Encontro discute participação de mulheres, agroecologia e soberania alimentar
Encontro discute participação de mulheres, agroecologia e soberania alimentar
Foto: Síglia Souza
Roda de Conversa: Mulheres, Agroecologia e Soberania Alimentar, que contou com a exposição da pesquisadora Emma Siliprandi.
O II Encontro de Mulheres Promotoras de Agricultura Geradora de Vida do Amazonas, realizado em Manaus, na tarde de 28 de novembro, discutiu a importância da participação das mulheres na agricultura, no contexto da agroecologia e soberania alimentar. Na agroecologia se reconhece que essa participação vai muito além da contribuição do trabalho agrícola, do cultivo e do manejo da propriedade, e que cada vez mais as mulheres têm ocupado espaços de participação ativa na construção de propostas estratégicas para a agricultura familiar e para o desenvolvimento sustentável.
A Embrapa Amazônia Ocidental foi uma das instituições promotoras do encontro, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a Rede Maniva de Agroecologia (Rema).
Participaram do encontro 59 pessoas, membros de organizações ligadas a agroecologia, estudantes, pesquisadores e demais profissionais com interesse na temática da Roda de Conversa: Mulheres, Agroecologia e Soberania Alimentar, que contou com a exposição da pesquisadora Emma Siliprandi, autora do livro “Mulheres e agroecologia: transformando o campo, as florestas e as pessoas”, resultado de sua tese de doutorado pela Universidade de Brasília (Unb), que analisa trajetórias de vida de mulheres agricultoras que participam ativamente de movimentos agroecológicos formados no Brasil nos últimos trinta anos.
No encontro também foi exibido e comentado o documentário em vídeo “As sementes”, com entrevistas de mulheres lideranças na agroecologia no Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Bahia, que abordam economia solidária, cooperativismo, feminismo e agroecologia.
Emma Siliprandi comentou que, ao mesmo tempo que se discute “a invisibilidade” da mulher na agricultura (referindo-se ao discurso ou práticas que omitem e desconsideram a contribuição da mulher), por outro lado no movimento agroecológico as mulheres tem ocupado cada vez mais os espaços, discutindo, articulando-se, reivindicando direitos e garantindo políticas públicas. Emma citou o exemplo da Marcha das Margaridas, movimento de mulheres que tem reivindicado e conquistado políticas públicas, a exemplo da 1º Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo), entre outras conquistas. Além dessas contribuições, as mulheres no movimento agroecológico têm contribuído para inserir nas reivindicações e discussões sobre agricultura, temas correlacionados à alimentação e saúde, entre outros. Emma citou que as mulheres rurais têm protagonismo ainda no cuidado com a sanidade dos alimentos em ter produtos livres de agrotóxicos, na conservação de sementes crioulas e na diversidade na agricultura familiar. A pesquisadora destacou que a maior participação das mulheres na agroecologia não é por acaso, e sim porque o movimento agroecológico permite e abre espaço para elas se expressarem e participarem de diversas formas. Um dos fatores para isso, é que faz parte da proposta agroecológica uma combinação de atividades e de ciclos produtivos com mais sinergia e complementaridade, e isso permite que se valorize atividades produtivas que em outros sistemas produtivos não costumam ser valorizados e essas atividades muitas vezes estão na responsabilidade de mulheres e jovens. Na proposta agroecológica se valoriza o local, o endógeno, o desenvolvimento local – com circuitos curtos de comercialização – mais um fator que fortalece a participação das mulheres atuando na produção e na comercialização. Além disso as mulheres participam na formação, na mobilização por direitos, no aprendizado e no compartilhamento de conhecimentos.
Engenheira agrônoma e doutora em Desenvolvimento Sustentável, Emma Siliprandi, atualmente é coordenadora de um projeto (GCP/RLA/1936/BRA) no escritório regional da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), em Santiago (Chile), cujo objetivo é contribuir para a Segurança Alimentar e Nutricional e superação da pobreza da população mais vulnerável da América Latina e Caribe, fortalecendo as estratégias nacionais e sub-regionais.
Sua passagem por Manaus se deu no retorno de Tefé (AM) onde, junto com pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Elisa Wandelli, participou do II Seminário Nacional de Mulheres, Agroecologia e Bem Viver, ocorrido de 24 a 26 de novembro e promovido pela Universidade do Estado do Amazonas, com apoio da Secretaria de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário.
A pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Elisa Wandelii, destaca que a agroecologia propicia também o empoderamento das mulheres da floresta e isso tem papel fundamental na erradicação da pobreza e da fome, na mitigação dos problemas ambientais e na promoção da soberania alimentar da cidade e do campo.
No II Encontro de Mulheres Promotoras de Agricultura Geradora de Vida do Amazonas foram feitos reconhecimentos a mulheres protagonistas da agroecologia: à Emma Siliprandi, pela sua contribuição como pesquisadora e atuação em projetos relacionados a agroecologia, segurança e soberania alimentar, políticas públicas, com ênfase na organização das mulheres rurais em nível nacional e internacional; e também reconhecimento em memória à professora Sandra Noda, pela sua contribuição como professora de sociologia rural a várias gerações de alunos da Universidade Federal do Amazonas, além de atuar como pesquisadora junto a agricultura familiar.
O II Encontro de Mulheres Promotoras de Agricultura Geradora de Vida do Amazonas, realizado em Manaus, pela Embrapa Amazônia Ocidental, Inpa e Rede Maniva de Agroecologia, também contou com o apoio da Associação dos Produtores Orgânicos do Amazonas (Apoam), #partidAmazonas Feminista, Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), Marcha Mundial das Mulheres, Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf/AM) e Teia de Educação Socioambiental e Agroflorestal de Parintins.
Síglia Souza (Mtb 66-AM)
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