21/07/15 |   Florestas e silvicultura

Inovação reduz pela metade custo do controle biológico da vespa-da-madeira

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Foto: Francisco Santana

Francisco Santana -
Um novo método de aplicação para combate biológico à vespa-da-madeira reduz os custos dessa atividade a quase pela metade. A inovação é a utilização de um hidrogel para aplicar o nematoide Deladenus (Beddingia) siricidicola, inimigo natural dessa vespa que é considerada a principal praga do pínus no Brasil. O método simplificou a aplicação convencional que utiliza uma gelatina e demanda muito mais mão de obra, tempo e estrutura.
 
Esse novo tipo de aplicação, que possibilita uma redução de 46,5% nos custos e 66,7% no tempo de execução da atividade, foi desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Florestas (PR) com apoio do Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais (Funcema), que desde 1989 investigam métodos de combate à vespa-da-madeira pelo manejo integrado de pragas (MIP).
 
Usualmente, para inoculação do nematoide nas árvores atacadas, é preparada uma gelatina com doses do nematoide, o que envolve diversos trabalhadores nas atividades de pré-aplicação, além de infraestrutura como batedeira elétrica, gelatina e água gelada e fervente.
 
"O preparo do inóculo dessa maneira exige treinamento do pessoal, estrutura física e disponibilidade de tempo. No entanto, devido à necessidade de maior rendimento das operações e à escassez de mão de obra, a redução dos custos nas atividades florestais é fundamental para qualquer empresa", explica a pesquisadora da Embrapa Florestas, Susete do Rocio Chiarello Penteado. No novo processo, utilizando hidrogel em substituição à gelatina, o método é simplificado, uma vez que basta misturar as doses de nematoide com água e hidrogel em um saco de plástico e a solução estará pronta para uso.
 
A pesquisadora conta que o desenvolvimento da nova tecnologia para a substituição da gelatina por outro espessante objetivou facilitar o preparo, com otimização do processo de inoculação e padronização da atividade. Aliado a essas características, o novo espessante deveria proporcionar, também, a redução dos custos do processo e manter a eficácia no controle da praga. Segundo Susete, entre os diversos espessantes testados, o hidrogel revelou o menor custo, não afetou a sobrevivência do nematoide e apresentou maior estabilidade quando armazenado em geladeira. 
 
Praticidade e rendimento
O diretor-executivo da Associação Paranaense das Empresas de Base Florestal (Apre), Carlos Mendes, elogiou a praticidade do novo material. "Tínhamos uma tecnologia sem dúvida mais trabalhosa e sujeita a erros. Agora, com o hidrogel, a mistura certamente é feita com mais segurança e rapidez e a probabilidade de erros é muito menor," disse Mendes, informando que muitas empresas avaliaram positivamente o produto e ressaltaram o seu rendimento operacional.
 
Uma das empresas que já utiliza a inovação é a Klabin, maior produtora e exportadora de papéis do Brasil. No Paraná e Santa Catarina, as áreas de plantios de pínus somam 145 mil hectares, e a área com risco de ataque da praga (idade superior a sete anos) é de aproximadamente 55 mil hectares. Desde março de 2015, a empresa vem adotando a inoculação com hidrogel em 6.276 hectares. O diretor florestal da empresa, José Totti, informa que a Klabin realizou a substituição total da gelatina pelo hidrogel por causa da facilidade do processo de preparo em testes realizados pela Embrapa Florestas. "Os benefícios dessa substituição foram o aumento do rendimento operacional e a facilidade no preparo, manuseio e transporte do inóculo no campo," narra Totti.
 
A praga
 
A vespa-da-madeira é a principal praga dos plantios de pínus no Brasil e está presente em aproximadamente dois terços da área de 1,6 milhão de hectares plantados no País.
 
As espécies de pínus plantadas no Brasil hoje atendem às mais diversas indústrias de base florestal, como papel, celulose, laminadoras, serraria, movelaria, energia, resinas entre outros. No entanto, o fornecimento de matéria-prima de boa qualidade para a sustentação deste negócio pode ser colocado em risco, devido aos severos danos provocados pela vespa-da-madeira, praga originária da Europa, Ásia e norte da África que foi registrada pela primeira vez no Brasil em 1988. 
 
A vespa é atraída para árvores de pínus estressadas, geralmente em plantios florestais mal manejados. Quando perfura o tronco da árvore, deposita de 300 a 500 ovos. Durante a postura, além dos ovos, a fêmea introduz na árvore uma muco-secreção fitotóxica, juntamente com esporos de um fungo simbionte, Amylostereum areolatum. O fungo obstrui os vasos de seiva e a muco-secreção provoca mudanças fisiológicas rápidas no metabolismo da planta.
 
A ação combinada do muco e do fungo leva a planta à morte e cria um habitat propício para o crescimento contínuo do fungo, que servirá de alimento para as larvas da vespa-da-madeira. Durante o processo de alimentação, as larvas constroem galerias no interior da árvore, afetando a qualidade da madeira e também favorecendo a penetração de agentes secundários, o que limita seu uso ou a torna imprópria para o mercado.
 
O uso do nematoide esteriliza as fêmeas da vespa-da-madeira e seus ovos, quando depositados em outra arvore, darão origem a novos nematoides, auxiliando no controle da praga.
 
Prejuízos
 
O uso de agentes de controle biológico, associado ao manejo florestal adequado, tem permitido a redução dos danos provocados pela praga. Utilizando-se corretamente as medidas de prevenção e controle existentes, é possível reduzir as perdas em pelo menos 70%, e manter a praga sob controle. "Em 2014, o programa de combate à vespa-da-madeira apresentou benefícios econômicos no valor de R$ 209,5 milhões na forma de prejuízos evitados com o uso da tecnologia, se contarmos somente a contrapartida da Embrapa", afirma o analista Joel Penteado Júnior, da Embrapa Florestas. A adoção do MIP tem se mostrado a melhor alternativa de combate à praga. E, quando bem conduzido, o uso do nematoide chega a níveis próximos a 100% de parasitismo na vespa, o que significa que os novos insetos que nascem estão parasitados pelo nematoide e deixam de ser uma ameaça à planta.
 
 



 

Katia Pichelli (MTb 3594/PR)
Embrapa Florestas

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