Tipo de solo é importante na definição das faixas de matas ciliares
Tipo de solo é importante na definição das faixas de matas ciliares
A falta de conhecimento dos tipos de solo associados às matas ciliares em todo o país, implica na geração de impactos negativos sobre os recursos hídricos, endossados pelas mudanças climáticas, comprometendo o meio ambiente e a sociedade como um todo.
Os pesquisadores Marco Gomes e Lauro Pereira, da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), autores também do trabalho “Aspectos geoambientais e áreas frágeis no Brasil”, acreditam que a simples redefinição de faixas de cobertura vegetal, como estabelece o atual Código Florestal, não traduz a realidade brasileira que é muito complexa, considerando as particularidades regionais, principalmente as climáticas, geomorfológicas e pedológicas.
O ambiente que compõe a mata ciliar, também conhecida como zona ripária, envolve vários aspectos ou condicionantes chamados de geoambientes, como geologia, geomorfologia e pedologia (solos), além da cobertura vegetal, clima e uso e ocupação do solo.
Marco Gomes explica que como tais condicionantes são muito diversificadas, já que dadas suas dimensões continentais, com certeza refletem as condições e particularidades de cada local ou região, evidenciando situações próprias e naturais de equilíbrio. "Talvez seja isso que falta ao homem: aprender com a natureza como se estabelece o equilíbrio entre os diversos componentes ou compartimentos ambientais/geoambientais", acredita.
Em termos técnicos isso quer dizer que a cobertura vegetal (mais ou menos densa, e mais ou menos larga – faixas dos cursos d’água) deve levar em conta o tipo de solo e a declividade ou inclinação do terreno e, ainda, o índice pluviométrico ou regime de chuvas da região, considerando a média dominante na bacia hidrográfica.
“Se considerarmos que no país existem, pelo menos, 14 classes de solos (Alissolo, Argissolo, Cambissolo, Chernossolo, Espodossolo, Gleissolo, Latossolo, Luvissolo, Organossolo, Neossolo, Nitossolo, Planossolo, Pintossolo e Vertissolo), 6 classes de declividade ou relevo (plano, suave ondulado, ondulado, forte ondulado, montanhoso e escarpado) e, ainda, cerca de 4 índices pluviométricos básicos distintos (equatorial – muito alto; tropical – alto; subtropical – médio e semiárido – baixo), teremos uma combinação fatorial de: 14 x 6 x 4 = 336. Isto se traduz em 336 combinações teóricas, em território brasileiro, envolvendo solo, declividade do terreno e clima. Entretanto, enfatiza o pesquisador, na prática existem restrições para determinadas combinações, o que reduz esse número”.
Todavia, ainda assim, centenas dessas combinações são perfeitamente possíveis, principalmente quando se introduz nessa abordagem o caráter pedomorfoagroclimático (solo + relevo+ uso agrícola + clima), expressão usada pelos autores em outros trabalhos e que serve de referência para exemplificar diversos cenários associados (ou vizinhos) ao ambiente de mata ciliar.
Diante do exposto, os autores recomendam que para a determinação das faixas de proteção dos cursos d’água em todo o país, conforme preconiza o Código Florestal vigente, é preciso levar em conta as particularidades regionais relacionadas à geologia, solo, relevo, clima e uso agrícola, o que exige estudos específicos, dada à grande extensão territorial e, consequentemente, à grande variabilidade espacial dos aspectos citados, de caráter pedomorfoagroclimático.
Com isto, acredita-se que o Código Florestal cumprirá fielmente a sua função de propor a proteção dos recursos hídricos, indo além de simplesmente estabelecer uma “faixa de cobertura vegetal”, de forma arbitrária e sem fundamentação técnico-científica desejável.
Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente
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