Expedições à Terra Indígena Poyanawa enfatizam agricultura e comunicação nas aldeias
Expedições à Terra Indígena Poyanawa enfatizam agricultura e comunicação nas aldeias
Pesquisadores e analistas da Embrapa e professores da Universidade Federal do Acre (Ufac) integram diferentes expedições à Terra Indígena Poyanawa, no município de Mâncio Lima, no período de 26 de setembro a 4 de outubro. As viagens às aldeias visam dar continuidade a ações em andamento e realizar novas atividades do projeto “Etnoconhecimento, agrobiodiversidade e serviços ecossistêmicos entre os Puyanawa”, iniciado em setembro de 2017. O trabalho de campo contempla estudos para melhoria dos sistemas de cultivo de plantas medicinais e agrícolas, fortalecimento da fruticultura, levantamento de casas de farinha e atividades de comunicação.
Entre 26 e 27 de setembro o pesquisador Romeu Andrade, o analista Lauro Lessa e o bolsista James Maciel se reuniram com moradores das aldeias Ipiranga e Barão para planejar a construção de um viveiro de mudas e atividades de capacitação voltadas para a produção de frutas. A estrutura será implantada com a participação da comunidade e apoio da Coordenação Regional da Fundação Nacional do Indio (Funai) no Juruá. Nos dias 26 e 28 profissionais de comunicação da Embrapa Acre realizaram a etapa final da pesquisa sobre o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) entre habitantes da Terra Indígena.
“Na primeira fase desse estudo, entre novembro e dezembro de 2017, foram entrevistados moradores com diferentes perfis e idade acima de 28 anos. Nesse segundo momento, o público prioritário são os jovens, para identificar as tecnologias presentes no seu cotidiano e os hábitos e objetivos de uso. "As informações geradas serão sistematizadas e servirão para subsidiar a definição de estratégias de comunicação participativa, voltadas para o atendimento de demandas comunicacionais dos moradores das comunidades”, explica o Relações Públicas Fabiano Estanislau.
No mesmo período teve início o levantamento e sondagem das casas de farinha existentes na Terra Indígena, para identificar demandas de capacitação no processo produtivo. “Após esse diagnóstico vamos realizar oficinas de Boas Práticas de Fabricação de farinha, visando à adequação de procedimentos para melhoria da qualidade do produto. Além disso, junto com os moradores da comunidade, serão avaliadas a infraestrutura de produção para sugerir mudanças nesses espaços”, diz a pesquisa a pesquisadora da Embrapa, Joana Leite, responsável pela atividade.
Estudos com plantas medicinais e espécies alimentícias
Outra equipe, com a participação de professores e estudantes da Ufac e do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), realiza estudos com plantas medicinais e espécies alimentícias na Terra Indígena, até o dia 4 de outubro. Desde abril, o grupo de atua na identificação de espécies com valor cultural e nutricional nos roçados, na floresta e em torno das casas das aldeias.
Segundo o pesquisador da Embrapa, Moacir Haverroth, o objetivo desse trabalho é melhorar as práticas de cultivo, fortalecer os plantios e agregar novas espécies aos sistemas produtivos, para ampliar a oferta destes recursos e contribuir com a segurança alimentar das famílias. “Em relação às atividades com plantas medicinais, estamos na fase de entrevistas com os moradores das aldeias, sobre as espécies que conhecem e sua aplicação na medicina Poyanawa. A partir do ano que vem vamos atuar na melhoria dos plantios existentes e na recuperação de espécies que se perderam com o tempo e que as famílias desejam voltar a cultivar”, explica pesquisador da Embrapa, Moacir Haverroth, líder do projeto.
As pesquisas com plantas alimentícias envolvem espécies tuberosas (cará, macaxeira, inhame, taioba, batata-doce e diferentes variedades de batatas) e outras plantas com potencial alimentar. Segundo a professora Almecina Balbino, que coordena a atividade, existe uma diversidade de plantas nos roçados e quintais indígenas e na floresta que podem ser aproveitadas como alimento, mas esses recursos ainda são pouco utilizados por desconhecimento das possibilidades de uso.
“Muitas espécies podem ser cultivadas em hortas caseiras e no contexto da escola e ser consumidas na merenda escolar, em pratos típicos da culinária tradicional indígena e por meio de outras receitas que poderão surgir a partir da troca de conhecimentos com as famílias. Esse consumo pode ajudar a diversificar e melhorar a alimentação e contribuir para a promoção da saúde nas aldeias”, ressalta a professora.
O trabalho envolve, ainda, a coleta de amostras de plantas, analisadas por profissionais da Ufac. Os resultados das avaliações bromatológicas (potencial de consumo, preparo e conservação) e da composição nutricional ajudarão as famílias na definição de espécies que terão os plantios ampliados. O projeto investirá também em iniciativas para recuperar espécies que no passado foram cultivadas nas aldeias.
Embrapa & Escola nas aldeias
As atividades de comunicação previstas no projeto envolvem também iniciativas de popularização da Ciência, por meio do Programa Embrapa & Escola, coordenadas pela analista Mauricília Silva. No dia 2 estudantes e professores, moradores das aldeias Poyanawa participam de palestra sobre plantas alimentares e os benefícios do consumo destes alimentos, ministrada pela professora Almecina Balbino, na escola da Terra Indígena. Nesta quarta-feira (3), alunos do Ensino Médio, professores e merendeiras poderão trocar conhecimentos sobre o uso de plantas alimentícias, incluindo o preparo de pratos com raízes e batatas e outras espécies agrícolas abundantes nas aldeias, durante oficina culinária realizada com o apoio da nutricionista e professora da Ufac Eline Oliveira.
O objetivo destas ações nas aldeias é compartilhar conhecimentos sobre o potencial alimentício das plantas, apresentar alternativas de consumo e integrar a comunidade escolar às ações do projeto executado na Terra Indígena. Haverroth considera que incentivar o consumo de alimentos saudáveis entre o público jovem é importante para evitar doenças crônicas e degenerativas resultantes de hábitos inadequados da vida moderna, incluindo a má alimentação.
“Muitos povos indígenas, especialmente aqueles que vivem em localidades próximas dos centros urbanos, como os Poyanawa, apresentam uma tendência crescente de consumo de produtos industrializados. Por serem ricas em nutrientes importantes para a saúde humana, muitas plantas disponíveis nas aldeias, cultivadas ou de ocorrência natural, podem ser utilizadas na alimentação diária”, diz o pesquisador.
Além de destacar o valor nutricional de cada espécie e a importância cultural de plantas tradicionais, a oficina proporcionará dicas de preparo simples e fáceis, tanto com plantas tradicionais como exóticas. “As receitas serão definidas junto com o público da oficina, que também ajudará na coleta dos ingredientes dos pratos nos quintais e roçados indígenas”, destaca a analista Mauricília Silva, coordenadora das atividades do programa Embrapa & Escola nas aldeias Poyanawa.
Sobre o Programa
O Embrapa & Escola é uma estratégia de popularização do conhecimento científico, voltada para o público estudantil, executada pelas diferentes Unidades de pesquisa da Embrapa, nos diversos estados brasileiros. Por meio de atividades lúdicas, busca mostrar como a Ciência participa do dia a dia das pessoas e despertar o interesse de crianças e jovens pela temática. No Acre, é executado desde 2000 e já beneficiou mais oito mil alunos de escolas públicas e privadas com visitas guiadas às dependências da Embrapa e ações realizadas no ambiente escolar. Pela primeira vez o programa atua com povos indígenas.
Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre
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