03/06/15 |   Agricultura familiar  Biodiversidade  Florestas e silvicultura  Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação  Produção vegetal  Recursos naturais  Transferência de Tecnologia

Dia de Campo do Projeto Biomas no Cerrado recebe 200 pessoas

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Foto: Liliane Castelões

Liliane Castelões - Pesquisador Jorge Werneck (Embrapa Cerrados)

Pesquisador Jorge Werneck (Embrapa Cerrados)

O 1º Dia de Campo do Projeto Biomas no Cerrado reuniu, na última sexta-feira (29), na Fazenda Entre Rios, localizada na região do Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF), cerca de 200 pessoas, entre produtores rurais, técnicos e profissionais da área. Os participantes conheceram algumas alternativas de uso de árvores nativas para diversificar ganhos econômicos e ambientais nas propriedades rurais do Bioma Cerrado.

Na Fazenda Entre Rios, pesquisadores da Embrapa, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) e Universidade de Brasília (UnB) desenvolvem experimentos em Área de Preservação Permanente (APP), Área de Reserva Legal e Área de Uso Alternativo do Solo (AUA). São 22 experimentos com mais de 10,6 mil árvores de 87 espécies diferentes plantadas na fazenda.

"Aqui temos um marco na parceria público-privada. O Projeto Biomas é a grande oportunidade de trazer para a prática o que estamos fazendo na pesquisa. Não se trata apenas de plantar árvores. Por trás disso, há ciência e tecnologia, metodologias e equipe multidisciplinar trabalhando para que possamos fazer acontecer o sonho de termos sistemas de produção agroambiental sustentáveis", declarou o chefe-geral da Embrapa Cerrados, José Roberto Peres, na abertura do evento.

O representante da presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e secretário-executivo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Daniel Carrara, destacou a importância de o produtor recuperar a área nativa da propriedade com rentabilidade, sem abrir mão da sustentabilidade. "Aqui está um pouco do que a ciência pode propor ao produtor rural, sem que ele perca competitividade", ressaltou, informando que o Senar será responsável pela capacitação de multiplicadores para as ações do projeto.

Adriano Galvão, um dos sócios da propriedade apontou o que os produtores rurais podem ganhar com a produção sustentável: "Muitas vezes, o produtor quer preservar sua propriedade da forma correta, mas faltava orientação. O Projeto Biomas veio para dar essa luz". Já o coordenador do Projeto Biomas no Cerrado, José Felipe Ribeiro, da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), explicou como se dá o cultivo de espécies arbóreas e herbáceas no mesmo espaço de terra e como o produtor rural pode lucrar com a proposta. "O grande desafio, dentro do permitido pela legislação, é trazer lucro ao produtor, além do benefício ambiental", afirmou.

"Dias de campo como esse são uma oportunidade não apenas de congraçamento e troca de ideias entre produtores e participantes do projeto, mas também de trazer conhecimento. Temos a preocupação de fazer pesquisas que tragam benefícios para o produtor, sem esquecer a busca por resultados que possam subsidiar a legislação", disse o coordenador-geral do Projeto Biomas, Gustavo Curcio, da Embrapa Florestas (Colombo, PR).

O Projeto Biomas teve início em 2010 e sua primeira fase deverá ser encerrada em 2019. Os estudos são desenvolvidos nos seis biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pampa, Mata Atlântica e Pantanal – com o objetivo de validar métodos que viabilizem a restauração ecológica da vegetação nativa e o uso econômico das árvores nas propriedades rurais. O Projeto Biomas tem o apoio do SENAR, SEBRAE, Monsanto e John Deere.

Estudos com espécies florestais

Equipes da UFG estão desenvolvendo experimentos com consórcio de espécies madeireiras exóticas e nativas do Bioma Cerrado, bem como de espécies madeireiras e frutíferas nativas com os objetivos de avaliar o potencial dessas espécies para recomposição de ARL e de selecionar as espécies mais promissoras, considerando produtividade e qualidade da madeira e dos frutos.

