27/07/18 |   Transferência de Tecnologia

Embrapa integra projeto de intercâmbio acadêmico

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Foto: Diva Gonçalves

Diva Gonçalves - Pesquisador Amauri Siviero fala aos estudantes sobre pesquisas com Agrobiodiversidade no Acre

Pesquisador Amauri Siviero fala aos estudantes sobre pesquisas com Agrobiodiversidade no Acre

Estudantes e professores de pós-graduação, de instituições de ensino de diversos estados, estão em Rio Branco (AC) para realização da disciplina "Etnobotânica", oferecida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Botucatu, por meio de projeto de intercâmbio acadêmico. Além de aulas teóricas, ministradas na Universidade Federal do Acre (Ufac), a programação inclui dinâmicas complementares na Embrapa e entidades de apoio a povos tradicionais e vivência prática em comunidades rurais. As atividades iniciaram no dia 10 e se estendem até 29 de julho.

Participam da atividade mestrandos e doutorandos da Unesp, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Manaus/AM)  e pós-graduandos da Ufac e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (Ifac). Também são parceiros na atividade, a Comissão Pró-Índio (CPI/AC), Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre) e Associação dos Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes em Xapuri (Amoprex), entre outros órgãos governamentais.

Ação multidisciplinar

De acordo com o professor Lin Chau Ming, coordenador do projeto, a Etnobotânica é um tema comum a diversos cursos e esse caráter transversal permite realizar a disciplina como uma ação multidisciplinar. A edição 2018 contempla estudantes das áreas de Produção Vegetal, Agroecologia, Biologia, Botânica e Química, entre outros campos do conhecimento. As atividades práticas acontecem no Seringal Sibéria, na Reserva Extrativista Chico Mendes (Xapuri).

“O objetivo de oferecer a disciplina em forma de intercâmbio é proporcionar experiências distintas da realidade dos estudantes. A cada ano as aulas práticas ocorrem em uma localidade ainda não conhecida pela maioria dos participantes e, pela primeira vez, os conteúdos são ministrados integralmente no Acre. A escolha se justifica principalmente pela riqueza vegetal do estado, diversidade das populações tradicionais existentes e apoio das instituições para viabilizar a disciplina fora da sede da Universidade”, ressalta.

Ciclo de palestras

A Embrapa Acre participa do projeto há quatro anos, coordenando um ciclo de palestras. Durante a atividade, realizada no dia 17, profissionais da Unidade e de outras instituições compartilharam conhecimentos com os acadêmicos sobre a pesquisa científica e outros aspectos da Amazônia. O pesquisador Amauri Siviero contextualizou os estudos com Agrobiodiversidade no Acre e apresentou resultados de pesquisas sobre diversidade agrícola em quintais urbanos de Rio Branco e comunidades da Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema (Sena Madureira). Já o pesquisador Moacir Haverroth, ponto focal do intercâmbio na Embrapa, abordou os projetos envolvendo a temática Etnobotânica e povos indígenas.

“Essa aproximação da pesquisa com a academia é importante para fortalecer a atuação institucional na região e proporciona benefícios mútuos. Além de contribuir com a formação acadêmica, acaba inspirando escolhas futuras e muitos alunos retornam à empresa como bolsistas de doutorado ou pós-doutorado”, afirma Haverroth.

Em abordagem mais geral, a arqueóloga Ivandra Rampaneli falou sobre “Sítios Arqueológicos”, conhecidos como geoglifos, e enfatizou a abundância desses desenhos em estados amazônicos, o processo de descoberta e os benefícios proporcionados para a região, incluindo o turismo rural. No Acre, existem 523 registros de geoglifos e, destes, 231 foram identificados por Ivandra. “Essas estruturas desenhadas na terra, com formas geométricas e tamanhos variados, ajudam na compreensão do processo de ocupação da Amazônia e da cultura dos povos que viveram na região, em séculos passados”, afirma.

A historiadora Selma Neves trouxe detalhes da saga dos nordestinos que vieram trabalhar nos seringais amazônicos e da dinâmica do “sistema de aviamento”, mecanismo de endividamento contínuo do seringueiro. Os alunos também puderam conhecer mais sobre as políticas de ocupação e desenvolvimento da Amazônia, implementadas durante o governo militar, e suas consequências, em especial os conflitos pela posse da terra, e sobre o movimento seringueiro no Acre em prol da conservação das florestas, iniciativa que influenciou, entre outras decisões políticas, a criação das Reservas Extrativistas.

Ciência e saberes locais

Para a professora da Ufac, Almecina Balbino, coordenadora local do intercâmbio, a execução de projetos acadêmicos com foco na troca de conhecimentos regionais é essencial para atrair novos profissionais para a Amazônia. O trânsito entre diferentes contextos ajuda a conhecer o potencial de cada localidade, as demandas da pesquisa científica e o modo de vida das populações tradicionais e contribui para despertar o interesse pela região. “Alunos do centro-sul do País, que participaram de edições anteriores dessa disciplina, hoje atuam como professores e pesquisadores no Acre, Pará e outros estados amazônicos”, enfatiza.

Mestrando em Horticultura Orgânica pela Unesp/Botucatu, Guilherme Henrique Moleiro acredita que o intercâmbio possibilita novas reflexões sobre a região. “O que mais chama a atenção é a exuberância florestal e as grandes distâncias geográficas entre as localidades. Retornarei para São Paulo com outra noção de tempo e espaço e pretendo vivenciar novas experiências na região para aprender mais sobre sistemas agroflorestais”, diz o estudante.

A acreana Uiara Mendes de Pinho, professora do Ifac e Doutoranda em Química pela Rede de Biodiversidade e Biotecnologia na Amazônia Legal (Bionorte/Ufac), considera a disciplina uma forma eficiente de associar Ciência e saberes locais, processo indispensável para a formação acadêmica e pessoal. “Ao mesmo tempo em que oportuniza conhecimentos sobre lugares e culturas, permite ampliar o entendimento sobre a realidade local e nossa própria identidade. Levarei esse aprendizado para a prática educativa e para outros aspectos da vida”.

Agrobiodiversidade e PANC

O biólogo Valdely Kinupp, professor no Programa de Pós-Graduação do Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), participa do intercâmbio como ministrante da disciplina “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC)”. Segundo o especialista, essa denominação envolve uma grande variedade de sementes, castanhas, raízes, folhas e frutos presentes na agrobiodiversidade da Amazônia e outras regiões, que apresentam elevado potencial nutricional e podem ser consumidos em substituição a alimentos tradicionais. Parte desse vasto mundo de nutrientes está disponível na natureza como “plantas daninhas”, mas muitas espécies precisam ser cultivadas.

“Existe um interesse crescente pelas PANC, entretanto, devido à carência de informações sobre o cultivo, manejo, colheita, pós-colheita e outros aspectos agronômico, como a produção de sementes, esses alimentos ainda são pouco encontrados no mercado. As instituições de pesquisa e ensino têm papel crucial na geração de conhecimentos para viabilizar a produção em escala comercial e ampliar o consumo. É preciso investir em projetos de longa duração e em pesquisas acadêmicas. Além disso, é necessário rever a matriz curricular de cursos como Agronomia e Agroecologia, para contemplar o tema”, destaca Kinupp.

 

Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa acre

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