Cientistas desenvolvem o primeiro pulverizador eletrostático que pode ser levado nas costas
Cientistas desenvolvem o primeiro pulverizador eletrostático que pode ser levado nas costas
Foto: Divulgação
Equipamento permite que pequenos agricultores se beneficiem da pulverização elestrostática
A Embrapa Meio Ambiente (SP), em parceria com a empresa Magnojet, desenvolveu um acessório de eletrificação de gotas para ser usado em pulverizadores costais comuns. A solução leva a tecnologia de pulverização eletrostática, até então dependente de altos investimentos, ao pequeno produtor rural.
Outro equipamento da mesma área amplia a aplicação dessa tecnologia às espécies arbóreas. Voltado a pulverizadores turbinados, esse acessório foi criado por meio de parceria com a empresa FM Copling e permite que cafezais e pomares também recebam químicos por eletrostática, economizando insumos e reduzindo impactos ambientais. Os dois lançamentos serão apresentados na abertura da 25ª edição da Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow-2018), em Ribeirão Preto (SP).
“São tecnologias capazes de modernizar e baratear os tratos culturais em nossas culturas e elevar o nível de controle de pragas e doenças, com expressiva redução do uso de produtos químicos nas lavouras. Essas são opções de equipamentos que os produtores já demandavam e que agora poderão encontrar no mercado”, conta o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Aldemir Chaim, que lidera essa linha de pesquisa há mais de 30 anos.
Pulverização eletrostática para o pequeno produtor
O sistema criado pela Embrapa possibilita que todo pulverizador comum costal passe a operar com gotas eletrificadas. O produto chegará ao mercado por meio da parceria entre a Embrapa e a empresa Magnojet, de Ibaiti (PR). Segundo Eduardo Gonzaga, coordenador técnico da indústria paranaense, com o novo dispositivo no mercado, pequenos produtores passarão a contar com a opção de pulverizadores costais hidráulicos capazes de eletrificar as gotas. O equipamento é indicado para a maioria das culturas de pequeno porte, como olerícolas ou culturas em estufas, no uso de aplicações de tratamento fitossanitário, como inseticidas, fungicidas e acaricidas.
De acordo com Chaim, da Embrapa, a aplicação de agrotóxicos praticada por pequenos agricultores, atualmente, não difere muito daquela praticada nos anos de 1980. “Pouco ou nenhum investimento na eficiência de deposição dos agrotóxicos nos alvos foi acrescido”, revela o pesquisador.
Tecnologia pode beneficiar até 4,5 milhões de propriedades
O cientista salienta que dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam o crescimento da agricultura familiar, cujas unidades produtivas passaram de 4,1 milhões para 4,5 milhões e já representam 88% do número total de estabelecimentos agropecuários.
“Esse é o setor que coloca a maioria dos alimentos na mesa dos brasileiros e esse equipamento vai contribuir para a democratização de uma tecnologia de pulverização de ponta, capaz de gerar resultados, agregar economia de tempo, recurso e insumos, além de maior segurança nas operações”, acredita o cientista da Embrapa.
Na média, pulverizadores hidráulicos comuns, operando com eletrostática, agregam 40% a 60% de economicidade ao processo e de 50% a 60% de eficiência. Traduzindo, é possível realizar um controle de pragas com menos tempo, pela metade dos insumos (calda) e com o dobro de eficiência, aproximadamente.
A Magnojet informa que haverá algumas unidades do pulverizador para a venda ao público durante as solenidades de lançamento do produto no estande da empresa na Agrishow. O preço aproximado do pulverizador costal da Magnojet com o acessório eletrostático instalado, na capacidade de dez litros de calda, será de R$ 500,00; e com capacidade para 20 litros, R$ 600,00.
Culturas arbóreas também com pulverização eletrostática
Culturas arbóreas ou arbustivas que permitem a passagem de tratores nas entrelinhas também poderão contar com pulverização eletrostática graças a outra solução criada pela pesquisa. Desenvolvido em parceria com a empresa FM Copling, de Araraquara (SP), um conjunto de bicos pulverizadores com nova configuração torna viável a aplicação eletrostática em plantas arbóreas. Além disso, sensores detectam as dimensões da planta e interrompem o fluxo automaticamente assim que encontram um espaço vazio.
O responsável pela Pesquisa e Desenvolvimento da FM Copling, Felipe Reis, explica que diferentemente dos sistemas eletrostáticos disponíveis no mercado, o novo equipamento tem como novidade a configuração do ramal de pulverização. Esse sistema fica protegido do fluxo de ar proveniente do ventilador, de forma a permitir uma melhor eficiência no consumo energético e maior penetração dos insumos químicos no dossel de folhas das árvores. Tal configuração favorece o sistema de eletrificação desenvolvido pela Embrapa, pois o protege de contaminantes, como folhas ou poeira, tornando-o mais robusto. Outro diferencial foi o uso de múltiplas fontes que alimentam os eletrodos para ionização das gotas, de modo a aumentar a resistência e a confiabilidade do equipamento.
