20/12/17 |   Agroenergia  Florestas e silvicultura

Oeste do Paraná discute gargalos da produção florestal para geração de energia

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Foto: Katia Pichelli

Katia Pichelli -

O agronegócio é o carro-chefe da economia da região Oeste do Paraná. A região é responsável por 24% dos grãos produzidos no Estado, 45% do efetivo de rebanho suíno, possui 29% do efetivo de frangos, entre outras posições de destaque no agronegócio paranaense. Mas o que pouca gente sabe é que estas cadeias produtivas precisam de um insumo bastante importante: a biomassa florestal para geração de energia térmica. Ou seja, plantios florestais capazes de suprir as demandas de fornos e caldeiras, pois são uma energia renovável e sustentável. A região tem pouca tradição neste tipo de produção, tendo que, muitas vezes, buscar matéria-prima em outros lugares. Este tema esteve em debate dias 13 e 14/12 em Palotina/PR, no Seminário “Experiências e desafios da produção florestal com foco em biomassa para energia na região oeste do Paraná”, realizado pela Embrapa Florestas, CIBiogás, Itaipu Binacional e C.Vale Cooperativa Agroindustrial e que reuniu cerca de 80 técnicos de cooperativas, extensionistas e produtores rurais.

“Precisamos entender que a biomassa florestal é uma fonte de energia bastante importante”, explica João Bosco Gomes, pesquisador da Embrapa Florestas e coordenador do evento. “Assim como plantamos culturas agrícolas para suprir nossas diversas necessidades de alimentação, por exemplo, também plantamos florestas para suprir as necessidades de matéria-prima para geração de energia. A produção de energia térmica a partir de florestas plantadas é uma fonte de energia renovável e competitiva frente ao uso de combustíveis fósseis e ainda evita a busca dessa biomassa, necessária a produção de energia, pelo desmatamento das florestas nativas”, pondera o pesquisador. A árvore mais utilizada com esta finalidade é o eucalipto, por suas boas características de densidade e poder calorífico. As condições de solo e clima locais e um manejo adequado permitem que a região apresente uma produção sustentável de madeira de eucalipto para a produção de energia. “A região Oeste vive um paradoxo”, explica o pesquisador. “Tem alta produtividade de grãos e proteína animal, mas pouca tradição em plantios florestais para suprir estas cadeias produtivas, que dependem de calor para seus processos de transformação. Ou seja, é necessário buscar este tipo de matéria-prima em outras regiões, o que acaba encarecendo o processo”.

Madeira é combustível renovável, eficiente e barato
Segundo dados do Instituto de Florestas do Paraná explicados pelo técnico extensionista da Emater/PR, Amauri Ferreira Pinto, o Paraná consome 51 milhões de m3 de madeira por ano, sendo quase 25 milhões para geração de energia. “A madeira é o combustível mais barato que existe”, comentou, “no entanto, a demanda tem aumentado bastante, mas não plantamos o suficiente para atender”. A região Oeste, embora com alta demanda por biomassa florestal, é responsável somente por 3,5% dos plantios do Estado. “Precisamos aproveitar este momento em que a agricultura está sendo repensada e investir em sistemas integrados de produção, em que o componente florestal faz parte do planejamento da propriedade não só nos aspectos ambientais, mas também produtivos”. Para Amauri, deve existir uma integração de culturas e não competição entre sistemas de produção. “Quando pensamos em atividades de curto, médio e longo prazo para as propriedades, o plantio florestal entra justamente para atender o aspecto de longo prazo, trazendo mais sustentabilidade ao produtor rural”, explica. “A cadeia florestal na região Oeste participa com somente 1% do valor bruto de produção, mas está ligada diretamente à sustentabilidade de cadeias importantes, como grãos e proteína animal, então é uma cadeia importante”, afirma.

A eficiência e eficácia do uso da madeira já foi comprovada pelas Cooperativas da região. Alcemir Chiodelli, gerente da área de Grãos da C.Vale, explicou em sua palestra que, enquanto o custo de produção de 1000 kcal de álcool é R$ 0,352, de GLP é R$ 0,293, de BPF é R$ 0,143, o custo da lenha é R$ 0,050. “Claro que existem outros aspectos envolvidos que mexem nesta formação de custos, mas nos preocupamos muito com a sustentabilidade do processo e a lenha é a melhor alternativa comparada a BPF, álcool, GLP, e diesel”, ponderou. “A produção de grãos é crescente, mas nossos processos têm que ser sustentáveis e isso implica em analisarmos aspectos econômicos, sociais e ambientais. O uso eficiente da energia de biomassa florestal é um dos nossos desafios”, completa.

Pesquisa pode elevar produtividade florestal e ajudar no aumento da oferta de madeira para energia
Segundo o pesquisador Antônio Bellote, da Embrapa Florestas, “a demanda por biomassa florestal para geração de energia hoje é maior que a oferta e aumenta a cada dia, principalmente nos setores da agroindústria: na secagem de grãos, chá, tabaco, produção de ladrilhos e na indústria cerâmica, em praticamente todas as regiões do País”. Em sua palestra, Bellote ressaltou que, no Brasil como um todo, ainda hoje 48% da biomassa florestal vem de espécies nativas, situação que precisa ser mudada com urgência. “Temos que cada vez mais investir em plantios florestais, pois são renováveis e com maior eficiência para geração de energia, além de ser excelente fixadora de C e balanço nulo no efeito estufa”. O pesquisador ressaltou as inúmeras possibilidades de transformação da biomassa florestal em energia, envolvendo químicos, eletricidade e etanol de segunda-geração. Mas, para isso, é necessário ter matéria-prima de qualidade. “A geração atual de clones produz de 20 a 25 toneladas de biomassa/ha/ano. Temos clones potenciais para 25 a 30 e esperamos, com o desenvolvimento de uma nova geração de clones, ultrapassar a marca de 35 ton/ha/ano”.

