Construir um cronograma de ação para o projeto que integra lavoura, pecuária e floresta (ILPF). Esse foi o objetivo do Workshop de Articulação para ILPF que aconteceu na Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Aracaju,  dias 9 e 10 de abril.  O evento foi destinado aos técnicos de assistência rural, analistas e pesquisadores da Embrapa para construir um plano de trabalho com objetivo de disseminar o sistema junto aos produtores.
 
O sistema ILPF consiste em plantio de árvores no pasto como também aproveitar o mesmo espaço para o plantio de lavoura. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) recomenda também a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta para recuperar pastagens com menor custo. O sistema agrega retorno econômico ao produtor, diversificação na produção de alimentos e benefícios ambientais na propriedade.
 
Para divulgar o sistema junto aos produtores, a Embrapa vai instalar Unidades de Referência Tecnológica (URTs), ou seja, áreas de plantio e criação de gado através do sistema integração Lavoura-Pecuária-Floresta que servirão para o treinamento de agentes multiplicadores , além de atuar como "vitrine" para os produtores interessados.

Os técnicos extensionistas da Emdagro (Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe) farão um levantamento dos problemas agropecuários de Sergipe e analisarão onde o sistema ILPF pode ser a solução.

"A parceria entre as instituições é de grande importância porque a pesquisa só funciona junto com a assistência técnica e vice-versa. A Embrapa tem know-how e experiência  e nós temos extensionistas e técnicos com trajetória entre 30 e 40 anos de experiência", destaca o diretor-técnico da Emdagro, Gismário Ferreira Nobre.

"Os diversos sistemas ILPF já têm eficiência comprovada, mas necessitam de maiores esforços para difusão e adoção. É o que se pretende com o presente projeto", afirma o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros José Henrique de Albuquerque Rangel, coordenador do projeto no Nordeste que terá, além de Sergipe, ações de transferência de tecnologias nos estados do Ceará, Rio grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Bahia
 
"A integração de pasto e lavoura com florestas, é facilmente adaptável em Sergipe", afirma Rangel. As pesquisas para as zonas da mata e agreste estão em sua maioria baseadas no uso da gliricídia ou da leucema  (consideradas também florestais) em consorcio com lavouras, gramíneas e palma forrageira. Estudos em Sergipe demonstram também resultados bastante promissores do consórcio da gliricídia com coqueiro, especificamente nas áreas costeiras.
 
Pesquisas demonstraram a eficiência do sistema ao recuperar pastagens degradadas na mata e agreste com o consórcio da gliricídia com milho e capim-braquiarão. "Estima-se que o quantitativo de pastagens nordestinas cultivadas, com algum grau de degradação, é de 11,6 milhões de hectares", afirma o analista veterinário da Embrapa Tabuleiros Costeiros Samuel Souza, também coordenador do evento.  "A quantidade de animais é bem acima da que as pastagens podem suportar, causando uma crescente degradação das mesmas", acrescentou ele.
 
Na zona do agreste, mais especificamente visando os produtores de leite, estudos focam na utilização de sistemas de ILPF para reduzir a dependência de insumos externos. Outros sistemas tais como a integração de pasto e lavoura com eucalipto, de eficiência comprovada em outras regiões, são também facilmente adaptáveis em locais de condições pluviométricas mais favoráveis, como as do sul da Bahia.
 
Para André Barretto Pereira, chefe da Divisão de Política, Produção e Desenvolvimento Agropecuário (DPDAG), da Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento em Sergipe "o sistema ILPF é de extrema importância porque ele faz parte de um projeto maior que é o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), um programa do Governo Federal que visa a reduzir a emissão de gases de efeito estufa por parte da agricultura brasileira", destacou.

ILPF
A Embrapa Tabuleiros Costeiros, sediada em Aracaju, realiza pesquisas sobre a integração da lavoura com pecuária e floresta específicas para a realidade do Nordeste. O pesquisador José Henrique Rangel vem testando a leguminosa gliricídia para os solos de Sergipe como meio de arborizar o pasto e fornecer alimento para os animais.  
 
"A gliricídia é um excelente alimento para o gado, pois tem alto teor de proteína. Além disso, ela nitrogena o solo, serve de cerca viva, se reproduz com sementes e estacas, resgata a fauna ao pasto, atrai abelhas, insetos polinizadores e pássaros", afirma o pesquisador Rangel.

Além da gliricídia, a Embrapa recomenda outras árvores, como eucalipto, dependendo das condições de solo e clima da região. É uma importante estratégia para agregar à produção agropecuária mais sustentabilidade socioeconômica e ambiental.

A integração também reduz o uso de agroquímicos. Ao longo do tempo, integrar pasto, lavoura e arvores, trazem diversos benefícios ao meio ambiente, pois aumentam a fixação de carbono no sistema, intensificam a ciclagem de nutrientes de camadas mais profundas do solo e reduz a erosão pela cobertura vegetal.  

Além disso, a sombra das árvores proporciona conforto térmico aos animais, tornando-os mais produtivos além de contribuir para reduzir a temperatura do solo, fazendo com que a evaporação da água seja menor. A própria presença das árvores proporciona melhor infiltração da água no solo, que é utilizada pelas culturas anuais.

Além de diversificar as atividades econômicas na propriedade, o sistema ILPF também minimiza os riscos de frustração de renda devido a eventos climáticos ou condições de mercado.  "Em momentos de seca, onde não há rendimento na propriedade, a comercialização da madeira pode representar renda para o produtor " complementa Rangel.