07/07/15 |   Recursos naturais

Artigo - Importância do solo para a água subterrânea

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Foto: Eliana Lima

Eliana Lima - Área Experimental da Embrapa Meio Ambiente.

Área Experimental da Embrapa Meio Ambiente.

O cidadão comum normalmente não consegue compreender quão importante é o solo como um agente protetor ou como um filtro para manter a qualidade das águas subterrâneas, como também um agente que contribui para a movimentação inicial da água em direção às zonas insaturadas e saturadas do subsolo e das camadas mais profundas respectivamente. Assim, torna-se imperativa a divulgação e o esclarecimento à sociedade sobre a necessidade de proteção das chamadas áreas de recarga de aquíferos, principalmente aquelas ocupadas por solos arenosos, comumente relacionadas às formações geológicas sedimentares.

 Para que o solo seja um agente facilitador da percolação de água, é essencial que tenha boa taxa de infiltração, cuja relação depende diretamente da sua porosidade (alta relação macro/microporos), da declividade do terreno, da cobertura vegetal e do tipo/intensidade de chuva.

Por isso mesmo, toda e qualquer atividade exercida sobre as áreas de recarga de aquíferos, seja do tipo livre ou confinado, deve ser avaliada pelas autoridades competentes, com a participação da comunidade científica, a exemplo do que tem ocorrido nos diversos fóruns relacionados ao Aquífero Guarani, principalmente no Estado de São Paulo. Vários estudos têm mostrado que os solos arenosos, a exemplo dos Neossolos Quartzarênicos, apresentam alta vulnerabilidade natural o que exige atenção especial sobre os mesmos, sobretudo em relação ao uso e à forma de ocupação das áreas onde ocorrem. Ignorar tais conhecimentos é dar o aval para que em futuro próximo se tenha grandes passivos ambientais, sobretudo relacionados à qualidade da água, em um cenário dramático com a deterioração qualitativa e quantitativa (esta já está em curso no Sudeste do país) dos recursos hídricos, tanto superficiais quanto subterrâneos.

Há urgência em se resgatar os conceitos de sustentabilidade, esquecidos desde a Rio 92, tão necessários para o momento atual em que a voracidade pelo consumo dos recursos naturais se faz com mais contundência. Tanto é, que as diversas formas de ocupação e atividades antrópicas, cada vez mais intensas, sejam elas urbanas, agrícolas e industriais, têm afetado de forma negativa o recarregamento dos aquíferos por meio da impermeabilização de grandes áreas, como também a qualidade da água por meio da geração das mais diversas cargas de efluentes em diferentes níveis de contaminação. É importante o entendimento de que a água, tanto superficial quanto subterrânea, mantêm conexão permanente entre si, motivo pelo qual a contaminação de uma implica na contaminação de ambas, guardadas as devidas condições de tempo e velocidade para que o produto contaminante alcance a outra parte.

Nesse contexto, é importante a percepção de que o solo exerce sua função como agente ou compartimento natural do ambiente. Cabe a nós, o estabelecimento das condições ambientais satisfatórias, por meio de um manejo correto e equilibrado do solo para que ele continue a exercer suas funções naturalmente, contribuindo de forma sustentável para o bom funcionamento do ciclo hidrológico.

Na prática, o solo e a água são parceiros inseparáveis, como uma comunhão universal perfeita. Como já dizia um provérbio chinês do século IV- A.C: "A água é o sangue da terra, ou seja, ela é insubstituível; nada é mais suave do que ela, no entanto, ninguém resiste à sua falta. Aquele que conhece seus princípios pode agir corretamente, tomando-as como exemplo. Quando a água é pura, o coração do povo é forte. Quando a água é suficiente, o coração do povo é tranquilo".

 

Marco Antonio Ferreira Gomes

Geólogo/Pedólogo

Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente. Autor/editor técnico do livro: Uso agrícola das áreas de afloramento do Aquífero Guarani no Brasil – implicações para a água subterrânea e propostas de gestão com enfoque agroambiental. Embrapa, 2008. 417p.

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