18/09/17 |   Agroecologia e produção orgânica  Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Especialistas discutem análise integrada de Sistemas Agroflorestais

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Foto: Liliane Castelões

Liliane Castelões -

Os desafios e o planejamento para a integração de benefícios financeiros e ambientais dos Sistemas Agroflorestais foram alguns dos tópicos abordados no painel “Análise Financeira e Ambiental Integrada de Sistemas Agroflorestais”, que aconteceu na quinta-feira (14), durante programação do VI Congresso Latino-americano de Agroecologia, o X Congresso Brasileiro de Agroecologia e do V Seminário de Agroecologia do Distrito Federal e Entorno. O evento realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, foi encerrado na sexta-feira (15).

Os pesquisadores da Embrapa Luciano Mattos (Embrapa Cerrados) e Marcelo Arco-Verde (Embrapa Florestas) apresentaram resultados de pesquisa em agrofloresta sucessional obtidos em áreas de estudo do Projeto Transição Produtiva e Serviços Ambientais, no bioma Cerrados, com destaque para o estudo de caso do Sítio Semente, no Núcleo Rural do Lago Oeste (DF). Também participaram do painel o coordenador do Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (ICRAF) no Brasil, Andrew Miccolis, e Ray Alves, Doutorando da Universidade de Brasília (UnB) e co-orientando da pesquisadora Eloisa Ferreira (Embrapa Rrcursos Genéticos e Biotecnologia).

As agroflorestas sucessionais abordadas integram hortaliças, frutas, café e madeira, além de espécies arbustivas e arbóreas nativas, dentro de uma lógica que assemelha os desenhos de sistemas de produção aos processos de sucessão ecológica de ambientes naturais. Uma das maiores dificuldades apontadas por Arco-Verde para avaliação financeira é a definição das atividades para cada produto ao longo do período. “No Sítio Semente são mais de dez espécies, entre hortaliças, frutíferas, culturas anuais e florestais. Para cada produto é preciso definir as atividades, o que torna o sistema complexo”, afirmou.

A análise financeira, como ressaltou o pesquisador, é fundamental para o produtor identificar atividades mais rentáveis e definir diferentes opções de manejo. Arco-Verde chamou atenção para a importância de se ter receita todos os anos. “Não podemos observar unicamente os indicadores financeiros, mas é importante se trabalhar com receita em todos os anos, sejam elas, menores ou maiores em determinados anos. No caso do Sítio Semente, o sistema já se pagou no primeiro ano”, enfatizou o pesquisador.

Os resultados das análises ambientais no sistema adotado no Sítio Semente foram apresentados por Ray Alves, a partir de experimentos conduzidos pela pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Eloisa Ferreira. Seus estudos verificaram os efeitos da dinâmica da matéria orgânica sobre a qualidade do solo, em diferentes tratamentos de agrofloresta sucessional com idade de implantação de três anos, em comparação a áreas de controle de pastos e cerrado natural. Os resultados apontaram, entre outros benefícios, que o sistema gerou um solo mais fértil, em consequência da sua maior cobertura. 

Redesenho do sistema – O pesquisador Luciano Mattos destacou que serão necessários alguns ajustes no desenho do sistema agroflorestal conduzido no Sítio Semente. O redesenho visa à elevação de receitas com redução de custos (a partir do conceito de custos evitados). Ele explicou que com os resultados excelentes da fertilidade do solo, obtidos pela pesquisadora Eloisa Ferreira, será possível evitar alguns custos na condução futura das áreas de produção, o que permitirá uma elevação no fluxo de caixa. Mattos citou os exemplos do pó de rocha e adubação que, nos próximos módulos, terão uso reduzido. “É o ambiental refletindo no econômico”, frisou.

Um problema que será avaliado pela equipe da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Carmen Pires e Edison Sujii) é o da população de pulgões. Por causa do excesso de fontes de nitrogênio houve um aumento na população de pulgões nos plantios. Com esse aumento existe um risco, no futuro, de emissão de óxido nitroso (N2O), o gás com maior potencial de efeito estufa. Mattos afirmou que problemas como esse “devem ser encarados como oportunidade de inovação”.

