Desempenho agronômico de híbrido de melão amarelo surpreende setor produtivo
Desempenho agronômico de híbrido de melão amarelo surpreende setor produtivo
As características agronômicas do híbrido de melão BRS Araguaia, do tipo amarelo, têm surpreendido os produtores que testaram o material. Resultado do programa de melhoramento genético de melão da Embrapa, ele está sendo validado nas principais regiões produtoras do País: o Vale do Açu, no estado do Rio Grande do Norte, e o Vale do São Francisco, em especial nos estados de Pernambuco e Bahia.
Os pontos positivos que mais despontam na avaliação dos agricultores são produtividade e resistência. Na média, o rendimento gira em torno de 40 t/ha de frutos comerciais em condições ideais de cultivo e o híbrido resiste bem ao fungo oídio, uma das principais doenças que atingem a cultura. “O mercado é muito dinâmico e competitivo, por isso, foi fundamental entregar um material com produtividade e demais características equivalentes aos híbridos comerciais, mas que, além disso, tivesse uma vantagem adicional que é a resistência ao oídio”, reforça o agrônomo e pesquisador Valter Rodrigues Oliveira, responsável pelo melhoramento genético de melão.
Quase a totalidade da produção brasileira de melão está concentrada no Nordeste, devido às condições ambientais mais favoráveis que permitem o cultivo durante o ano todo, apesar de haver maior dificuldade nos plantios de verão - mas essa regra vale, em geral, para todas as espécies de hortaliças (sim, apesar do hábito de consumo ser como fruta, na classificação agronômica, o melão é considerado uma hortaliça).
Do ponto de vista da logística, a região também é favorecida pela proximidade com portos que escoam os frutos para países da União Europeia entre os meses de agosto a março - período de entressafra das lavouras espanholas, que lideram o fornecimento para o bloco econômico. Segundo Oliveira, no mercado europeu, o melão brasileiro somente é competitivo até abril, quando então a safra da Espanha se inicia e inviabiliza as exportações brasileiras por conta das tarifas de importação.
Nos outros meses, a produção é voltada para o mercado interno, mas geralmente os produtores iniciam os plantios em maio já pensando mesmo no mercado de exportação, uma vez que o ciclo do melão gira em torno de 60 dias. Em virtude desse contexto, os frutos devem apresentar um bom desempenho após a colheita, visto que vão enfrentar duas semanas em navios para cruzar o Atlântico e chegar aos portos europeus.
“A cultivar BRS Araguaia apresenta um padrão que atende as exigências do mercado: frutos com peso médio de 1,7 kg, vida útil de 30 dias e elevado teor de açúcares e demais sólidos solúveis - em torno de 12° brix”, ressalta o agrônomo ao pontuar que durante a pesquisa os frutos foram submetidos às situações críticas de armazenamento, em câmaras frias de laboratório, e que as condições de mercado seriam mais favoráveis para obtenção de valores ainda melhores.
Apesar dos frutos atenderem mais aos padrões do mercado nacional, Oliveira considera que o híbrido BRS Araguaia é um melão de dupla aptidão porque também pode ser direcionado para o mercado externo. Contudo, devido à ampla adaptação às condições da região Centro-Oeste e do semiárido, a estratégia principal para o melão BRS Araguaia é entregar mais qualidade para os consumidores brasileiros que, por regra, consomem frutos de qualidade inferior aos exportados para a Europa.
Embora a produção de melão esteja concentrada em grandes áreas e empresas, ainda há pequenos e médios produtores de melão amarelo, principalmente na região do vale do São Francisco. Como não necessariamente o melão do tipo amarelo precisa entrar na cadeia do frio logo após a colheita (ao contrário dos melões nobres como Gália e Cantaloupe), o agricultor sem estrutura de beneficiamento e armazenagem consegue produzir e escoar os melões.
Licenciamento e validações
Desenvolvido em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Goiás, o melão BRS Araguaia foi licenciado no final de 2015 para a empresa Feltrin Sementes, após um Processo de Oferta Pública e, desde então, as sementes foram multiplicadas para
se obter volume e iniciar a comercialização da cultivar. “O material apresentou destaque na qualidade de plantas, com folhas vigorosas e rústicas, e excelente tolerância natural a doenças”, constatou Luís Eduardo Rodrigues, gerente de P&D da Feltrin.
Em validações da empresa na macrorregião de Petrolina/PE, os produtores assinalaram a boa cobertura foliar, crescimento vigoroso e a capacidade produtiva, além da firmeza e da doçura da polpa. Segundo Rodrigues, a estratégia vai ser posicionar a cultivar para atender o mercado interno com frutos firmes, excelentes para transporte, e com elevado teor de açúcares. Ele revela que houve interesse no licenciamento porque a empresa busca novas genéticas para atuar em mercados maiores, como o segmento de híbridos que está em crescimento.
“Geralmente, o que se cultiva no Brasil são materiais genéticos importados, de empresas estrangeiras que desenvolveram o híbrido de
melão fora do nosso País. Por isso, ver a genética nacional sendo inserida nesse mercado é uma conquista que representa ganho de qualidade
para produtores e consumidores”, avalia Oliveira, ao comentar que ainda é necessário desenvolver a parte de fitotecnia para o híbrido BRS Araguaia alcançar todo seu potencial.
No horizonte da pesquisa
Altas temperaturas, escassez hídrica e salinidade são fatores abióticos que compõe a equação que as pesquisas com melhoramento genético de melão devem solucionar nos próximos anos. Por outro lado, entre os fatores bióticos, permanecem as buscas por resistência às principais pragas e doenças como oídio, moscaminadora e vírus do amarelão. “A qualidade póscolheita também será essencial para expandir a vida útil e permitir que os melões cheguem a novos mercados como a Ásia”, analisa Oliveira. O programa de melhoramento genético da Embrapa já tem planos de, no curto prazo, lançar uma nova variedade de melão amarelo para destinar à exportação e, assim, fazer a genética nacional ganhar o mundo.
Paula Rodrigues (MTb 61.403/SP)
Embrapa Hortaliças
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