02/02/18 |   ILPF  Zoneamentos

Artigo - Integrar para não desperdiçar

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Foto: Ronaldo Rosa

Ronaldo Rosa - Adriano Venturieri

Adriano Venturieri

*Adriano Venturieri

A região amazônica sempre despertou, desde os tempos dos colonizadores europeus, a imaginação sobre lendas e mitos, riquezas e outros mistérios da natureza. Passou depois de algum tempo a ser chamada de “inferno verde”, “pulmão do mundo” e hoje é conhecida pela sua importância na conservação e preservação da biodiversidade. Na década 1960 a preocupação com a vulnerabilidade da região, devido a sua baixa densidade demográfica, aliada as secas no nordeste brasileiro foram fatos decisivos para que houvesse um movimento no sentido de ocupação humana através do lema “terra sem homens para homens sem terra”.

Pairava no planalto um sentimento imperioso da necessidade de tornar essa vasta região habitada e para isso pôs em prática por meio do Plano de Integração Nacional um intenso processo de ocupação baseado na “pata do boi”, atividade produtiva de mais rápida consolidação, pois existia um forte incentivo para desflorestamento da região. Naquele momento, sob a égide de “integrar para não entregar” houve um grande avanço das pastagens sobre a floresta, hoje expressos em cerca 60% de desflorestamento do bioma, que acumula 428.398 Km2 (PRODES 2016).

Atualmente, graças ao avanço das pesquisas em diversas áreas do conhecimento, a região deixou de ser desconhecida para sociedade e, sobretudo, para a comunidade científica global. Inúmeras pesquisas têm sido realizadas por cientistas do país e do exterior, os quais buscam encontrar respostas aos questionamentos levantados acerca dos impactos que a ação antrópica tem causado sobre diferentes temas como: solo, clima, flora, fauna, água, e mais especificamente, sobre a sua biodiversidade.

Temos, no entanto, que enfrentar nossas questões e desmistificar novas lendas que surgiram sobre a região ao longo dos anos, como as que tratam da baixa produtividade agropecuária da Amazônia. Em um mundo onde a demanda por alimentos aumenta exponencialmente visando alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, que de acordo com a FAO, serão necessários serem produzidos mais 50% do que é produzido hoje, podemos pensar, sim, em tornar nossa região em um grande produtor de alimentos. Todavia, para que possamos alcançar o almejado desenvolvimento, precisamos investir em tecnologias, resultante de pesquisas que estejam em consonância com a nossa realidade.

Precisamos (re)conhecer, ainda mais, em detalhe, nossos solos, pois é nele que será edificada uma nova revolução: a revolução da produção integrada. A integração dos usos para não desperdiçar novas e velhas áreas é hoje, a pedra angular para o desenvolvimento de um novo modelo de ocupação do espaço amazônico.

Sabemos que as áreas atualmente alteradas podem, e devem ser melhores trabalhadas com a utilização de tecnologias que visem tanto a Integração da Lavoura a Pecuária e a Floresta (ILPF), como os Sistemas Agroflorestais (SAFs) que a Embrapa vem desenvolvendo ao longo das últimas décadas e é capaz de dar suporte a sua implementação e monitoramento. Temos um potencial imenso de intensificar a produção sem a necessidade de abertura de novas áreas via desflorestamento, pois a partir da análise dos dados dos projetos de Uniformização dos Zoneamentos da Amazônia Legal (Embrapa/MMA) e do projeto TerraClass (Embrapa/INPE-CRA) foi possível identificar aproximadamente 2,6 milhões de hectares de solos com aptidão para agricultura que estão sub-utilizados, pois encontram-se ocupados por pastagens mal manejadas ou em estado de abandono seguindo para regeneração.

Nestas mesmas áreas, ao invés de “produzirmos” apenas forragens de baixa qualidade ou capoeiras com baixos serviços ambientais, temos a possibilidade de termos uma elevada produtividade pecuária, com pastos bem manejados, além de podermos produzir alimentos, como mandioca, milho, soja, arroz e feijão-caupi.

O sistema ILPF permite, ainda, a produção de madeira, através do plantio de árvores que também proporciona melhores condições de conforto térmico para os animais que estão no campo. Por outro lado, os SAFs possibilitam a integração de espécies perenes da Amazônia como o açaí, cupuaçu, cacau, bacuri, além de essências florestais, como também a integração da Palma de Óleo com culturas de subsistência que proporcionam aumento de renda aos pequenos produtores, conforme demostrado por resultados de pesquisas.

Cumpre assim entender que para tratarmos de um ambiente natural produtivo e sustentável, urge assegurarmos a garantia de recursos para uma retaguarda de investimentos em tecnologias que nos permita gerar conhecimentos que possam ser adotados pelos diversos níveis de produtores. Destarte, o conhecimento não pode ser excludente, muito pelo contrário, deve ser inclusivo e indutor de desenvolvimento para a transformação dos atuais sistemas de produção que promovam a transformação da paisagem em favor da sociedade.

Finalmente, precisaremos reunir a por em prática, orçamentos e esforços interinstitucionais, em uma grande aliança, que nos assegure a integração de ações de pesquisa&desenvolvimento, transferência de tecnologia e inovação que seja extensiva e inclusiva aos diferentes atores sociais e agentes públicos e privados em parcerias moldadas para essa finalidade.

Estamos certos que somente a partir da integração de programas, ações, e pessoas é que poderemos pensar em um novo momento para o desenvolvimento regional. Precisamos assim de uma nova ordem amazônica: Integrar para não desperdiçar.

* Chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental

Embrapa Amazônia Oriental

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