Algodão Nair Arriel, líder do projeto Núcleo de Agroecologia para Construção de Modos de Vida Sustentáveis no Semiárido Brasileiro.
Viabilidade econômica
No período da tarde, foi realizada a avaliação econômica do sistema de produção do algodão consorciado com culturas alimentares da propriedade de Seu Ancelmo, numa área de dois hectares. Segundo o analista da área de socioeconomia da Embrapa Algodão, Joffre Kouri, a expectativa de preço do quilo da pluma do algodão agroecológico, com certificação, é de R$ 12,00. “Se esse preço for confirmado, a pluma do algodão vai contribuir com 40,34% da receita do sistema, e a Relação Benefício/Custo que mostra se a atividade é viável do ponto de vista econômico e financeiro é de 1,64, ou seja, para cada R$ 1,00 investido no sistema, o retorno é igual a R$ 1,64. Isso significa que, no caso do roçado do Seu Ancelmo, o sistema está operando com lucro, com uma taxa de retorno de 64 %”, explica.
Tomando como exemplo o roçado do Seu Anselmo, Joffre mostrou ainda que esse sistema de produção de algodão em consórcios com culturas alimentares é viável do ponto de vista econômico e financeiro, mesmo se for considerado o preço do algodão convencional branco em rama que é de R$ 1,20. Associando o custo de produção com o rendimento da lavoura e observando o preço de venda do produto, o resultado do indicador Relação Benefício/Custo é igual a 1,06, com uma taxa de retorno de 6 %. “Isso significa que mesmo considerando o preço mais baixo para o algodão o sistema pode operar com lucro”, destaca.
O analista ressalta que o produtor precisa saber o custo de produção do sistema para saber se ele traz algum retorno e o que pode ser feito para melhorar o desempenho produtivo do sistema. “O conhecimento do custo de produção permite a verificação de erros cometidos no processo de produção e a correção desses erros no planejamento das safras seguintes”, afirma Joffre.
Também foram discutidas questões como o processo de certificação participativa, através do qual as associações de produtores podem utilizar o selo de produtos orgânicos do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento sem os custos que são cobrados pelas empresas privadas de certificação orgânica; bem como, as etapas de beneficiamento e comercialização da pluma.
Outras duas oficinas semelhantes estão programadas para os meses de agosto e setembro, em Juarez Távora e Remígio, respectivamente. A pesquisadora Nair Arriel explica que as oficinas permitirão fazer uma comparação dos diferentes sistemas de cultivo do algodão consorciado. “Essas ações são importantes uma vez que cada localidade tem sua realidade de consórcios, culturas envolvidas, composição e densidade populacional (espaçamento e populações de plantas), pois os agricultores estão sempre atentos à geração de renda e de alimento tanto para seu próprio consumo como para o consumo de suas criações, aproveitando as culturas para produção de forragem”, declara.
Escola do campo
Durante o evento também foi apresentada a experiência da escola da comunidade – Escola da Terra Plínio Lemos - com a Educação do Campo e sua relação com a Unidade de Aprendizagem do algodão agroecológico como estratégia pedagógica.
A educadora Amanda Procópio conta que na Escola do Campo os estudantes aprendem com a realidade deles. “Enquanto a maioria das escolas prepara os estudantes para ir embora, a nossa escola luta para criar o amor pela terra. Aqui as crianças estão discutindo Biologia, Matemática, tudo dentro da lavoura do algodão”, relata. Eles estão acompanhando o desenvolvimento das plantas desde o plantio até a colheita e fazem anotações nos seus cadernos de campo.
“Aqui a gente aprende ao ar livre sobre o desenvolvimento do algodão, vê o que mudou, a gente mede, quando chega na escola faz um gráfico”, conta a estudante Deisianny Procópio da Silva (10 anos).
Edna Santos (MTb 01700/CE)
Embrapa Algodão
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