07/05/18 |   Estudos socioeconômicos e ambientais

Embrapa Pesca e Aquicultura lança livros com dados inéditos sobre o mercado da tilápia

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Foto: Jefferson Christofoletti

Jefferson Christofoletti -

Pesquisadores, técnicos, estudantes e interessados no tema já podem contar com um levantamento completo da cadeia da tilápia nos cinco principais polos produtores do peixe do Brasil, localizados no Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Ceará e São Francisco. São os livros Diagnóstico da cadeia de valor da tilapicultura no Brasil e Dimensão socioeconômica da tilapicultura no Brasil, lançados pela Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO), disponíveis para download gratuito no site do centro de pesquisas. As obras apresentam dados inéditos levantados junto a diferentes elos da cadeia que compõem os principais polos produtivos de tilápia no país, incluindo informações sobre a história de desenvolvimento de cada polo, suas características produtivas e de mercado.

Renata Melon Barroso, autora das publicações, conta que os dois livros são os principais produtos de seu projeto de pesquisa, de 2015 a 2017. “A tilápia é uma espécie que conta com muita informação, mas de forma dispersa e fragmentada. Daí tivemos a iniciativa de propor esse projeto, para sistematizar melhor os dados”, explica a analista da Embrapa, que fez questão de também realizar um levantamento socioeconômico de toda a cadeia. Com isso dados sobre mão de obra, a participação da mulher, geração de empregos e salários também foram apurados durante o estudo.

A tilapicultura lidera a aquicultura brasileira em volume e mercado. Segundo Eric Arthur Routledge, Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pesca e Aquicultura, há espaço para a produção crescer mais ainda.  “A tilápia é uma cadeia com condições de competir com as cadeias das carnes bovina, suína e de frango, além de diminuir a importação de filés de peixe importados que pressionam negativamente a balança comercial brasileira em bilhões de dólares todos os anos”, aposta ele.

O dinamismo da atividade foi sentido pela a autora já desde o período de levantamento de dados. Renata teve a oportunidade de estar no Polo do Castanhão em dois momentos bem distintos: no seu auge e na sua total decadência, num intervalo de apenas dois anos. Segundo a autora, o Castanhão teve seu auge de 2013 a 2015. Há três anos atrás, quando a autora esteve na região, a produtividade ainda era boa, mas a crise hídrica dava seus primeiros sinais. “Eles sofreram um grande golpe naquele ano porque, para piorar as coisas, também houve um problema com abertura das comportas da represa, que provocou uma enorme mortandade de peixes. Metade da produção foi dizimada em um único dia. Até que dois anos depois a produção foi a zero, provocando um movimento migratório para o São Francisco e o Piauí”, relata ela, acrescentando que a crise abateu muito o Ceará, por ser um dos estados que mais consomem de tilápia.

O que pode causar estranheza – um peixe de água doce fazendo sucesso em um estado litorâneo – pode ser explicado por três fatores: escala, padrão e constância no fornecimento. Enquanto várias espécies de água salgada têm seu fornecimento interrompido em épocas de defeso, a produção da tilápia é constante. Sua carne branca e sabor suave tem agradado o mercado cearense, que costuma consumi-la inteira e fresca, trazida em caminhões do Paraná. A espécie também está entrando no preparo das moquecas capixabas. Para restaurantes e supermercados, a constância no fornecimento e o padrão são fundamentais.

Segundo Renata, as diferenças sociais das regiões Nordeste, Sul e Sudeste também foram refletidas no livro. “Ficaram bem nítidas as discrepâncias salariais entre o Sul e o Nordeste, onde muitos trabalham até sem carteira assinada. Chamou também a nossa atenção a política de gestão de pessoas das empresas do Sul e Sudeste para promover maior retenção de seus empregados, oferecendo benefícios que não se encontram em outros lugares”, destaca ela, que ressalta a importância no desenvolvimento de tecnologias a baixo custo e no associativismo. “O produtor que não atua por meio de uma cooperativa é muito frágil. Não tem volume de produção, tampouco não consegue barganhar preço. É a única saída viável para os pequenos”, conclui.

 

 

Elisângela Santos (19.500 - MTb RJ)
Embrapa Pesca e Aquicultura

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