29/05/15 |   Agricultura familiar

Troca de saberes sobre a criação de abelhas sem ferrão

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Foto: Fábio Ribeiro dos Santos

Fábio Ribeiro dos Santos - Detalhe de colmeia de Melipona quadrifasciata

Detalhe de colmeia de Melipona quadrifasciata

"Aumentar a produção de morangos e reduzir o uso de agroquímicos utilizando abelhas sem ferrão" - esse foi um dos desafios propostos no final do Curso sobre criação de abelhas sem ferrão, no início do mês de maio, aos participantes do treinamento. Promovido pela Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), Embrapa Uva e Vinho e Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o evento foi apoiado pelo Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio), agência responsável pela execução do Projeto Polinizadores do Brasil, coordenado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Global Environment Facility (GEF) e United Nations Environment Programme (UNEP).

Segundo o pesquisador da área de entomologia da Embrapa Uva e Vinho, Marcos Botton, o objetivo foi reunir técnicos e produtores para uma troca de saberes estimulando o emprego das abelhas sem ferrão na polinização. "Esse foi o primeiro de uma sequência de encontros que serão promovidos com o objetivo de dar continuidade ao trabalho com a realização de projetos para identificar as melhores espécies com potencial para polinizar diferentes culturas e quais as necessidades para o seu estabelecimento em estufas", pontuou Botton, que foi um dos articuladores do curso.

Além de participarem de palestras teóricas e atividades práticas, o grupo de meliponicultores, técnicos, pesquisadores e estudantes receberam como bônus muitas experiências compartilhadas, que enriqueceram a capacitação.

Uma das principais atrações extra foram as caixas para produção de mel apresentadas pelo produtor Nilo Techio, de Bento Gonçalves. Em conjunto com seu sócio, a partir da convivência e observação do comportamento das diferentes espécies, eles construíram caixas 'sob medida' para atender as necessidades das abelhas e otimizar o seu trabalho como meliponicultores. "Trabalho com abelhas desde 1985, sempre estou fazendo cursos e buscando aprender mais. Também acho importante contar minha experiência, o que aprendi ao longo dos anos. Essa troca é importante para avançarmos", avaliou.

Ao apresentar cada customização, Techio explicava detalhes sobre o comportamento e a alimentação de cada espécie, que acompanha diariamente nas suas mais de 60 colméias de abelhas com e sem ferrão. Em sua grande maioria, as caixas facilitam a extração de mel e o manejo da colmeia, evitando a morte das abelhas operárias e facilitando o trabalho do produtor. "É preciso cuidar, pois as abelhas estão desaparecendo muito. Nunca vi tanta morte de abelha como neste último ano. Com esses ajustes fica mais fácil multiplicar as colméias", avaliou Techio.

Edgar Luís Giordani foi outro produtor que trouxe experiências para compartilhar. Desde a infância ele foi um apaixonado por abelhas. "Eu as via em atuação na natureza e decidi criá-las, fazia caixas, inventava , colocava em diferentes ambientes. Após 30 anos, minha paixão virou profissão, mas ainda não provém todo o meu sustento", revela. Atualmente ele possui 70 colméias Apis melifera e 6 colméias de abelhas sem ferrão que produzem o "Mel da Montanha das Uvas". Além do mel, ele também comercializa pólen e própolis da "Montanha das Uvas". Sua caixas estão espalhadas nas localidades da Vila Leopoldina, Faria Lemos e Caminho das pedras no interior de Bento Gonçalves.

Além da paixão, ele também se profissionalizou e participou de muitos cursos de capacitação e está próximo a realizar um sonho: ver a sua Casa do Mel em funcionamento. O projeto irá unir a sua grande paixão com um apelo turístico, no qual os visitantes vão conhecer o mel, no espaço instalado nos Caminhos de Pedra, rota turística do município de Pinto Bandeira, na Serra Gaúcha. "Já plantei mais de 800 árvores de 30 diferentes variedades que estudei e selecionei ao longo dos anos para que as minhas abelhas e os turistas tenham flores todos os dias do ano. Além de prover alimento para as abelhas, as flores irão fornecer uma moldura para meu projeto turístico", anuncia.

Giordani destaca que como produtor está fazendo a parte dele e se sente mais amparado agora com o apoio da pesquisa, que identificou durante o curso. "Com certeza unindo os nossos esforços iremos avançar mais ainda, pois o custo da produção é alto, mas o valor agregado é baixo e precisamos ter qualidade e quantidade para sobreviver", ponderou.

As palestras foram ministradas por profissionais de diferentes instituições. Patrícia Nunes Silva, da PUCRS, apresentou informações sobre as abelhas sem ferrão, suas características biológicas, a organização de suas colônias, formas de oviposição, enxameação e nidificação. Já a pesquisadora Sidia Witter, da Fepagro, falou sobre as principais abelhas sem ferrão presentes no estado do Rio Grande Sul e a polinização de culturas agrícolas por abelhas sem ferrão. Kamila Leão veio diretamente da Embrapa Amazônia Oriental para repassar o conhecimento sobre a confecção de armadilhas para a captura desse tipo e abelhas, tipos de colméia e método de multiplicação de colônias. Charles dos Santos da PUCRS palestrou a respeito da biologia reprodutiva das abelhas sem ferrão e outras espécies de abelhas.

Os participantes também tiveram a oportunidade de conhecer os meliponários da Embrapa Uva e Vinho. Conduzidos pela técnica Vânia Sganzerla, do Laboratório de Entomologia, eles puderam ver na prática o funcionamento e estrutura das colmeias das variedades de abelhas sem ferrão, mirim, mandaçaia e jataí. Depois o grupo seguiu até a pousada da Embrapa onde puderam ver entre o vão das paredes e muros de pedra da mesma, entradas de colmeias em seu estado natural.

No sábado de manhã, o grupo visitou, no município de Bom Princípio a propriedade do produtor agrícola Edvald Gossler, que utiliza abelhas sem ferrão na polinização de morangueiros, conhecendo na prática a criação comercial de meliponídeos. Nesse local, Betina Blochtein, professora da PUCRS, explicou a legislação vigente para a manutenção de meliponários e o grupo pode discutir sobre o assunto e tirar dúvidas.

Segundo Patrícia Nunes da Silva, uma das organizadoras do evento e pós-doutoranda da PUCRS no tema, a criação de abelhas sem ferrão é uma atividade ecologicamente correta, de baixo investimento inicial e com boas perspectivas de retorno financeiro, ou seja, uma ótima alternativa de geração de renda, principalmente para a agricultura familiar.

Os participantes irão integrar uma rede para compartilhar conhecimentos e informações sobre práticas de manejo e trabalhar em conjunto a partir da culturas com maior importância para os produtores na Serra Gaúcha.

Viviane Zanella (Mtb14004)
Embrapa Uva e Vinho

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Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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