01/05/14 |   Produção vegetal

Herbicida: vilão ou mocinho da história?

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Foto: Daniel Zandonadi

Daniel Zandonadi -

Falar ou escrever sobre herbicidas é algo difícil, dada a complexidade do tema. Em olericultura é mais ainda, pois os desafios do controle químico são bem maiores. De um lado, têm-se as hortaliças, cujo sistema de produção vem passando por mudanças, entre elas o cultivo em larga escala, com alta tecnologia, e sofrendo os efeitos da escassez de mão de obra nos grandes centros produtores. Do outro lado, os herbicidas, importante ferramenta no manejo de plantas daninhas, que requer menos mão de obra, porém qualificada, para uso correto, racional e responsável dos produtos. Nesse panorama, o controle químico é uma excelente alternativa para o horticultor, no entanto, a maioria das olerícolas não possui nenhuma opção de herbicida registrado. Mesmo culturas tradicionais e de expressão em área plantada, como o tomate, possuem poucos produtos registrados.

O custo elevado do registro de agroquímicos no Brasil, associado ao menor retorno econômico comparado a outras culturas agrícolas, desestimula as empresas buscarem novas alternativas de herbicidas para uso em hortaliças. Sabe-se da importância dos estudos oficias e do registro de produtos fitossanitários para as culturas, mas, na ausência dessas iniciativas, o produtor vê-se obrigado, em função da baixa disponibilidade de opções, a utilizar herbicidas sem registro para a cultura nas situações em que nenhum dos produtos registrados atende as suas necessidades ou em circunstâncias que não há nenhum produto registrado. Então, o que deve ser feito? Mobilizar ou até mesmo sensibilizar as empresas de agroquímicos a buscarem o registro? Flexibilizar as leis de registro/extensão de uso para culturas de baixa expressão de área plantada? Essas perguntas devem ser feitas e discutidas pelo setor produtivo, empresas públicas e privadas, órgãos governamentais competentes, pois é um sério problema que aflige a olericultura no Brasil.

Por outro lado, conhecer a tecnologia é premissa básica para o sucesso, iniciando pelo conceito. Herbicida é um produto químico que, em concentrações convenientes, têm a finalidade de inibir o desenvolvimento ou provocar a morte das "plantas daninhas". Esses produtos exigem cuidados especiais na manipulação e aplicação. Para muitos se trata de mais um defensivo agrícola, agrotóxico ou veneno a ser colocado no tanque do pulverizador e aplicar. Porém, não é tão simples assim. Os herbicidas em doses adequadas controlarão um grupo de espécies, preservando a cultura de interesse. No entanto, se não forem respeitados os limites de doses ou as épocas de aplicação recomendados, eles poderão matar ou causar danos irreversíveis de à produtividade da cultura. A etiologia da palavra é clara: Herbi - planta, cida - mata, ou seja, mata planta.

Portanto, a escolha do produto também deve considerar a sua seletividade para a hortaliça. Seletividade é a característica dos herbicidas que possibilita a sua aplicação para o controle das plantas daninhas sem causar danos às culturas. A seletividade não é sempre atribuída ao herbicida em si, mas à dose aplicada e ao estádio de desenvolvimento das plantas (Alterman e Jones, 2003). O solo, o clima e o uso de adjuvantes também podem alterar o grau de seletividade. Em alguns casos, a seletividade depende do material genético (cultivares, híbridos, clone, etc.) utilizado. Estudos dessa natureza são muito importantes, principalmente para avaliar a tolerância diferencial dos genótipos aos herbicidas. Trabalho realizado na Embrapa Hortaliças demonstrou grande variabilidade de resposta entre linhagens de tomateiro ao metribuzin, sendo que um dos materiais foi 10 vezes mais tolerante ao herbicida do que os demais.

Ao contrário dos fungicidas e inseticidas, a deriva da aplicação de um herbicida pode ser fitotóxica para culturas vizinhas sensíveis. Entende-se por deriva o arraste das gotas pulverizadas pela ação do vento. Além do prejuízo agronômico devido à perda de eficácia, pois o produto não atingirá o alvo em concentrações adequadas, tem-se o prejuízo da contaminação. No momento da aplicação, a molécula do herbicida também pode ser perdida para a atmosfera por volatilização (vaporização). O produto passa para a forma de vapor, porém a sua propriedade tóxica é preservada. Trata-se apenas de uma mudança de estado físico da matéria. Observações a campo indicaram que esse "vapor tóxico" pode contaminar uma cultura sensível até 15 km de distância do local da aplicação (deriva química) ou retornar ao solo junto com a água da chuva, no processo de condensação das moléculas.

Contudo, os prejuízos relacionados anteriormente (deriva e volatilização) só ocorrem no campo em condições não apropriadas de pulverização, como umidade relativa do ar menor que 55%, temperatura do ar maior que 30ºC e velocidade do vento acima do indicado para a tecnologia de aplicação adotada. Principalmente, no que se refere ao tamanho das gotas, que pode ser mais ou menos propensa a perdas por deriva. Por exemplo, pontas de pulverização com indução de ar geram gotas extremamente grossas, sendo menos favoráveis a perdas por deriva e toleram uma condição maior de vento comparado a gotas finas. O herbicida é um produto seguro, desde que usado de forma adequada, respeitando-se as doses recomendadas e as condições edafoclimáticas no momento da aplicação.

As hortaliças são caracterizadas pela alta sensibilidade aos herbicidas. Por isso, é necessário ser criterioso não apenas na escolha do produto usado na olerícola em questão, mas com os herbicidas pulverizados nas áreas vizinhas (para evitar possíveis prejuízos causados por deriva ou volatilização) e com aqueles pulverizados nas culturas antecessoras. Herbicidas com maior persistência no solo poderão afetar o estabelecimento das hortaliças em rotação ou sucessão. Esse fenômeno é denominado de carryover e pode ser definido como os resíduos fitotóxicos que permanecem no solo e que afetam culturas sensíveis em rotação ou sucessão após aquelas culturas em que foi utilizado o herbicida (Silva et al., 2007). Nos sistemas de produção, em que diferentes culturas ocupam o mesmo local ao longo do ano, o uso de herbicidas com residual longo no solo poderá inviabilizar o cultivo de hortaliças em sucessão ou rotação.

Percebe-se que o uso de herbicidas exige profissionais altamente qualificados, que entendam a dinâmica dos produtos no sistema solo-água-atmosfera e não tenham o herbicida como única estratégia de manejo. Quem não age dessa forma, está fadado ao insucesso, em virtude da seleção de plantas daninhas resistentes ou de difícil controle e do aumento exponencial do "banco de sementes" do solo. Além, é claro, do aumento sucessivo das doses, do uso de misturas tríplices ou quádruplas no tanque do pulverizador, com reflexo direto no custo de produção. "Tem que conhecer para saber usar e, assim, usar sempre". Sem ideologismos ou falsas promessas, não existem milagres e, sim, estratégias integradas: o Manejo Integrado de Plantas Daninhas, no qual os herbicidas fazem parte, combinados a outros métodos de manejo.

Núbia Maria Correia
(Engenheira Agrônoma - Pesquisadora da Embrapa Hortaliças)
Embrapa Hortaliças

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Mais informações sobre o tema
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