Reis ainda ressalta que foi verificada melhoria significativa na distribuição e homogeneidade da calda pulverizada nas folhas durante os testes na cultura de citros, realizados pela empresa. “Esse fato acarreta um aumento da eficiência da formulação utilizada, uma vez que a distribuição se torna mais regular, pelo fato de que as eletrificações das gotas propelidas perfazem um recobrimento folhear em locais que a pulverização convencional não é capaz de atingir. Esses são parâmetros que se encaixam perfeitamente na demanda atual do mercado, pois reduzem o custo da operação e aumentam o desempenho do equipamento”, explica.
Conforme o pesquisador da Embrapa Aldemir Chaim, o equipamento visa atender as demandas de médios produtores de frutas e café, além de outras culturas arbustivas e arbóreas. Segundo ele, esses produtores enfrentam severos problemas para realizar o controle fitossanitário nas lavouras, devido aos constantes ataques de pragas e doenças. Esse é um problema que acarreta grandes investimentos em defensivos, e várias pulverizações durante o ciclo de produção.
“O lançamento dessas tecnologias, pelas características da eletrostática, representam uma nova opção para o manejo de pragas dessas culturas e também demonstram o esforço e compromisso da pesquisa científica em viabilizar soluções mais econômicas, eficazes e seguras para a agricultura brasileira”, destaca Chaim.
Equipamento interrompe automaticamente a aplicação
Para receber o sistema de eletrificação das gotas de pulverização, o pulverizador da FM Copling precisou ser redesenhado para priorizar a redução no consumo de insumos e tempo de operação. Foram incluídos sensores projetados especificamente para reconhecer diferenças entre árvores e mudas, ação que interrompe a pulverização onde há falhas no plantio e durante manobras do equipamento, voltando a pulverizar tão logo os sensores detectem as plantas-alvo. A empresa pretende disponibilizar o produto no mercado dentro de dois meses.
Para adquirir o equipamento, na sua configuração mais completa, que inclui um conjunto de válvulas hidráulicas para controle dos bicos de pulverização, comandos elétricos, sensores blindados e o sistema de eletrificação dos bicos, o produtor deverá investir aproximadamente R$ 70 mil.
60% mais economia e menor impacto ambiental
A literatura científica aponta que quando a eletrostática é empregada com critério no controle de pragas e doenças de plantas, é capaz de promover uma redução de até 60% no volume de calda utilizada e aumentar sensivelmente a deposição de produto nas plantas, quando comparado aos métodos usuais. Resultados de testes e depoimento de uso de produtores em várias regiões do mundo indicam que a pulverização eletrostática, em alguns casos, pode proporcionar inclusive a redução no número de aplicações, ou seja, diminuição no custo do tratamento fitossanitário de diversas culturas.
Benefícios econômicos, sociais e ambientais
A pulverização eletrostática em capacidade de gerar gotas com alta intensidade de carga estática, as quais ao se aproximarem de qualquer tipo de objeto formam um poderoso campo eletrostático, induzindo o aparecimento de forças de atração entre as gotas em voo e as plantas-alvo.
Aldemir Chaim explica que a pulverização eletrostática aumenta em pelo menos 40% a eficiência da aplicação de defensivos, reduz o custo dos tratamentos fitossanitários e diminui o impacto ambiental. Esse rendimento pode ser ampliado, se considerar outras variantes como o ambiente, a condição de aplicação, o produto aplicado, a cultura ou o tipo de equipamento.
O pesquisador ressalta que um dos custos mais elevados da produção agrícola é o controle de pragas e doenças das plantas. A eficiência desse controle está ligada à qualidade da aplicação de produtos. “Quanto mais eficientes forem as aplicações, melhor o efeito desses produtos e menor o custo desses controles, além do fato de que quanto melhor for o controle, maior a produtividade das culturas”, afirma.
Ele acredita que a relação entre custo e benefícios do uso de tecnologia de pulverização eletrostática se apresenta totalmente favorável. Ele esclarece que o maior custo dos pulverizadores equipados com a tecnologia é rapidamente amortizado pelo menor custo das operações e pela menor necessidade de insumos para se obter o mesmo resultado, quando comparado com a pulverização convencional.
Marcos Vicente (MTb 19.027/MG)
Embrapa Meio Ambiente
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