Ao falar sobre programas institucionais de desenvolvimento territorial atrelados à agroecologia, Mattos citou como referências internacionais os desenvolvidos por Portugal e França, os quais trazem estratégias relevantes de construção social do território e de evolução do conceito de território-zona para território-rede. Ele fez análises rápidas sobre algumas iniciativas de programas brasileiros, entre eles, os com focos territoriais como o Programa de Territórios Rurais, Territórios da Cidadania e o Proambiente (coordenado por ele no  Ministério do Meio Ambiente entre 2003-2005), e os com incentivos econômicos como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) – que traz o conceito de construção social de mercados - o Pronaf Agroecologia – comentando sobre a necessidade de se construir a institucionalidade para que esta modalidade de financiamento rural se torna realidade -, além de considerar o CAR – Cadastro Ambiental Rural como um instrumento que oportuniza o planejamento integrado ambiental e econômico.

O pesquisador da Embrapa Cerrados apresentou também resultados do trabalho de validação científica de indicadores empíricos de serviços ambientais. Neste trabalho, que será publicado ainda este ano, foram apontados por produtores 101 indicadores no bioma Cerrado e 88 no bioma Amazônia, dos quais 56 químicos, 15 biológicos e 30 físico-hídricos. Desse total, 64 (30 químicos, 12 biológicos e 22 físico-hídricos) têm validade científica. Esses resultados, conforme salientou Mattos, permitem ao produtor monitorar a qualidade ambiental seu sistema de produção a partir de seus próprios conhecimentos.

Paisagem em mosaico – além de destacar os benefícios ambientais com a adoção de SAF, o coordenador do ICRAF no Brasil afirmou que o objetivo é buscar a formação de mosaico na área rural. “Algumas áreas serão mais ambientais, outras produtivas, e algumas intermediárias. O objetivo não é voltar a ser uma floresta primária, mas ficar o mais parecido possível com o que tinha antes naquele lugar”, disse.

Miccolis apresentou a metodologia Plantsafs – Planejamento e Avaliação para Tomada de Decisão em SAF´s, utilizada para a elaboração do diagnóstico socioambiental participativo. Ele citou alguns resultados nos projetos Cacau Floresta, em Félix do Xingu (PA), e o da Aprospera, na Bacia Pipiripau/Alto São Bartolomeu (DF).

O Congresso de Agroecologia 2017 foi promovido pela Sociedade Científica Latino-Americana de Agroecologia (SOCLA) e Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e organizado em Brasília por uma comissão formada por representantes da Embrapa, Universidade de Brasília, EmaterDF, Secretarias de Estado do GDF (Seagri e Sedestmidh), IBRAM e ISPN. Contou com o apoio de vários ministérios, organizações e movimentos sociais. O evento teve o patrocínio do BNDES, Itaipu Binacional e Fundação Banco do Brasil. Mais informações em www.agroecologia2017.com e nos perfis do Facebook e Instagram.

Livro – no dia 12, durante o Congresso, foi lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) o livro “A Política Nacional de Agroecologia e Agricultura Orgânica no Brasil – uma trajetória de luta pelo desenvolvimento rural sustentável”.  O pesquisador Luciano Mattos foi um dos organizadores da publicação e, também, co-autor dos capítulos que tratam da análise da concepção da política nacional de agroecologia e produção orgânica e da avaliação da execução do Plano de Agroecologia e Produção Orgânica 2013-2015. O livro retrata os caminhos que marcaram o processo de construção participativa da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no Brasil (Pnapo). 

Para ter acesso à publicação impressa, o interessado deve procurar o Ipea. Já a publicação digital pode ser acessada aqui

 

Liliane Castelões (16.613 MTb/RJ)
Embrapa Cerrados

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