04/08/17 |   Agricultura familiar  Produção vegetal  Transferência de Tecnologia

Treinamento marca início da safra de pimenta-do-reino no Pará

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Foto: Drulla Brandão

Drulla Brandão - Pará é o maior produtor de pimenta-do-reino

Pará é o maior produtor de pimenta-do-reino

A safra da especiaria mais consumida no mundo, a pimenta-do-reino (Piper nigrum L.), recém-começou no Pará, onde tradicionalmente há plantações em quase todos os municípios. A movimentação de cata nos pimentais prossegue até dezembro, confirmando a liderança nacional do Pará na produção e exportação desse produto.

Mesmo em tempos de preços mais baixos que em anos anteriores, como agora - o preço do quilo da pimenta preta produzida no Pará despencou dos mais de R$ 30 em 2015 (em pleno ciclo da maior alta histórica) para os atuais R$ 9, a liquidez do produto é tanta, converte-se tão rapidamente em dinheiro vivo, que a pipericultura se mantém atraente aos produtores, em sua maioria agricultores familiares que encontram na cultura uma fonte de renda garantida e valiosa.

Liquidez certa de um lado, tempo de vida útil das pimenteiras incerto de outro. Costumeiramente atacados por doenças ainda não controláveis nessa cultura, mesmo com os avanços científicos já conquistados a longevidade dos pimentais continua bem abaixo do que se considera tecnicamente possível em plantas sadias. Pés que poderiam viver 12 anos, mais até, morrem precocemente, chegam até a metade desse tempo ou nem isso. Pimenteiras que vivem apenas três anos ou menos não são incomuns.

"Um pimental que possa alcançar 12 anos ou mais sempre será lucrativo ao longo do tempo, devido ao valor do produto e à liquidez que representa, mesmo existindo os ciclos periódicos de alta e baixa nos preços dessa commodity", revela o presidente da Associação Brasileira de Exportadores de Pimenta (Abep), Johannes Bunster Torrecillas.

A fim de minimizar as condições adversas da pipericultura, um conjunto de soluções tecnológicas alinhadas às exigências do mercado internacional está disponível aos produtores por recomendação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mais especificamente da Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA), considerada centro de referência em estudos com pimenta-do-reino. Os trabalhos iniciados há mais de 30 anos envolvem pesquisas de melhoramento genético e boas práticas de cultivo.

Produtores, pesquisadores e outros agentes da cadeia produtiva têm se unido em parcerias e projetos que possam culminar na adoção de práticas e tecnologias sustentáveis capazes de aquecer e expandir mais ainda o negócio da pimenta-do-reino. "Para facilitar o acesso da sociedade ao conhecimento já desenvolvido pela Embrapa, reunimos dez tecnologias que aumentam a produtividade e longevidade dos pimentais, melhoram a qualidade do produto final e barateiam o custo de produção, ao mesmo tempo em que evitam danos ambientais", informa o pesquisador da Embrapa Oriel Filgueira de Lemos, coordenador das pesquisas que embasam os eventos de transferência de tecnologia promovidos periodicamente pela instituição aos produtores e técnicos, como o curso e o dia de campo que reuniu 250 pessoas de 1º a 3 de agosto no município de Tomé-açu, onde a pipericultura nasceu no Pará.

Como próximo resultado da pesquisa genética desenvolvida pela Embrapa, o pesquisador anuncia para dentro de no máximo dois anos o lançamento de uma cultivar de pimenteira mais resistente a doenças. "Cultivares são variedades cultivadas, resultantes de pesquisa científica que procura incorporar na planta características desejáveis, como, por exemplo, maior resistência a doenças e maior produtividade, em sintonia com demandas específicas da cadeia produtiva", explica o pesquisador.

Estimativas de produção

Segundo o presidente da associação dos exportadores, Johannes Torrecillas, a produção brasileira em 2016 foi de 45 mil toneladas (abaixo, portanto, das 54 mil informadas pelo IBGE), assegurando a posição do Brasil entre os quatro países com maior produção e exportação de pimenta-do-reino no mundo. Torrecillas esclarece que as estimativas da Abep são baseadas nos dados concretos de exportação registrados pelo sistema Radar, da Receita Federal, e por isso diferem dos dados do IBGE.

