Compostagem elimina o fungo da vassoura-de-bruxa em restos de cupuaçuzeiro
Compostagem elimina o fungo da vassoura-de-bruxa em restos de cupuaçuzeiro
Estudos realizados na Embrapa Roraima comprovaram que a técnica de compostagem é alternativa eficaz para reaproveitar podas de cupuaçuzeiros infestados com vassoura-de-bruxa. O processo elimina o patógeno causador da doença e gera um composto orgânico rico, que pode ser utilizado de forma segura como substrato para produção de mudas e adubação de plantas. A razão da eficácia da técnica está na temperatura alcançada durante o processo de compostagem, que chega a 60ºC, suficiente para matar o fungo Moniliophthora perniciosa, o mesmo que ataca o cacaueiro. Num prazo de cerca de 60 dias, o composto fica pronto para uso, podendo ser aplicado puro ou misturado com solo.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Roraima e coordenadora do trabalho, Hyanameyka Lima-Primo, não havia estudos sobre a produção de composto orgânico aproveitando esses restos contaminados de cupuaçuzeiro, apesar da alta incidência da vassoura-de-bruxa em todos os estados da Bacia Amazônica. “Muitos produtores ficaram receosos quanto à eliminação do patógeno no composto, mas podemos garantir que é segura a utilização do composto orgânico quando feito nas condições adequadas.”
A pesquisadora explica que foram feitos testes com a utilização do substrato gerado para produção de mudas de cupuaçuzeiros suscetíveis à doença vassoura-de-bruxa. Nenhuma das mudas desenvolveu a doença em condições de viveiro e após o transplante para campo.
A pesquisa testou ainda diferentes proporções de resíduos com vassoura-de-bruxa para produção do composto. Análises realizadas antes e depois do processo mostraram que o substrato contendo 60% de resíduos com vassoura-de-bruxa, 20% de feijão-guandu e 20% de restos de folhas, galhos, capim roçado e casca de frutos de cupuaçu foi o que apresentou os maiores teores de nitrogênio, fósforo, potássio, magnésio e enxofre.
Alternativa ao uso do fogo
A vassoura-de-bruxa é considerada a principal doença do cupuaçuzeiro, causando a redução de até 70% à produtividade das plantas. O vento e a chuva são os principais agentes de dispersão do fungo, podendo ocorrer a produção de esporos por até três anos, mesmo quando os ramos de vassouras-de-bruxa não estão aderidos à planta e ficam expostos sobre o solo.
Por conta dessa característica, os restos de vassoura-de-bruxa são normalmente queimados como forma de evitar nova disseminação do fungo na área produtiva. Mas o método não é o indicado. A queima gera poluição ambiental, desperdícios de nutrientes, riscos de incêndios e não traz nenhum retorno ao agricultor. A compostagem, por outro lado, resolve o problema do acúmulo de resíduos da cultura, tais como galhos, folhas e frutos contaminados e ainda gera um substrato que ajuda a reduzir os custos com a aquisição de insumos.
“Queríamos uma alternativa ao uso do fogo e a utilização da compostagem foi bastante satisfatória nesse sentido. É um processo simples, barato e sustentável, em que ganha o agricultor e o meio ambiente”, diz Hyanameyka.
Composto nutritivo
O aspecto nutritivo do adubo produzido foi outro ponto observado no estudo. Análises mostraram que, ao final do processo, o composto apresentou níveis satisfatórios de nitrogênio, cálcio, fósforo e potássio.
As plantas de cupuaçuzeiros testadas com aplicação do substrato obtiveram bons resultados de crescimento, diâmetro e número de folhas, com desenvolvimento vegetativo similar ao cultivado com um substrato comercial.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Roraima Edmilson Evangelista da Silva, muito dessa característica nutritiva tem origem na própria forma de ataque de Moniliophthora perniciosa. Inicialmente, a doença provoca um engrossamento dos ramos e surgimento de muitos brotos laterais. Com o tempo, esses brotos vão secando, aparecendo a vassoura-de-bruxa seca, que é o sintoma característico da doença.
Silva explica que quando a planta percebe que está sendo atacada, ela acaba enviando muitos nutrientes para os ramos afetados. “O fungo engana a planta. Assim, quando esse ramo morre, seca preservando todos os nutrientes que tem dentro. Está aí a diferença entre fazer a compostagem com folhas secas de mangueira, por exemplo, que são pobres em micronutrientes, em relação às de vassouras secas, que ainda estão altamente nutritivas”.
Aprovado em campo
A tecnologia já está sendo aplicada em campo pelo produtor rural Osmar Batista de Souza. Ele já viu de perto os prejuízos que a vassoura-de-bruxa pode causar no cupuaçuzeiro. A propriedade do agricultor, localizada no Município de Pacaraima, a 214 km de Boa Vista (RR), apresentava pomar infestado pela doença.
A medida inicial foi a poda fitossanitária, quando foram removidos os ramos doentes e mal posicionados. As podas geram grande quantidade de resíduos, que eram queimados pelo agricultor. Em 2016, Souza começou a fazer a compostagem dos restos culturais e hoje a atividade já está consolidada em sua propriedade.
O agricultor familiar aproveita os galhos, folhas cascas e sementes no processo, que é simples e não requer muita manutenção. Ele construiu, com auxílio do projeto‘Fortalecimento da Produção de Cupuaçu e de seus Subprodutos no Extremo Norte do Brasil’, uma iniciativa da Embrapa Roraima, em parceria com a Aliança de Integração e Desenvolvimento das Comunidades Indígenas de Roraima (ALIDCIRR), e patrocínio da Petrobras através do programa Petrobras socioambiental, uma composteira de cinco baias e, atualmente, tira cerca de 150 sacos de adubo.
O substrato produzido já supre metade da necessidade do pomar de 750 plantas. Entre as vantagens apontadas pelo agricultor estão a facilidade da utilização do adubo orgânico e a economia na aquisição de fertilizantes comerciais.
“Eu não sabia que os resíduos oriundos dessas podas fitossanitárias podiam ter outra destinação, como a compostagem. No início, fiquei com receio de contaminar novamente os cupuaçuzeiros com a vassoura-de-bruxa, mas isso não aconteceu. Já venho usando o substrato no pomar há mais de um ano e não faço mais a queima. Estou muito satisfeito com o resultado. A perspectiva é ampliar a estrutura da composteira e, com o adubo orgânico, investir na produção agroecológica.”
Clarice Rocha (MTb 4733/PE)
Embrapa Roraima
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