Estimativas do CIBiogás-Energias Renováveis, mostram uma defasagem de cerca de 19 mil hectares de plantios florestais para geração de energia ao ano na região. Para fazer frente a esta questão, a instituição tem trabalhado junto aos produtores rurais com os conceitos de florestas descentralizadas; manejo florestal destinado à biomassa energética; florestas de baixo custo; e seleção de áreas pela metodologia de terras de vocação florestal. Segundo o engenheiro florestal Giordano Corradi, “estamos realizando testes práticos para ciclo curto, com idade de corte de 4 a 5 anos, em pequenas áreas. Nossa ideia é que desta forma haja fluxo de caixa ao pequeno produtor rural, que trabalha com mão de obra familiar”. O professor e consultor Marcos Luiz de Paula Souza explica que é necessário estudar o crescimento médio anual na região Oeste, em condições de pequenos produtores, pois pode ser uma alternativa para produção de biomassa florestal para a região. Para isso, estão realizando, além dos testes práticos, todo um levantamento de dados da região, cruzando cartas digitais, mapas de solos, entre outros dados, com validação a campo. “Queremos estimular a utilização de terras que, devido a algum motivo, não estejam sendo utilizadas para o uso intensivo, para o uso com florestas energéticas para atender principalmente o Agronegócio”, explica o professor.

Novos processos podem potencializar a geração de energia a partir de biomassa florestal
As possibilidades de transformação de biomassa em energia muito além da queima foi tema da palestra do pesquisador Erich Schaitza, da Embrapa Florestas. “Umidade na madeira é o maior parasita do sistema de produção de energia e um dos gargalos do desenvolvimento tecnológico”, explicou. A partir disso, a inovação no setor deve ser capaz de gerar alternativas para o uso eficiente da madeira, pensando em subprodutos da queima da biomassa. “Teríamos, então, uma indústria principal e indústrias agregadas gerando produtos de alto valor agregado: serraria, químicos, carvão, energia térmica, energia elétrica, a partir da biomassa. É o conceito de biorrefinaria florestal”, explica o pesquisador. Schaitza falou também sobre as possibilidades de geração de energia e uso dentro das propriedades rurais, como uma alternativa de negócio para os produtores. “Mas temos um bom caminho de pesquisa ainda pela frente, tanto na questão de desenvolvimento de tecnologia quanto de viabilidade econômica aos produtores. Para isso, estamos em busca de parcerias para este desenvolvimento. Como ‘buscar energia longe’ é algo impensável por conta do custo, o caminho aqui para a região Oeste é, então, desenvolver, inovar”, ponderou o pesquisador.

A temática florestal tem crescido a passos tímidos na região, mas já foi o suficiente para fomentar a criação da Associação Florestal da Aliança Oeste, conforme explicou o engenheiro florestal André Ricardo Angonese, da Florestal Ouro Verde, que tem trabalhado diretamente com testes e plantios de clones para geração de energia. “Cultivares de híbridos urograndis têm se destacado na região pela densidade, que é um dos fatores preponderantes para a geração de energia”, explica. Angonese apontou como tendências para as mudas florestais o uso de tubetes biodegradáveis, que já estão em uso na Europa, e a robotização de viveiros, com práticas como o estaqueamento por robôs e a seleção de mudas com laser.

Projeto vai incentivar a produção florestal na região Oeste do Paraná
Toda esta preocupação com o uso de fontes renováveis tem feito instituições da região Oeste investirem em pesquisas e soluções. Neste enfoque, o Seminário aconteceu dentro do escopo do projeto Bioeste Florestas, uma parceria entre a Embrapa Florestas, Itaipu Binacional e CIBiogás. O projeto foi criado para dar bases mais sólidas ao plantio de árvores para a produção de energia a partir de biomassa florestal na região e trabalha em três linhas de ação: a disponibilização de ferramentas de diagnóstico e prognóstico dos plantios de eucalipto na região, a partir das condições de solo e clima locais e do nível tecnológico desses plantios; a melhoria da sustentabilidade dos sistemas de produção de eucalipto, com ensaios a campo de materiais genéticos, espaçamento de plantio, adubação, uso de dejetos de animais (principalmente de suínos que são abundantes na região) e testes de sistemas mistos de lavoura, pecuária e floresta (ILPF); e a transferência de tecnologias para técnicos, sejam de cooperativas/empresas ou extensionistas, e produtores rurais. Para Paulo Schmidt, Superintendente de Energias Renováveis da Itaipu Binacional, “precisamos desenvolver alternativas para o desenvolvimento futuro da região: problemas podem ser evitados com planejamento hoje”, ressaltou. A preocupação de Rafael Gonzalez, Diretor de Desenvolvimento Tecnológico do CIBiogás, é com a inovação: “a região tem que inovar, buscar alternativas, e só vamos conseguir isso com parcerias, a exemplo do Bioeste Florestas”.

O evento contou ainda com um dia de campo em áreas de produção florestal da C.Vale, onde os participantes conheceram ensaios de plantio de eucalipto com testes clonais e o efeito de doses de dejetos suínos na produção, finalizando com uma visita a uma estação de secagem de grãos da C.Vale, onde foi possível conhecer o uso da biomassa de madeira na produção de energia térmica.

Katia Pichelli (MTb 3594/PR)
Embrapa Florestas

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