O Centro de Tecnologia para Raças Zebuínas Leiteiras (CTZL) da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF) recebeu 260 produtores, técnicos e estudantes na manhã da última sexta-feira (22). Eles participaram de Dia de Campo com o tema "Reforma de pastagens e nutrição de bovinos", realizado em parceria com a Associação para o fomento à pesquisa de melhoramento de forrageiras (Unipasto) e com o apoio da Emater-DF, da Associação dos Criadores de Zebu do Planalto (ACZP), da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e da Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal (Fape-DF). O evento teve como objetivo transferir tecnologias e conhecimentos gerados pela Embrapa e seus parceiros sobre diversificação, sustentabilidade e intensificação da produção das pastagens e nutrição animal, contribuindo assim para a redução das emissões de gases de efeito estufa na agricultura. Foram apresentadas três estações técnicas. Na primeira, foram abordadas a pesquisa e inovação em genética zebuína leiteira e a parceria entre a Embrapa e a Unipasto para o melhoramento genético de forrageiras. O pesquisador Carlos Frederico Martins falou sobre as atividades desenvolvidas pelo CTZL, focado na produção de genética zebuína leiteira (Gir leiteiro e Sindi leiteiro). No CTZL, também são realizadas pesquisas em reprodução animal (biotécnicas reprodutivas e produção de genética por reprodução in vitro); recuperação da mata ciliar; sistemas de produção de forrageiras com boas práticas agrícolas e medição de serviços ambientais com indicadores de solo, água e biodiversidade. São ainda promovidas ações de transferência de tecnologias; capacitações técnicas; escolha de touros provados e a Prova de Produção de Leite a Pasto, com o objetivo de selecionar animais com alta produção de leite e formar um banco genético. O gerente executivo da Unipasto, Marcos Roveri, falou sobre a parceria com a Embrapa para o desenvolvimento de cultivares de espécies forrageiras a partir das demandas do setor produtivo e a oferta dos produtos para o mercado, bem como as opções já disponíveis aos produtores. A segunda estação trouxe como temas a reforma de pastagem com Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e o manejo e desempenho animal em pastagens da cultivar de Brachiaria brizantha BRS Paiaguás, além de promover a demonstração da motossemeadora, equipamento desenvolvido pela parceria entre Embrapa e a empresa de implementos agrícolas Ikeda. O pesquisador Lourival Vilela abordou as principais estratégias para a recuperação e a reforma de pastagens degradadas, como a aplicação de corretivos e fertilizantes do solo, o consórcio entre braquiária e milho ou sorgo e o uso do Sistema São Matheus, que envolve a correção química, física e biológica do solo, pastejo, Plantio Direto de soja e ILP. Vilela apresentou dados comparativos entre o consórcio de capim com milho e de capim solteiro, destacando a maior produtividade e eficiência no aproveitamento dos fertilizantes do primeiro sistema. Já o pesquisador Gustavo Braga apresentou dados de ensaios de pastejo com a cultivar de Brachiaria brizantha BRS Paiaguás, lançado em 2013 pela Embrapa e a Unipasto, e as recomendações de plantio e manejo. O material é recomendado para solos de média fertilidade, tem porte médio, florescimento precoce (janeiro e fevereiro), e embora seja susceptível à cigarrinha das pastagens, apresentou elevado potencial de produção. Em ensaios realizados em Campo Grande (MS), com três anos de avaliação, a BRS Paiaguás apresentou, na época seca, ganho médio por animal cerca de 80% superior ao do BRS Piatã, outra cultivar de B. brizantha, além de taxa de lotação 40% maior. Já em ensaio conduzido na Embrapa Cerrados também por três anos, a cultivar foi superior à Brachiaria decumbens na produção de forragem no início do período seco, bem como em situações de baixo teor de fósforo no solo, graças à distribuição mais uniforme das raízes no perfil do solo, o que confere maior eficiência na absorção de nutrientes. A última estação foi sobre nutrição animal, destacando silagem e suplementação no verão e no inverno. O pesquisador Eduardo Eifert falou sobre o uso estratégico da suplementação, que se dá em função da qualidade da forragem disponível. Com o início do período seco, o valor nutricional das forrageiras tropicais diminui. Segundo Eifert, a suplementação deve atender às exigências do rúmen do animal, onde as bactérias fermentam o alimento, convertendo ureia em proteína. Ele explicou que a resposta do animal à suplementação é melhor quanto melhor for a qualidade e a quantidade de pasto. O pesquisador apresentou uma estratégia de suplementação na estação seca e na estação das águas. Boas práticas na produção de silagem foi o tema apresentado pelo pesquisador Roberto Guimarães Jr. Ele destacou os pontos críticos de controle no processo de produção da silagem e de manutenção do silo. Além de liberar pasto e poder ser produzida com diversas forrageiras, a silagem bem feita pode ser guardada por longos períodos. O pesquisador destacou, entre outros itens a serem observados, a importância do momento correto da colheita da forragem, que deve ter teores de matéria seca e de energia adequados à produção de silagem. Ele também falou sobre o manejo do silo e da alimentação dos animais. Aprovação dos visitantes Os produtores, técnicos e estudantes saíram satisfeitos com o evento. Alunos do sétimo semestre de medicina veterinária da UPIS, Plauto Sanches e Otávio Faria disseram que eventos como esse são importantes para a formação. "É bom difundir esses conteúdos para que possamos, quando formos profissionais, levá-los aos produtores", observou Otávio. Interessado em pastagens, o horticultor e produtor de leite em Brazlândia (DF), Clenildo de Araújo, afirmou que o Dia de Campo ampliou seus conhecimentos. "A gente aprende muita coisa que não sabia ou que estava fazendo errado", disse. Ele estava acompanhado pelo técnico da Emater-DF Ayslan Moreno, que trabalha no escritório regional da cidade. "As estações foram excelentes e os conteúdos foram bons, com uma linguagem acessível ao produtor", apontou. Já a médica veterinária Fabíola Schwartz veio de Lorena (SP) para participar do Dia de Campo. Ela trabalha em uma fazenda que atua na produção de leite orgânico. "Estamos fora do Bioma Cerrado, mas os conteúdos apresentados são bastante aplicáveis aos sistemas de produção da nossa região. As necessidades dos animais são as mesmas, tanto no sistema agroecológico como no convencional", afirmou. Fabíola achou interessante a divulgação das ações do CTZL, e disse que estava levando na bagagem os conceitos de consorciação de pastagem e as pesquisas com raças zebuínas leiteiras, bem como o interesse da Embrapa pela questão agroecológica. "Algumas pessoas quiseram estreitar contato, e isso é muito importante para a gente", frisou.