Pesquisa desenvolve capa de micronutrientes para revestimento de fertilizantes NPK
Pesquisa desenvolve capa de micronutrientes para revestimento de fertilizantes NPK
Pesquisadores desenvolveram uma tecnologia pioneira no País de fertilizante completo. Trata-se de uma película formada por micronutrientes, em grande concentração que recobre de forma homogênea grânulos dos macronutrientes nitrogênio, fósforo e potássio, conhecidos pela sigla NPK. Com isso, o agricultor terá um produto completo para aplicar na lavoura com nutrientes balanceados e potencial de aumentar a produtividade e reduzir aplicações de fertilizantes.
A inovação é fruto de uma década de estudos desenvolvidos no Laboratório Nacional de Nanotecnologia aplicada ao Agronegócio (LNNA) da Embrapa Instrumentação (SP), que lidera a Rede AgroNano. A pesquisa é um exemplo bem-sucedido de inovação aberta que envolveu a empresa do setor produtivo Produquímica/Compass Minerals, maior fabricante nacional de micronutrientes, para quem a formulação foi licenciada em 2017.
A empresa está apresentando a novidade com o nome comercial de MicroActive na 10ª Fertilizer Latino Americano (FLA), que teve início nesta segunda (22) e termina na quarta-feira (24), em São Paulo. Considerado o principal evento do setor de fertilizantes, a conferência anual tem a participação de inscritos de mais de 50 países.
Revestimento resistente
Líder da Rede AgroNano, o pesquisador da Embrapa Caue Ribeiro diz que o material desenvolvido tem a função de recobrir a superfície do grão, que vai ser usado para levar o outro fertilizante junto. “Tinha de ser uma capa de alta aderência na superfície que não se desprendesse quando fosse aplicada. Não poderia sair”, conta. O resultado foi um produto altamente concentrado em micronutrientes que pode ser aplicado diretamente em fertilizantes NPK, sem a necessidade de aditivos.
Além de adesão eficiente, a formulação tinha que ter uma quantidade próxima ou adequada, o que corresponde à proporção de duas partes de micronutriente para cada uma de macronutriente, a fim de que a planta receba todos os elementos de que precisa de forma balanceada.
“Esse foi o maior desafio da pesquisa, colocar um nutriente em cima do outro, sem perder a adesão ao longo do tempo, que conseguisse manter a proporção correta, ser de fácil aplicação e ainda que fosse homogêneo. Juntos, desenvolvemos uma fórmula com componentes amigáveis, que não agride o meio ambiente”, lembra o pesquisador.
A complexidade da equação se deve, sobretudo, ao fato de o produtor ter de aplicar o fertilizante na lavoura em grande quantidade, dependendo do tamanho da plantação. De acordo com Ribeiro, a dosagem inicial deve ser a mesma sempre até o final da aplicação. “A pesquisa consistiu basicamente em encontrar essa formulação, o correto balanço dos componentes e fazer os ajustes”, diz.
Em busca de uma rota alternativa
Desenvolvida no âmbito da Rede AgroNano, composta por mais de 150 pesquisadores e com o apoio da Rede FertBrasil, a pesquisa teve início em 2013, a pedido da Produquímica, mas focada no desenvolvimento de uma suspensão de nanopartículas de óxido de zinco (ZnO), como rota tecnológica alternativa para recobrimento de fertilizantes comerciais.
De acordo com o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Produquímica, Ithamar Prada, a proximidade com o campo permite trazer ideias para o desenvolvimento de tecnologias voltadas às necessidades atuais. “Em um esforço conjunto de mais de três anos, a parceria entre Embrapa e a Produquímica desenvolveram um conceito moderno e eficiente de fornecimento de micronutrientes para aplicação via solo, a linha MicroAtive”, declara.
Mas para atender às exigências de mercado, a pesquisa seguiu outra direção, que culminou no desenvolvimento da formulação atual. A tecnologia chega pouco mais de um ano depois da Instrução Normativa 46 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que dispõe sobre regras para uso de fertilizantes minerais destinados à agricultura. De 22 de novembro de 2016, a instrução requer soluções referentes à homogeneidade de aplicação de micronutrientes e garantia de composição.
A coordenadora da pesquisa na Embrapa Instrumentação, Elaine Cristina Paris, explica que foram utilizados vários componentes minerais e aditivos na composição do produto.
