Embrapa discute raças bovinas crioulas na fronteira com a Bolívia
Embrapa discute raças bovinas crioulas na fronteira com a Bolívia
Foto: Pedro Paulo Horton
O objetivo é buscar proximidade genética com as raças localmente adaptadas brasileiras
Durante uma palestra realizada em Arroyo Concepción, na Bolívia – a cerca de 10 km de Corumbá (MS) – a pesquisadora Raquel Soares, da Embrapa Pantanal, conversou com universitários do país vizinho sobre raças bovinas localmente adaptadas presentes na fronteira. “Queremos ver o que eles conhecem, entender quais são as expectativas e perspectivas para a conservação e uso dessas raças no país deles”, afirma a pesquisadora que busca a existência de rebanhos crioulos entre proprietários rurais, universidades e instituições de pesquisa locais.
O contato com os vizinhos da Bolívia, diz Raquel, é uma forma de procurar ´parentes´ da raça conhecida como bovino Pantaneiro, encontrada no Pantanal brasileiro, nas raças bovinas crioulas presentes em território boliviano. “Tenho notícias por publicações científicas e por conversas com os moradores daqui que existem pelo menos dois tipos de gado crioulo na região: o Yacumeño e o Chiquitano. Mas não sabemos, ainda, qual é a proximidade desses animais – em termos de perfil genético – do nosso bovino Pantaneiro”.
O Pantaneiro, bovino que passou por quinhentos anos de seleção natural em meio aos extremos ambientais do bioma, desenvolveu uma rusticidade característica da raça. Ele pode pastejar em locais alagados, manter taxas reprodutivas satisfatórias mesmo em períodos com menor disponibilidade de alimentos como a seca, possui baixa exigência nutricional, habilidades maternas e diferenciais para a produção de carne e leite. Porém, existem apenas cerca de 500 animais comprovadamente Pantaneiros no país, atualmente – o que os coloca em risco de extinção e aumenta a urgência da conservação de seu material genético.
“Nos trabalhos que fizemos de genotipagem e comparação entre as raças, vimos que o bovino Pantaneiro tem uma proximidade com o Pilcomayo, que é um gado do Paraguai. Temos uma história que justifica isso: o sul de Mato Grosso do Sul (a região depois da Serra da Bodoquena), que também tinha bovinos Pantaneiros, faz divisa com o Paraguai. O gado de Porto Murtinho, por exemplo, provavelmente tem muita influência dos animais desse país. É de se esperar, portanto, que a nossa fronteira de Corumbá e do Mato Grosso, na região do Pantanal, também tenha alguma interferência genética entre as raças”, diz a pesquisadora.
Encontrar paralelos genéticos entre os animais do Brasil e da Bolívia poderia beneficiar a genética dos animais dos dois países. “A gente pode pensar em aumentar o nosso rebanho – dependendo da proximidade genética com o gado crioulo deles – usando o material genético que eles tiverem disponível. Podemos utilizar fêmeas de raças adaptadas bolivianas e introduzi-las no Brasil para cruzar com os machos Pantaneiros. Assim, teríamos uma raça próxima, com características adaptativas aproximadas da raça brasileira, com uma possível chance de recuperação: em cinco gerações, ela poderia ser absorvida pelo bovino Pantaneiro”.
Os primeiros contatos, como o que foi estabelecido por meio da palestra ministrada aos universitários, representam o início do trabalho de comparação entre as raças bovinas adaptadas. “Queremos analisar a genética desses rebanhos através de genotipagem por DNA e verificar a possibilidade de troca de animais ou embriões para tentar cruzamentos”, diz Raquel. “É interessante também verificar se a alguém na Bolívia tem interesse de desenvolver o trabalho de conservação genética do gado crioulo que eles possuem. Assim, podemos desenvolver trabalhos paralelos, mas que têm uma mesma finalidade, que é a conservação e o uso de raças localmente adaptadas”.
A Embrapa Pantanal mantém desde 1984 um núcleo de conservação in situ desses animais, mantido no campo experimental fazenda Nhumirim, no Pantanal da Nhecolândia. Para a pesquisadora, o trabalho em conjunto com os vizinhos bolivianos fortalece a expansão de uma linha de pesquisa que, hoje, possui abrangência local, principalmente. “Assim, mantemos a diversidade genética e difundimos melhor as informações com as quais trabalhamos”.
Nicoli Dichoff (Mtb 3252/SC)
Embrapa Pantanal
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