30/03/15 |   Biodiversidade  Estudos socioeconômicos e ambientais  Geotecnologia  Produção animal  Produção vegetal  Recursos naturais  Gestão ambiental e territorial

Pesquisadores participam de conferência sobre governança do solo

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Foto: Breno Lobato

Breno Lobato - Pesquisador Luiz Adriano Cordeiro falou sobre os fundamentos da ILPF

Pesquisador Luiz Adriano Cordeiro falou sobre os fundamentos da ILPF

A conferência "Governança do Solo", promovida pelo Tribunal de Contas da União de 25 a 27 de março em Brasília, em parceria com a Embrapa e outras instituições, contou com a participação de pesquisadores da Embrapa Cerrados. O evento buscou discutir os aspectos que permeiam a governança dos solos e suas implicações em diversos setores. Luiz Adriano Cordeiro coordenou a sessão técnica "Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF): intensificação sustentável do uso do solo", enquanto Jorge Werneck foi um dos palestrantes da sessão técnica "Manejo sustentável dos recursos hídricos e dos solos nas áreas urbanas e rurais".

A conferência, que teve ainda palestra do presidente da Embrapa, Maurício Lopes, abordando a importância da intensificação sustentável do solo pela agricultura e o conhecimento gerado pela Embrapa e parceiros sobre o tema, reuniu tomadores de decisão no âmbito governamental, professores, pesquisadores, representantes de organizações da sociedade civil, além de outros profissionais da área.

Na sessão técnica sobre ILPF, Cordeiro apresentou o conceito e as modalidades de uso da tecnologia, que é uma estratégia de intensificação sustentável do uso do solo a partir da integração dos sistemas agrícola, pecuário e florestal numa mesma área, em consórcio, sucessão ou rotação de culturas e ao longo do ano, permitindo aumento de renda e melhoria da qualidade de vida do produtor, além de acumular carbono no solo.

"O objetivo deste painel é mostrar que no Brasil existem sistemas e propostas tecnológicas que convergem com a tentativa de se promover a melhoria do uso do solo, da qualidade ambiental e produtiva dos sistemas de produção tropicais", afirmou.

O pesquisador apontou que os esforços públicos, acadêmicos e da cadeia produtiva precisam convergir para o aumento da adoção dos sistemas de integração. Apesar de não haver uma estatística oficial sobre a área de adoção da tecnologia, Cordeiro observa que o aumento de interesse dos produtores pelas modalidades da ILPF, visando à melhoria do sistema de produção e da renda.

"A grande vantagem dos sistemas ILP e ILPF são os benefícios mútuos que a agricultura gera para a pecuária e vice-versa, e os que ambos geram para a atividade florestal e vice-versa", disse o pesquisador, acrescentando que, do ponto de vista do produtor, o que mais chama a atenção é a perspectiva de aumento de renda advindo da diversificação dos sistemas de produção e do uso do solo, bem como da otimização dos fatores ambientais.

Também participaram da sessão técnica Elvison Ramos, da Secretaria de Desenvolvimento Agrário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e coordenador nacional do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC); Ronaldo Trecenti, engenheiro agrônomo e consultor; e Paulo César Carvalho, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que abordou a formação e a capacitação de profissionais de ciências agrárias em sistemas integrados.  

Ramos falou sobre o marco legal da conservação de solos no País e da ILPF, além de destacar políticas públicas que fomentam a adoção dos sistemas de integração, como Plano ABC, voltada ao incentivo à adoção de tecnologias que promovam a mitigação das emissões de gases de efeito estufa. Ele apresentou números do Programa ABC, linha de crédito para adoção dessas tecnologias que já desembolsou mais de R$ 10 bilhões em mais de 32 mil contratos desde 2010.  

A ILPF representa atualmente apenas 5,9% dos contratos e 6,8% do montante desembolsado. "É uma tecnologia com um enorme espaço para crescer. Precisamos capacitar não apenas o produtor e o extensionista, mas também o agente bancário para que ele possa avaliar os projetos sob os novos parâmetros", afirmou.

O consultor Ronaldo Trecenti levantou aspectos da dinâmica da ILPF sob o ponto de vista dos produtores e técnicos, destacando desafios como questões culturais, mercado, capacitação técnica, acesso à linha de crédito do programa ABC, gestão do empreendimento e divulgação dos resultados das pesquisas sobre a tecnologia. "O produtor rural é conservador por natureza e inovador por necessidade. A informação tem que chegar decodificada ao usuário da tecnologia e os técnicos devem ser agentes de mudança", comentou.

