Produtores rurais visitam área experimental do Projeto Biomas na Amazônia
Produtores rurais visitam área experimental do Projeto Biomas na Amazônia
Na última sexta-feira (19), mais de 150 produtores rurais e aproximadamente 30 técnicos e agrônomos visitaram a área experimental do Projeto Biomas na Amazônia. Este foi o segundo Dia de Campo realizado pelos pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental para mostrar experimentos implantados na região. O Projeto Biomas é realizado pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) em parceria com a Embrapa.
"É um ato de coragem implantar um projeto que testa diversos tipos de árvores na Amazônia, pois aqui temos árvores imensas. Mas o Projeto Biomas tem esse propósito brilhante: mostrar o quanto a árvore é importante e pode trazer benefícios para a propriedade rural", disse Adriano Venturieri, chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, na abertura do dia de campo.
O Superintendente do SENAR de Marabá, Virgílio Camargo, também participou do Dia de Campo do Projeto Biomas na Amazônia. "Em nome do Presidente da FAEPA, Carlos Xavier, reafirmo o nosso apoio aos pesquisadores que vem trazendo pesquisa e inovação tecnológica para a nossa região".
Além de recursos econômicos, as pesquisas tem o propósito de reafirmar a importância ambiental da árvore. "É de vital importância a existência de árvores para auxiliar na preservação dos recursos que são fundamentais na propriedade rural, como a água", afirmou Alexandre Mehl Lunz, Coordenador do Projeto Biomas na Amazônia e pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.
O Secretário Executivo do Instituto CNA, Og Arão, explicou que o Sistema CNA/SENAR está empenhado em fazer com que as informações sobre o desenvolvimento das pesquisas cheguem ao produtor rural.
A área experimental do Projeto Biomas na Amazônia fica localizada na Fazenda Cristalina, há 100 quilômetros de Marabá, no Pará. Lá foram implantados 22 experimentos e 6 deles já apresentam resultados significativos, que geraram interesse dos produtores rurais que visitaram o local.
Adubação verde – "Eu tenho buscado opções de adubação verde e conhecer o trabalho desenvolvido pelo Projeto Biomas é um grande privilégio", disse Diego Cardoso, agrônomo e produtor rural, que participou do dia de campo do Projeto Biomas na Amazônia.
Diego nasceu e estudou em Pernambuco. Ele produz feijão, milho e melancia, na região de Petrolina, no Vale do São Francisco. "Vim para este Dia de Campo conhecer o que a Embrapa está desenvolvendo aqui. No Vale do São Francisco temos terra boa e água, mas para evitar qualquer tipo de poluição do rio, tenho investido em alternativas para a nutrição do solo e o projeto da pesquisadora Débora é muito esclarecedor. É uma forma diferente de pensar nas pequenas produções e no futuro", conclui Diego.
O produtor rural pernambucano se referia à apresentação da pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, Débora Veiga de Aragão. Ela apresentou resultados do experimento intitulado "Adubação verde para recuperação da produtividade agrícola".
Em uma área da Fazenda Cristalina, a pesquisadora Débora e sua equipe de técnicos plantaram guandu, um tipo de feijão muito comum na região norte e nordeste do Brasil. "O guandu promove a fixação biológica de nitrogênio no solo, uma das tecnologias muito utilizadas na Agricultura de Baixo Carbono. Com o plantio e colheita correta do guandu, evitamos o uso de insumo externo e produzimos a biomassa verde. O guandu deixou o solo preparado para receber as mudas de pau preto, andiroba e castanha. Essas espécies tem grande apelo comercial e vai gerar ganhos econômicos e ambientais para o produtor ", explicou.
SAFs - Na primeira estação e experimentos do dia de campo, o pesquisador Rafael Alves, da Embrapa Amazônia Oriental, apresentou quatro arranjos de sistema agroflorestal (SAF) no qual o taperebá é combinado com banana, abacaxi, maracujá, mamão e cupuaçu. O experimento foi instalado neste ano e traz o taperabá como o elemento arbóreo presente nos quatro arranjos.
A frutífera foi escolhida por ter boa aceitação no mercado da região e ter a característica de desfolhar em determinada época do ano, o que favorece a entrada de luz para as outras culturas. No experimento são avaliados dez clones de taperebazeiros colhidos na região. "O objetivo é trazer essa planta para um sistema de produção e selecionar clones que tenham as características de interesse do mercado, como boa produtividade e quantidade de polpa", explicou o pesquisador.
Em outro experimento com SAFs, foi testada a mandioca como a primeira cultura, plantada junto às espécies florestais castanheira e mogno africano. O engenheiro agrônomo, Antônio José de Menezes, analista da Embrapa Amazônia Oriental, explica que após a mandioca, foi plantado o abacaxi na área que ainda está em desenvolvimento no local. "Em 2016, serão plantadas as mudas de bananeira, e em 2017 será o cupuaçu e cacau em consórcio", explica.
O agrônomo já contabilizou os primeiros resultados do sistema: a mandioca teve uma produtividade média de 27 toneladas por hectare. O número é bastante positivo em relação à produtividade média do estado, que é de 16 toneladas por hectares. Antônio Menezes atribui esse resultado aos tratos culturais e ao manejo do solo, detalhes que irá apresentar no dia de campo.