"O produto final é quase todo exportado. Somente 10% ficam no País para o consumo interno, que historicamente flutua entre 5 mil e 7 mil toneladas", avalia Torrecilas. Ele afirma que o Pará continua responsável pela maior parte da produção brasileira (60% a 70%), seguido por Espírito Santo e Bahia, embora dados do IBGE divulgados recentemente como previsão para 2017 coloquem o Pará em segundo lugar este ano.

Torrecillas prevê que em 2017 o total da produção poderá alcançar 55 mil toneladas de pimenta-do-reino. "Digo isso com base no termômetro das exportações, nas estimativas de consumo interno, nos possíveis estoques remanescentes e, principalmente, na observação de que as safras do Pará e Espírito Santo serão maiores esse ano por conta do grande número de pimentais novos que foram plantados nos últimos anos de preço alto".

Treinamentos

Enquanto o curso (dias 1º e 2) em Tomé-açu foi dirigido a um grupo de técnicos, no auditório da Associação Agropecuária do Vale do Acará (Aava) no parque de exposições do município, o dia de campo (3) foi aberto ao público, na propriedade Michinori Konagano, um dos maiores produtores de pimenta-do-reino da região e presidente da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-açu (Camta), uma das instituições parceiras dos eventos promovidos pela Embrapa no município.

Entre os temas apresentados, dois se destacaram por serem novidade para a maioria dos pipericultores do Pará: o uso da gliricídia como tutor vivo em substituição aos estacões de madeira (recomendado por diminuir o custo de implantação e ser ambientalmente sustentável) e o sistema de irrigação em pimentais (este já muito disseminado no Espírito Santo, segundo maior produtor brasileiro). As palestras abordaram também questões relacionadas a solos (escolha de área, calagem, adubação e nutrição de plantas de pimenteira-do-reino), principais cultivares, produção de mudas e controle da fusariose com nim indiano, doenças causadas por fungos e vírus, insetos associados a cultivos de pimenteira-do-reino, colheita e beneficiamento, secagem e armazenamento. Dez especialistas vinculados à Embrapa, Emater-PA e Universidade Federal Rural da Amazônia integraram a equipe de palestrantes, além do produtor Michinori Konagano.

 

Segundo Konagano, que há 20 anos é um produtor parceiro da Embrapa, é necessário adotar novas formas de trabalhar a pipericultura, incorporando as boas práticas no cotidiano agrícola. "Precisamos mudar nossa consciência se quisermos que a pipericultura siga forte economicamente, ambientalmente correta e socialmente mais impactante. Sabemos que eventos de capacitação contribuem muito para essa conscientização e intercâmbio de experiências, por isso estamos sempre abertos a  apoiar realizações como estas propostas pela Embrapa", declara o produtor.

Cartilha gratuita

As tecnologias recomendadas no curso e vistas no campo estão explicadas na cartilha “Boas práticas agrícolas para aumento da produtividade e qualidade da pimenta-do-reino no Estado do Pará”, produzida pela Embrapa e disponível gratuitamente na internet como forma de socializar mais amplamente essas práticas e facilitar o acesso à informação e adoção das tecnologias por produtores e técnicos.

Além da Camta, os eventos em Tomé-açu tiveram apoio de parceiros como a Emater-PA, Aava, Sistema OCB-PA, Ceplac, Ufra, Adepará, Prefeitura Municipal de Tomé-açu (Semagri) e Sintraf. A programação é parte do projeto “Pesquisa e transferência de tecnologia para o cultivo sustentável da pimenteira-do-reino para a agricultura familiar”, financiado pelo Banco da Amazônia.

Izabel Drulla Brandão (MTb 1084/PR)
Embrapa Amazônia Oriental

Contatos para a imprensa

Telefone: (91) 3204 1173

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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