Durante a sessão técnica, também foram discutidas propostas para o aumento da adoção dos sistemas ILPF no Brasil. O País vai sediar, de 12 a 17 de julho, o I Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e o 3º Simpósio Internacional sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária. Realizados em Brasília e sob os eixos Tecnologia, Meio Ambiente e Socioeconomia, os eventos vão apresentar os avanços nas pesquisas em preservação, impactos, resultados econômicos e inovações tecnológicas.

Recursos hídricos

Na sessão técnica "Manejo sustentável dos recursos hídricos e dos solos nas áreas urbanas e rurais", pesquisador Jorge Werneck fez palestra sobre as pesquisas sobre recursos hídricos que desenvolve na Embrapa Cerrados.

Ele falou sobre as características hidrológicas do Cerrado, que recebe águas de oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras, associando o potencial hídrico ao de geração de energia, já que a maioria das usinas hidrelétricas brasileiras depende dos recursos hídricos do Bioma. Também destacou a variabilidade espaço-temporal da produção hídrica, que está relacionada à distribuição das chuvas na região, também mostrando variabilidade entre solo e hidrologia nas diferentes partes do Cerrado.

Ao apresentar dados sobre o aumento do número de pivôs centrais de irrigação no Cerrado, Werneck abordou o mapeamento da demanda e da oferta hídrica para as diferentes culturas agrícolas, que fará parte de um atlas hidrológico do Cerrado. "Com essas informações, conseguimos definir qual área pode ser irrigada de cada bacia hidrográfica de uma região para produzir determinada cultura", afirmou, destacando a importância da ferramenta para o planejamento da expansão da agricultura irrigada no Brasil.

O pesquisador salientou o trabalho feito em bacias experimentais como a do Alto Rio Jardim e a do Ribeirão Pipiripau, no Distrito Federal, para a compreensão dos processos hidrológicos. São monitorados o nível do lençol freático, vazão, fluxo de sedimentos, qualidade da água, umidade do solo e outros indicadores com o objetivo de conhecer o comportamento hidrológico da região e testar métodos e modelos que possam ser adaptados. Nesse sentido, ele apresentou dados referentes à chuva no Alto Rio Jardim, correlacionando-os ao nível do lençol freático e à vazão no mesmo período.

Werneck apresentou exemplos de trabalhos para geração de informações e conhecimentos sobre os recursos hídricos no Distrito Federal, como os de modelagem hidrológica a partir dos dados colhidos nas bacias hidrográficas; de equação de perda de solo para subsidiar projetos de pagamento de serviços ambientais; de avaliação dos benefícios do programa Produtor de Águas em relação à redução da produção de sedimentos na água e do custo de alteração da bacia do Pipiripau; e de avaliação dos impactos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos e do uso do solo sobre a produção de sedimentos na bacia hidrográfica.

Os experimentos observam áreas com cana-de-açúcar, soja e pastagens, por ocuparem grandes extensões, considerando os solos mais típicos do Cerrado, em que são avaliados o escoamento, a erosão e o fluxo de nutrientes. "Precisamos entender o comportamento hidrológico, quantificar o que se produz de sedimento, de nutrientes. Depois, vamos valorar os prejuízos que o produtor pode ter ao não usar as práticas corretas", explicou Werneck. Também estão sendo levantados dados de evapotranspiração, de umidade do solo e de recarga de aquíferos em diferentes áreas, inclusive em zonas ripárias (matas ciliares e de galeria dos rios), informações que vão subsidiar a gestão territorial.

O pesquisador acrescentou que os trabalhos têm permitido gerar bases de dados de referência para uso de determinados modelos hidrológicos no Cerrado, além do desenvolvimento de novos métodos para obtenção de dados de solo e da adaptação de modelos para mapeamento dos serviços ecossistêmicos no Bioma. "Estamos tentando fazer o modelo mais explícito possível, que pode ser usado por qualquer pessoa, mas com base científica", explicou.

Outros trabalhos citados foram o Produtor de Águas na bacia do Ribeirão Pipiripau e o enquadramento dos corpos d'água em função do uso e ocupação do solo no DF, que já está sendo considerado no sistema de outorgas de uso da água. "Temos trabalhado para gerar informações em diferentes escalas, buscando levar conhecimento científico para o processo de planejamento de uso e ocupação do solo e o gerenciamento de recursos hídricos", completou.

A sessão técnica foi coordenada pelo professor Franz Makeschin, da Universidade Técnica de Dresden (Alemanha), e também teve falas do Secretário do Meio Ambiente do Distrito Federal, André Lima; de Pablo Borges Amorim, do Helmholtz Centre for Environmental Research in Leipzig (UFZ Leipzig); e de Carsten Lorz, da Weihenstephan-Triesdorf University of Applied Sciences (Alemanha).

Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados

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