Árvores forageiras - Em outra estação do dia de campo foi apresentado o experimento para alimentação de bovinos com árvores. Além de proporcionar conforto ao gado, a árvore introduzida no pasto também pode servir de alimento ao animal para complementar a dieta.
O trabalho de avaliação de espécies arbóreas forrageiras, que servem de alimentação ao gado, iniciou em 2013, e estão sendo testadas quatro espécies de leguminosas nativas da região amazônica - popularmente conhecidas como burdão de velho, jurema, mungulu e mutamba preta - e uma espécie exótica de origem mexicana, a gliricídia.
A pesquisa avalia o desenvolvimento das plantas em função dos cortes e a qualidade nutricional delas sob as condições do produtor. "A ideia é fornecer uma alternativa para a alimentação animal de valor nutricional superior às gramíneas utilizadas na região, além de indicar a melhor forma de plantio e manejo das plantas", explica Rosana Maneschy, engenheira agrônoma do Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará e coordenadora da pesquisa.
Ela explica que a escolha das espécies é fruto de um trabalho anterior da universidade, que identificou árvores presentes em pastagens do sudeste do Pará com potencial para compor sistemas silvipastoris, que integram a produção pecuária e florestal. O levantamento indicou 59 espécies, sendo nove com características adequadas para alimentação do gado. "Para este experimento do projeto Biomas foram selecionadas quatro espécies nativas e uma exótica em função da disponibilidade de sementes na região", relata a pesquisadora.
Voçoroca - A recuperação de áreas de voçoroca, nome que em tupi guarani significa "terra rasgada", também foi uma das experimentações apresentadas no dia de campo. Numa área onde a vegetação e o solo foram retirados para outros usos – construção de estradas, fundações de obras, por exemplo – acaba deixando o subsolo exposto. Com a compactação do subsolo, as chuvas fortes, enxurradas e a erosão, formam-se buracos e depressões no solo onde não cresce mais vegetação alguma. "O rasgo, ou o buraco, causado pela voçoroca é como uma ‘cicatriz' que vai ficar por muito tempo na área", afirma o especialista em recuperação de áreas degradadas, Alexander Resende, pesquisador da Embrapa Agrobiologia (RJ).
A área de voçoroca da fazenda ocupa cerca de 300m², com inclinações de até 2m de profundidade. "Só para ter uma ideia, considerando que todo o buraco das voçorocas já foi ocupado por solo, na área da Fazenda Cristalina se tem uma perda de quase 6.000m³ de solo, ou seja, quase 600 caminhões de solo perdidos, que foram parar nos cursos d'água, gerando outro problema: o assoreamento", conta o pesquisador.
A primeira ação da pesquisa foi reduzir a quantidade de água que chega à voçoroca, a partir do uso de práticas mecânicas, como terraços, drenagens e bacias de contenção. Como o processo de erosão só tende a aumentar, o pesquisador explica que a ideia é fazer com que a água permaneça mais tempo na área e perca o seu poder de enxurrada. "Foram implantadas oito bacias de contenção na área, que são pequenas represas, que podem armazenar até cerca um milhão de litros de água de chuva", detalha Alexander Resende.
Além de agir na contenção do processo erosivo, as bacias são pontos de água para matar a sede dos animais, e ainda funcionam como uma irrigação contínua das áreas do entorno. No entanto, outra medida fundamental é manter a área com vegetação. "Nem todas as espécies se adaptam a essa condição de extrema degradação, por isso aproveitar o que a própria natureza pode nos trazer é fundamental. Espécies de plantas da família das leguminosas, como os ingás e favas, se associam a bactérias fixadoras de nitrogênio e fungos, estratégias que possibilitam o seu desenvolvimento nesses ambientes onde não há oferta de nutrientes e água", explica Resende.
Eucalipto – Diferentes formas de combinar o eucalipto em sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) foi outro experimento mostrado no dia de campo. O sistema é formado por faixas de lavoura de 25 metros e entremeados por linhas de eucaliptos. Entre as linhas já houve o cultivo de duas safras, uma de milho e outra de soja. "A rotação de culturas melhora a qualidade do solo, contribui para a ciclagem de nutrientes e diminui a incidência de pragas e ervas daninhas", explica o pesquisador Roni de Azevedo, da Embrapa Amazônia Oriental.
As linhas de eucaliptos são dispostas no experimento em três variações: simples, duplas e triplas. O objetivo é avaliar o desempenho e a adequação de cada uma das variações para os diferentes usos da madeira, como carvão ou madeira sólida para móveis.
Reserva legal - Além das estações com experimentos, o público também pôde ouvir as explicações do pesquisador Gustavo Curcio, da Embrapa Florestas, sobre a área de reserva legal nas propriedades rurais. Segundo ele, essa entidade jurídica é um local de conservação e não obrigatoriamente de preservação. Isso significa que ela pode ser manejada para obtenção de produtos – principalmente aqueles que venham atender às necessidades da propriedade como lenha, madeira para mourões, frutas etc.
No entanto, de acordo com Curcio, um equívoco frequente entre os produtores que buscam implantar áreas de reserva legal para atender à legislação é situá-la nas áreas adequadas ao sistema produtivo. "Ao contrário disso, deve-se escolher as áreas mais frágeis dentro da propriedade, onde há a menor qualidade de solo e relevo, pois a reserva legal nunca vai produzir tanto quanto a área do sistema produtivo", recomendou o pesquisador.
Vinicius Soares Braga (MTb 12.416/RS)
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