Cientistas preocupados com a perda de colônias de abelhas
Cientistas preocupados com a perda de colônias de abelhas
Cientistas brasileiros e de diversos países estarão reunidos de 16 a 18 de outubro para discutir e propor alternativas para evitar a perda de colônias de abelhas. O encontro, promovido pela Embrapa, vai ocorrer em Teresina, Piauí, no “Simpósio sobre Perda de Abelhas no Brasil ”.
Durante o evento serão discutidas as principais causas de perdas de enxames de abelhas no Brasil, suas consequências, estratégias e direcionamentos de pesquisa para reduzir as perdas das colônias e os efeitos causados com o declínio de polinizadores.
A importância das abelhas para a preservação da vida, iniciativas para conservação de polinizadores, a criação de corredores ecológicos e o uso de ferramentas computacionais para monitorar colmeias e identificar fatores que provocam a perda de colônias são alguns dos temas a serem tratados no simpósio.
Na área da agricultura, o impacto do uso de agrotóxicos, o monitoramento dos polinizadores em ambientes naturais e agrícolas e o efeito das culturas transgênicas para as abelhas também farão parte da programação.
Além de painéis e palestras, no dia 19 de outubro a Embrapa irá realizar com seus pesquisadores um workshop para elaborar o mapa de resultados, plano de monitoramento e avaliação de impactos das pesquisas com abelhas da instituição.
O problema
As abelhas são responsáveis pela polinização de centenas de árvores frutíferas. Algumas espécies vegetais são tão dependentes desses insetos para se reproduzirem que a extinção das abelhas pode levar à extinção da planta. Como muitos animais se alimentam de frutos e utilizam as árvores para abrigar ninhos, com a redução da quantidade de abelhas há um impacto negativo em todo o meio ambiente, podendo haver uma extinção em massa de várias espécies animais.
“A conservação das abelhas é de extrema importância para a preservação ambiental e da biodiversidade, garantia de produção de alimento e geração de renda para apicultores”, explica a pesquisadora Fábia de Mello Pereira, líder de um projeto sobre conservação de recursos genéticos de insetos polinizadores.
Na produção agrícola, esses insetos são considerados o agente polinizador mais importante e eficiente, sendo responsáveis pela polinização de aproximadamente 73% das espécies cultivadas em todo o mundo. Além dos impactos ambientais, também a segurança e diversidade alimentar, a garantia da nutrição humana e preços dos alimentos são estritamente relacionados à atuação dos agentes polinizadores. A produção de mel, própolis, pólen apícola, geleia real, apitoxina e as próprias colônias de abelhas, representam importante fonte de renda, especialmente na agricultura familiar.
O desaparecimento das abelhas preocupa especialistas, organizações governamentais e não governamentais em todo o mundo. Uma das causas dessa perda é o fenômeno da Desordem do Colapso das Colônias (DCC), ainda não registrado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Brasil. “Os problemas relacionados à perda de enxames e mortalidade de colônias no país possuem como causa a seca, desmatamento e uso indiscriminado de agrotóxico”, esclarece a pesquisadora.
Esse fenômeno foi inicialmente relatado em 2006 nos Estados Unidos, quando vários apicultores começaram a observar que colônias fortes estavam tendo uma redução grande na população de operárias sem que houvesse alguma causa específica. Esta redução na população, em geral, é atribuída à falta de alimento, perda de rainha, mortalidade causada por uso de agrotóxicos, doenças ou ataque de inimigos naturais, mas nenhum destes problemas foi observado pelos apicultores, o que deixou os pesquisadores intrigados.
Em 2007, também nos Estados Unidos, pesquisadores de instituições federais, universidades, representantes da indústria apícola e dos produtores identificaram um conjunto de sintomas que caracterizava a síndrome que ficou conhecida como Desordem do Colapso das Colônias.
A causa da DCC ainda não foi definida. Acredita-se que uma interação de fatores pode interferir no sistema imunológico das abelhas e causar o problema. As infestações com o ácaro Varroa destructor e com o microsporídio Nosema ceranae estão relacionadas à síndrome, porém não são causas únicas. As abelhas são especialmente suscetíveis aos agrotóxicos e estudos demonstram que muitos agrotóxicos podem interagir com esses agentes patogênicos, potencializando os sintomas e levando à DDC. O estresse causado pelo transporte durante a migração e problemas nutricionais das colônias também são apontados como causas da Síndrome.
Abelhas no Brasil
Embora no Brasil não existam dados oficiais sobre a redução da população de abelhas, apicultores e pesquisadores têm observado nos últimos anos a perda desses insetos causada principalmente por desmatamento, uso indiscriminado de agrotóxicos e períodos prolongados de seca.
Várias instituições governamentais e não governamentais brasileiras estão trabalhando para conservar as abelhas. Além disso, várias pesquisas são realizadas com o objetivo de conhecer melhor a distribuição e biologia destes insetos, o que é fundamental para podermos protegê-los. A Embrapa tem também bancos de germoplasma em várias regiões do País onde são conservadas colônias de mais de 20 espécies de abelhas-sem-ferrão, apis melífera e abelhas solitárias.
Ações voltadas para conscientização sobre a importância das abelhas, resgate de enxames em risco e incentivo à criação em ambientes urbanos têm sido realizadas por diversas organizações não governamentais a exemplo da Bee or not to be e da SOS Abelhas Sem Ferrão.
Além destas ações, várias outras devem ser realizadas para proteger as abelhas. A principal delas, segundo Fábia Pereira, é a preservação ambiental. “O Brasil possui mais de 70 milhões de hectares de áreas de preservação federal, mas há também as áreas de preservação estadual, municipal e particulares. Contudo, muitas destas áreas estão isoladas e, com o tempo, os recursos genéticos existentes acabam se perdendo. A conexão destas áreas por meio de corredores ecológicos é imprescindível e vem sendo estimulada no país”, ressalta.
O controle do uso de agrotóxicos e o estímulo à substituição destes por defensivos biológicos também podem contribuir para reverter essa situação. “Estimular a produção familiar e o consumo de produtos orgânicos também é importante”, acrescenta.
Mas, para a pesquisadora, entre tantas ações que podem ser realizadas, talvez a principal seja a educação. “Conscientizar a população da importância das abelhas e da preservação ambiental é fundamental, já que muitas ações podem ser realizadas em casa e exigem a mudança dos hábitos diários da população, como redução do lixo, uso racional da água, manter um jardim com plantas atrativas para polinizadores e até mesmo a manutenção de colmeias de abelhas-sem-ferrão em casa”, conclui.
Eugênia Ribeiro (MTb 1091/PI)
Embrapa Meio-Norte
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