Área de Proteção Ambiental de Campinas recebe tecnologia da Embrapa para saneamento básico
Área de Proteção Ambiental de Campinas recebe tecnologia da Embrapa para saneamento básico
Foto: Luiz Granzotto
Região do Carlos Gomes é mais uma Área de Proteção Ambiental de Campinas que vai receber a tecnologia para saneamento básico.
Conhecido por abrigar um valioso patrimônio histórico e arquitetônico e ser área de conservação ambiental, o bairro Carlos Gomes, em Campinas (SP) recebe nesta sexta-feira (11) a primeira unidade da fossa séptica biodigestora, destinada ao tratamento do esgoto doméstico. A ação é resultado da parceria estabelecida entre a Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP), responsável pela tecnologia, e o Rotary Club de Campinas Norte.
A cooperação prevê atuação em duas linhas, promover a capacitação de agentes multiplicadores e implantação de sistemas para o saneamento básico rural.
A programação do dia de campo será desenvolvida de forma a apresentar conteúdo teórico no período da manhã e atividade prática, à tarde. Às 10h30, o analista da Embrapa Instrumentação, Carlos Renato Marmo, realiza palestra sobre o meio ambiente e fossa séptica biodigestora, na Associação dos Moradores Unidos do Bairro Carlos Gomes e Adjacências. A tecnologia será instalada às 14 horas com o apoio do técnico Luis Aparecido Godoy.
Morador do bairro há 17 anos, Mauro Pezzutti é o primeiro beneficiário do sistema de saneamento básico rural, que será instalado na residência da família, composta por cinco pessoas.
Assim como muitos habitantes do bairro, que leva o nome do compositor campineiro, autor da ópera “O Guarani” e abriga antigas fazendas remanescentes da economia cafeeira, Pezzuti também fazia uso das chamadas fossas “negras”, que contaminam o meio ambiente e colocam em risco as dezenas de nascentes que ocupam a região.
“Se nada for feito, provavelmente a implantação de sistema de saneamento básico não chegará tão cedo por aqui. “Então, é essencial mudar a atitude de como agimos em relação ao destino do esgoto doméstico, para não comprometer a qualidade da água e o meio ambiente”, diz o gerente administrativo da área de seguros.
O secretário do Rotary Club Campinas Norte, Adir Araujo Pinto, explica que entre os motivos que levaram a organização a selecionar o bairro, localizado no nordeste da cidade está o fato da região pertencer a Área de Preservação Ambiental (APA). Além disso, é coberta por vários rios, como o Atibaia, responsável pelo abastecimento de 93,5% da população de Campinas, e por inúmeras nascentes. Segundo ele, o local já abrigou 1.200 nascentes, mas atualmente só existem 50% delas.
A região também tem vocação para o turismo rural, devido à existência de construções históricas da época do Ciclo do Café e da presença da “Maria Fumaça”, que trafega pelos leitos da antiga Estrada de Ferro Mogiana, entrecortando os remanescentes das fazendas centenárias. O perfil agropecuário da localidade é baseado na horticultura e piscicultura.
"O desenvolvimento de projetos nas áreas de Meio Ambiente e Recursos Hídricos é um dos principais focos do Rotary Internacional. Este piloto se traduz na proteção das nascentes e no aspecto de saneamento básico e saúde, proporcionando melhor qualidade de vida às comunidades locais”, diz o secretário.
São mais de cinco mil pessoas habitando áreas urbanas isoladas e rurais, agrupadas nas regiões de Carlos Gomes, Chácaras Gargantilha e Jardim Monte Belo, de acordo com dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A área ocupa mais de 22 mil hectares, abriga ainda dois distritos, o de Sousas e Joaquim Egídio, fragmentos de vegetação pertencente à Mata Atlântica, solos com alta concentração de água, além de traços de vegetação rupestre nos lajedos rochosos, campos de várzea nas planícies de inundação e fundos de vale.
“Esperamos que a instalação da tecnologia sirva de incentivo para os demais proprietários rurais adequarem seus sistemas de esgotamento sanitário de forma voluntária ou com apoio na Prefeitura Municipal de Campinas, através da SVDS”, orienta o coordenador de Planejamento e Gestão Ambiental da Secretaria do Verde e Desenvolvimento Sustentável de Campinas (SVDS), Geraldo Ribeiro de Andrade Neto.
Segundo ele, a prefeitura apoia o projeto uma vez que o governo municipal pretende universalizar o saneamento básico nas áreas rurais de Campinas. No final de junho, o bairro rural de Descampado já havia recebido a primeira das 34 unidades da fossa séptica biodigestora previstas para a região, como parte do Programa de Saneamento Rural Sustentável da prefeitura.
Projeto
A cooperação está em consonância com o projeto conduzido no âmbito do Sistema Embrapa de Gestão (SEG) para o desenvolvimento de instrumentação, métodos e processos para avaliação e uso seguro de resíduos. O programa prevê treinamento para extensionistas, técnicos agrícolas, representantes de cooperativas, representantes de sistemas de saneamento municipais, em Campinas, além da instalação de unidades da fossa séptica biodigetora.
"O projeto em parceria com Rotary poderá tornar-se referência para outras entidades que desejam atuar na área de saneamento básico rural. A Embrapa, por meio da área de transferência de tecnologia, tem sido muito procurada para apoio técnico e metodológico em projetos que visam proporcionar melhores condições sanitárias para os domicílios rurais", diz o supervisor do Setor de Gestão da Implementação da Programação de Transferência de Tecnologia da Embrapa Instrumentação, Carlos Renato Marmo.
Subsidiado pelo Rotary com recursos de mais de R$ 4 mil, o projeto piloto pretende proporcionar água potável em quantidade e qualidade, dar destino correto aos dejetos gerados; despertar o interesse da comunidade rural para a importância do saneamento como promotor de saúde, além de reduzir a carga de matéria orgânica que é lançada de forma in natura nas bacias hídricas que cortam a região.
Denominado de "Pankajlal Patel", em homenagem a um dos idealizadores do projeto, falecido em 2016, a ação proposta por meio da Associação dos Moradores Unidos do Bairro Carlos Gomes e Adjacências, será desenvolvida em Área de Preservação Ambiental (APA), que não conta com sistema próprio de abastecimento de água e nem sistema de esgoto para atender aos parâmetros de elegibilidade da organização rotariana.
De acordo com o secretário do Rotary, a instalação da tecnologia tem por objetivo substituir, a um custo baixo, o esgoto a céu aberto e fossas sépticas; utilizar o efluente como um fertilizante, minimizando gastos com adubação química e, assim, promover a agricultura orgânica; além de preservar os rios afluentes e ribeirões que cortam a região.
“Esperamos conscientizar os órgãos públicos e a comunidade para a importância da continuidade desta ação, que já tem o apoio da SVDS para prosseguimento, o que para nós se traduz na sustentabilidade do projeto”, afirma Adir Araujo Pinto ao adiantar que o projeto deverá ter continuidade, por meio de parcerias, a fim de beneficiar toda a comunidade da região do Carlos Gomes.
O secretário municipal do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Campinas, Rogério Menezes, concorda que "o saneamento rural sustentável, com a implantação de fossas sépticas no padrão Embrapa, é um passo à frente em termos ambientais, em especial em regiões como o bairro Carlos Gomes, por estar inserido na APA Campinas".
Joana Silva (MTB 19554)
Embrapa Instrumentação
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