Ao consorciar mogno africano e palmeira guariroba, grupo da UFG pretende definir a melhor dose de gesso para o crescimento do mogno africano e comprovar que essas espécies são economicamente viáveis. Foram simulados vários cenários com a venda da madeira de mogno e guariroba. No cenário mais pessimista, a madeira é vendida por R$ 300/m3/hectare/ano, com lucro estimado de R$ 3,5 mil hectare/ano. No mais otimista, o produtor pode obter lucro de R$ 12 mil por hectare ano, com o preço de R$ 1 mil por metro cúbico de madeira.

Em um dos experimentos visitados no Dia de Campo, está sendo avaliado a potencialidade do baru, espécie nativa do Cerrado, para produção de energia. Para isso, o pesquisador da Embrapa Florestas, Alisson Santos, está estudando a influência do espaçamento na produção de biomassa do baru. "Estamos avaliando três diferentes espaçamentos em dois tipos de solos para indicar o melhor espaçamento para que o baru produza maior biomassa aérea e se torne uma fonte alternativa de renda ao produtor", explicou.

A escolha das espécies que devem ser plantadas para recompor ARL, segundo a pesquisadora Annete Bonnet, também da Embrapa Pesca e Aquicultura, deve ser feita de acordo com a demanda da propriedade e do mercado. "Primeiro, é preciso observar o relevo da propriedade e, depois de escolher as espécies, deve-se estabelecer o sistema de produção com o componente arbóreo", alertou.

Conservação da água e do solo

Uma das funções da APP é a de preservar os recursos hídricos. Por isso, o produtor deve ficar atento à recuperação de floresta fluvial em área de nascentes. O pesquisador Gustavo Curcio ressaltou que a escolha das espécies arbóreas nativas deve contemplar os tipos de solos (hidromórficos ou não hidromórficos).

Para avaliar os impactos das árvores no ciclo hidrológico, o pesquisador da Embrapa Cerrados, Jorge Werneck, realiza o monitoramento da chuva, da evapotranspiração, da umidade do solo e da qualidade da água. Com esses dados, será possível avaliar a disponibilidade de água nos diferentes ambientes da Fazenda Entre Rios.

O plantio de espécies nativas também pode auxiliar na estabilização de processos erosivos do solo, conhecidos como voçorocas. Segundo o pesquisador Alexander de Resende, da Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ), também é possível estabelecer cercas vivas com as espécies nativas com potencial de uso tanto para moirão como para proteção da propriedade.

Cerrado como inspiração

Para Clóvis de Almeida, fundador do picolé "Frutos do Cerrado" que se transformou em sorvetes e picolés artesanais "Frutos do Brasil", as plantas nativas são muito mais que uma fonte de renda. "Aprendi a amar as frutas do Cerrado ainda pequeno quando ia para o mato com meu avô, que era raizeiro. Elas são a nossa riqueza", disse.

Durante muitos anos, Clóvis adquiriu a matéria-prima de seus picolés com extrativistas e pequenos produtores. Hoje, ele tem uma propriedade de 15 hectares com 116 variedades de fruteiras, a maioria nativas do Cerrado. Depois de estabelecer franquias em quase todos os Estados brasileiros, o próximo passo é conquistar o mercado externo. Em agosto, o primeiro carregamento de sorvete e picolés embarca para os Estados Unidos.

Madeiras de fundo de rio e plantas ornamentais do Cerrado são utilizadas pela produtora rural Sânia Policeno no show room de paisagismo que ela mantém em sua propriedade em Sobradinho (DF). Além do paisagismo, Sânia cultiva hortaliças e está montando um viveiro de mudas frutíferas. Para ela, os temas abordados no Dia de Campo serão úteis para o dia a dia. "Na minha propriedade, tenho o problema da voçoroca, que é causada pelas águas fluviais do condomínio vizinho. Além disso, a gente aprende a manusear as árvores nativas e preservá-las para as futuras gerações", disse.

Liliane Castelões (16.613 MTb/RJ)
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