O trabalho envolveu grupos de pesquisadores do LNNA e da unidade da Produquímica, em Suzano (SP), que já desenvolvia micronutrientes com quantidades destinadas a diferentes tipos de culturas. “Conseguimos desenvolver uma suspensão estável para os fertilizantes que a empresa já desenvolvia na forma sólida, em pó, com a qual não é possível fazer recobrimento direto”, conta Elaine.
Para Ithamar Prada, a demanda por novas formas de fornecimento de micronutrientes via solo foi motivada por alterações ocorridas no campo. Com incremento do plantio direto, a aplicação de calcário em superfície altera as condições de acidez do solo na camada superficial. Isso teria alterado também a forma de aplicação dos fertilizantes no solo. “A aplicação via sulco de semeadura mudou, na maior parte das fazendas, para uma aplicação a lanço. Isso faz com que precisemos de produtos que tenham uma melhor solubilidade e que, principalmente, promovam uma melhor distribuição espacial,” explica o diretor.
Menores custos, mais produtividade
A pesquisadora Elaine Paris ainda aponta outras vantagens para a tecnologia. A formulação pode reduzir o número de aplicações de fertilizantes, impactando diretamente nos custos da produção agrícola, além de ter o potencial de fornecer as condições ideais de nutrição para as plantas. “A formulação pode aumentar a produtividade, uma vez que o fornecimento de macro e micronutrientes de modo simultâneo permite às plantas produzirem próximo ao seu potencial genético”, acrescenta.
Para a pesquisadora Maria Alice Martins, integrante do grupo de pesquisa da Embrapa Instrumentação, o desenvolvimento da formulação foi um desafio e serviu como um estímulo à criação de um novo produto, com demanda direta do mercado e aplicação concreta.
“A pesquisa ainda ofereceu a oportunidade de realização de ensaios em campo, com lavouras, permitindo ao produtor experimentar na prática uma tecnologia desenvolvida e testada em laboratório com equipamentos sofisticados, como a microscopia eletrônica de varredura, utilizada para observar a característica morfológica da formulação”, completa.
“Um dos principais pilares da Produquímica é a inovação. A empresa investe significativamente todos os anos em desenvolvimento de projetos próprios, mas também trabalha em parceria com instituições de pesquisa de renome no Brasil e no mundo. Para nós é um orgulho ter compartilhado do desenvolvimento da Tecnologia MicroActive em parceria com a Embrapa, uma empresa de pesquisa que tanto admiramos”, comentou o diretor de P&D da Produquímica, Ithamar Prada.
Macro e micronutrientesDe acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), de janeiro a dezembro de 2017, o mercado de fertilizantes no Brasil consumiu mais de 34 milhões de toneladas. O País é o quarto maior consumidor do insumo no mundo, e importa 75% do total utilizado. Os fertilizantes são adubos sintéticos ou naturais que disponibilizam nutrientes vitais para o bom desenvolvimento das plantas, sendo classificados de acordo com as quantidades exigidas por elas, em duas categorias: os macronutrientes compreendem o nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), enxofre (S), magnésio (Mg) e cálcio (Ca). Já os micronutrientes são o boro (B), cobre (Cu), manganês (Mn), zinco (Zn), molibdênio (Mo), ferro (Fe) e cloro (Cl). Segundo o pesquisador Caue Ribeiro, o fertilizante está para a planta como as vitaminas estão para o organismo humano. “Se o indivíduo não tiver determinadas vitaminas, ele não vai conseguir acessar o nutriente. O que muda é a forma com que esse nutriente é levado para a planta. Ela precisa na realidade do íon metálico, do zinco, por exemplo. Sem ele, a planta não acessará o macronutriente, mesmo que este esteja presente no solo ”, explica. Os micronutrientes cumprem esse papel. “A pesquisa conseguiu disponibilizar esse elemento dentro da formulação do fertilizante”, finaliza o líder da Rede AgroNano. |
ProduquímicaA Produquímica é uma empresa do grupo Compass Minerals. Possui dez fábricas no Brasil que produzem insumos e produtos para nutrição vegetal, animal, tratamento de águas, químicos e fertilizantes. Em Iracemápolis (SP), mantém o Centro de Pesquisa Geraldo Schultz, estação com mais de 30 hectares na qual são realizadas pesquisas agronômicas em nutrição e fisiologia de plantas para alta performance. |
Joana Silva (MTb 19.554/SP)
Embrapa Instrumentação
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Francisco Gimenez (Colaborador)
Produquímica
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