Artigo: Devolução de sementes de milho a indígenas do Xingu celebra um ciclo de sucesso entre ciência e povos tradicionais
Artigo: Devolução de sementes de milho a indígenas do Xingu celebra um ciclo de sucesso entre ciência e povos tradicionais
Foto: Divulgação Embrapa
Fabio Freitas entre o pai do cacique Siranhu (esquerda) e seu irmão (direita).
As roças do povo indígena Kayabi (aldeia Ilha Grande, Parque Indígena do Xingu, MT) impressionam pela grande diversidade, não só de espécies plantadas, como também de tipos variados representando cada uma delas. Há um grande volume de área cultivada com amendoim, banana, cará, batata doce, feijão fava, melancia, abacaxi, mamão, mandioca, mangarito, pimenta, milho, algodão, entre outras. Essa região é marcada pela produção farta de alimentos de boa qualidade.
No início dos anos 2.000, quando realizava um trabalho como consultor da Funai com o objetivo de mapear a situação agrícola das aldeias do Parque Indígena do Xingu, recebi como é de costume dos agricultores da região, três tipos de milho. Agradeci e guardei.
No ano seguinte, a partir de contato com o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia José Francisco Valls, as espigas foram introduzidas no sistema Embrapa de conservação ex situ, onde ficaram acondicionadas nas câmeras de conservação da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG).
Em 2010, já como pesquisador da Embrapa, recebi uma carta dos índios Kayabi de diversas aldeias do Parque Indígena do Xingu, solicitando ajuda para recuperar variedades tradicionais de milho que perderam. Era a chamada para despertar as sementes que estavam hibernadas na Embrapa Milho e Sorgo, sob os cuidados da pesquisadora Flavia França.
Ela localizou as sementes, retirou amostras de todos os acessos guardados e, após dois ciclos de multiplicação, havia sementes em quantidade suficiente para entregar àquele povo indígena. A entrega foi feita diretamente ao cacique Siranhu e sua comunidade da aldeia Ilha Grande antes do início do ano agrícola de 2012/2013.
Essa iniciativa marcou a conclusão de um ciclo (coleta de amostra – conservação ex situ – recuperação – devolução). Este tipo de ação permite o fortalecimento cultural de cada comunidade atendida, uma vez que garante o resgate de variedades tradicionais, com seu uso alimentar e folclórico a elas relacionados. Permite ainda que uma diversidade maior de espécies e variedades esteja disponível para manejo das comunidades, alem de fortalecer a relação entre Instituição e comunidade porque mostramos na prática que podemos ser parceiros na conservação das sementes indígenas.
A devolução das sementes transcendeu a aldeia Ilha Grande porque parte delas foi dividida e entregue a outras aldeias Kayabi do Xingu, entre elas a Capivara.
Em 2017, esta aldeia encabeçou um novo pedido de ajuda para recuperação de sementes tradicionais. Novamente, com a participação da pesquisadora Flavia França, da Embrapa Milho e Sorgo, em novembro, entreguei as sementes de milho à família do cacique Siranhu (FOTO), que ficará responsável pela entrega às demais famílias de sua aldeia, em respeito à dinâmica cultural daquele povo.
Esta ação reforça a importância da complementaridade entre a conservação in situ e ex situ (no habitat e fora dele), uma vez que mesmo em uma aldeia muito comprometida com a manutenção dos seus cultivos tradicionais, fatores podem acarretar a perda de produtos. E é neste espaço que a Embrapa, em face à sua missão de conservar recursos genéticos para o futuro, pode se inserir com competência e ajudar.
Fábio de Oliveira Freitas Fernanda Diniz (colaboradora) (MTb 4685/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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