Tecnologias sociais transformam a realidade no nordeste paraense
Tecnologias sociais transformam a realidade no nordeste paraense
Uma sala de aula a céu aberto, onde todos ensinam e aprendem. Foi assim a dinâmica do 1º Dia de Campo de Tecnologias Sociais para Agricultura, realizado nessa quarta-feira (13), no município de Bujaru, região nordeste do estado do Pará. As famílias de agricultores da Comunidade São Brás trocaram experiências com agricultores de outras comunidades, com técnicos da Emater e pesquisadores da Embrapa sobre tecnologias que envolvem o plantio de banana, mandioca, alimentos biofortificados, manejo de açaizais e preparo de área sem o uso do fogo.
As soluções tecnológicas demonstradas e debatidas pelo grupo são fruto da interação entre técnicos e agricultores. Bingo Banana, Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos e Roça sem Fogo e Trio da Produtividade são tecnologias sociais certificadas pelas Fundação Banco do Brasil. O agrônomo da Embrapa Amazônia Oriental, Raimundo Brabo, explica que são soluções de fácil entendimento, baixo aporte financeiro e que geram grande transformação local.
O trabalho do agricultor familiar Osvaldino Romano da Paixão, de 57 anos, é prova dessa transformação. Ele relata que tradicionalmente plantava mandioca, milho e arroz, sempre com data certa para o preparo da área e plantio. “Se a gente não queimasse na época certa perdia toda a roça. Já na roça sem queima a gente pode preparar a área e plantar quando quiser. A vantagem é que o mato não cresce, a gente produz mais porque tem mais adubo e tem uma roça pra sempre”, comemora o agricultor.
A Roça sem Fogo, segundo o pesquisador Raimundo Brabo, é a tecnologia que mais tem impactado a vida do agricultor na Comunidade São Brás. “A produção de mandioca no local estava bastante comprometida em função da podridão radicular e do crescimento das plantas daninhas, e a comunidade estava vivendo basicamente do extrativismo do açaí”, conta o pesquisador.
Mais açaí no campo
O açaí é uma fonte de renda importante para as famílias no local. Os agricultores Braz Nazareno Melo, 60 anos, e Reginaldo Carvalho Lima, 38 anos, contam que há quase dois anos vêm utilizando as técnicas de manejo de mínimo impacto de açaizais nativos e os resultados são evidentes. “A produção de açaí era muito baixa, produzia no máximo 100 basquetas (uma basqueta equivale a dois paneiros, aproximadamente 28 kilos) durante todo o período de safra do fruto. Agora só nesse último mês consegui produzir 120 basquetas fazendo o manejo”, conta Reginaldo, que tem 15 hectares de açaizais nativos.
“Antes a gente tirava todas as árvores e deixava só o açaí no terreno. E com o tempo secou tudo. Hoje não, a gente só vai manejando, sabendo da importância que as outras árvores têm para o açaí e para o meio ambiente. A produção cresceu”, explica Braz Nazareno, que tem no açaí a principal fonte de renda da família.
Segundo o engenheiro florestal José Antônio Leite de Queiroz, da Embrapa Amazônia Oriental, o Pará produz atualmente cerca de 1 milhão e 200 mil toneladas de açaí ao ano para um mercado bastante promissor. Ele relata que nas áreas de várzea manejadas a produção média no período da safra é de 6 toneladas de açaí por hectare, e nas áreas de terra firme com o plantio da BRS Pará (cultivar desenvolvida pela Embrapa), adubo e água nas proporções adequadas essa produção chega a 12 toneladas por hectare ao ano.
Tecnologias que fortalecem a união do grupo
Getúlio da Silva Jales, presidente da Associação dos Agricultores Familiares, Extrativistas e Empreendedores da Comunidade São Brás, diz que as 20 famílias associadas estão cada vez mais unidas e as tecnologias sociais têm grande influência nessa mudança.
“A associação tem dois anos de vida, mas essa comunidade já trabalha junta há cerca de cinco anos. Com a presença da Embrapa aqui nesse ano de 2017, nós fortalecemos nossos laços”, afirma. Ele atribui esse fortalecimento aos mutirões no preparo das roças da associação e dos agricultores e aos resultados positivos no manejo do açaí, na produtividade da banana e da mandioca. “A questão ambiental está mudando também, estamos melhorando nossa renda e queremos mostrar aos nossos jovens que a agricultura familiar pode dar certo”, enfatiza o agricultor.
Para José Antônio Leite de Queiroz, uma tecnologia é amplamente adotada quando o produtor consegue fazer adaptações de acordo com a sua realidade e “isso nós estamos conseguindo ver nessa comunidade. Ao olhar e analisar sua área, o produtor consegue fazer a escolha certa, pois é ele quem tem o poder da decisão”, finaliza o engenheiro florestal.
Ana Laura Lima (MTb 1268/PA)
Embrapa Amazônia Oriental
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