15/10/18 |   Agricultura familiar

Nove municípios debatem Pecuária Familiar em Seminário nas Missões

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Foto: Deise A. Froelich

Deise A. Froelich - Evento contou com ampla participação de pecuaristas familiares

Evento contou com ampla participação de pecuaristas familiares

Com o tema “A sustentabilidade da pecuária no Bioma Pampa”, o Seminário Microrregional de Pecuária Familiar reuniu mais de 150 pessoas de nove municípios das Missões, na quarta-feira (10/10), no Parque de Exposições Lindolfo Jacques Ourique, em Santo Antônio das Missões. A proposta foi promover a construção de conhecimentos e qualificar o acesso à informação sobre o manejo de rebanho bovino e ovino, com ênfase no campo nativo.

No público do evento, pecuaristas, estudantes, representantes de secretarias municipais da Agricultura, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e técnicos da Emater/RS-Ascar, Embrapa e de cooperativas. Na abertura oficial, o assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, Jorge João Lunardi, lembrou do envolvimento de técnicos de diferentes pontos da região, e também do “respeito e consideração da Instituição em relação ao trabalho e ao papel da pecuária familiar na produção de alimentos, manutenção do ecossistema e fortalecimento de questões sociais no meio rural. 

O prefeito de Santo Antônio das Missões, Puranci Barcelos dos Santos, afirmou que “o município reconhece a importância da pecuária familiar e concretizou ações importantes para este segmento, com parcerias importantes como da Emater e da Embrapa”.  

O evento foi promovido pela Emater/RS-Ascar, Prefeitura de Santo Antônio das Missões e Associação da Pecuária Familiar Missioneira, com apoio da Embrapa Pecuária Sul, Sindicato Rural, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, Escola Achilino de Santis, Sicredi, Banco do Brasil e Banrisul. 

Os painéis foram mediados pelos supervisores da Emater/RS-Ascar, Joney Braun e Rubens Tesche, pela assistente técnica estadual da Emater/RS-Ascar, Taís Michel, e pelo engenheiro agrônomo André de Oliveira. 

Histórico da pecuária local
A primeira explanação técnica foi do engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar de Santo Antônio das Missões, Edson Luís Backes, que falou da evolução do trabalho com a pecuária familiar desde o final da década de 70, quando o Escritório Municipal se fixou no município, até a atualidade. A guinada para o fortalecimento da pecuária local, segundo o agrônomo, ocorreu a partir do início dos anos 2000, ao final de uma palestra técnica, quando um grupo de amigos decidiu continuar se encontrando para trocar experiências, de forma espontânea, desencadeando na formalização da Associação Pecuária Familiar Missioneira, em 2007. 

Desde então evoluíram ações de construção do conhecimento coletivo, reuniões periódicas, intercâmbio de conhecimentos entre propriedades locais e em outros municípios, avanços na melhoria e produtividade dos campos nativos, por consequência do rebanho bovino e ovino manejado em sistema de pastoreio, acesso ao crédito, melhoria no manejo do solo, melhoria genética dos rebanhos e infraestrutura, ações de agregação de valor com micronagem da lã, redução de custos com o uso da homeopatia e maior geração de renda. Em Santo Antônio das Missões há também a Política Municipal de Incentivo à Pecuária Familiar. 

Manejo de campo nativo – como o solo e a vegetação interferem? 
Os pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul, de Bagé, engenheiros agrônomos José Pedro Trindade e Leandro da Silva Volk, apresentaram aspectos que interferem no manejo do campo nativo, especialmente o solo e a vegetação. A tônica da fala foram recomendações de práticas de manejo de campo nativo, relacionando o manejo com a dinâmica da vegetação e suas funções ecossistêmicas. 

Segundo os pesquisadores, é preciso conhecer e aprender a reconhecer, no sentido de conhecer de novo, o campo nativo, com as diferentes espécies de vegetação que existem, acompanhar e controlar de perto. “Se quero transformar meu campo e minha produção, preciso conhecer e controlar”, afirmou Trindade. O tripé animal–planta–solo tem a complexidade de suas relações manejada pelo homem. “O campo é resultado do manejo que damos a ele e isso é fantástico, significa que se eu ajustar o manejo, posso ter as respostas que espero”, destacou Leandro. 

A importância do cuidado com o solo também recebeu destaque, especialmente em relação à obtenção de nutrientes para a planta através das raízes e, assim, qualificar o desenvolvimento das plantas e o fornecimento de alimento para o rebanho. 

Melhoramento genético 
O relato sobre o desenvolvimento do projeto Polo de Excelência em Genética Taurina (PoloGen) foi realizado pelo técnico em agropecuária da Emater/RS-Ascar, Flávio Bonato, pela chefe-adjunta de transferência de tecnologia e analista da Embrapa Pecuária Sul, Estefanía Damboriarema, e pelo pecuarista familiar, Edson Barcelos. Com o PoloGen busca-se, através da aproximação entre pesquisa, extensão e produtores, melhorar a condição de vida das famílias, por meio do aumento da produtividade de suas unidades de produção, com sustentabilidade produtiva, econômica, social e ambiental. 

Com o projeto, foram disseminados as propostas e os benefícios da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) no município. 

O desenvolvimento do trabalho apresentou avanços em indicadores como taxa de prenhez, sanidade do rebanho, intervalo entre inseminações e partos, descarte de animais improdutivos, escore corporal, entre outros. Outras vantagens de participar do projeto é o acesso à genética de qualidade, com a transferência de sêmen de touros jovens avaliados como superiores nas Provas de Avaliação a Campo (PAC) – uma parceria entre Embrapa Pecuária Sul e associações de criadores, como Associação Brasileira de Angus e Associação Brasileira de Hereford e Braford. A padronização de fêmeas para futuras matrizes, conquista da certificação de terneiro da raça Angus, identificação individual de animais e agregação de valor para comercialização são outras melhorias já notados no projeto. 

Pecuária Familiar como estratégia de reprodução econômica e social 
O tema foi abordado pelo professor Vicente Celestino Pires Silveira, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com apresentação de resultados e levantamentos realizados em parceria com a Emater/RS-Ascar, apontando para peculiaridades de perfis da pecuária familiar nas diferentes regiões do Estado. Foram levados em conta indicadores econômicos, sociais e agroecológicos. 

Segundo o professor Vicente, se considerarmos a sustentabilidade da pecuária familiar como sendo a capacidade das famílias de manterem-se produzindo e vivendo de maneira digna ao longo do tempo e em harmonia com o meio ambiente, pode-se afirmar que os indicadores isoladamente não têm valor. “Porém quando comparados entre as famílias de um mesmo sistema ou entre os sistemas entre si, são uma importante ferramenta para escalonar graus de sustentabilidade e apontar oportunidades de intervenção da Extensão Rural no sentido de transformar sistemas em favor da qualidade de vida”, afirmou. 

Cenário da pecuária: pontos positivos e desafios 
No painel mediado pela assistente técnica estadual da Emater/RS-Ascar, Taís Michel, o engenheiro agrônomo do Escritório Regional de Santa Maria, Roblein Cristal Coelho Filho apresentou informações sobre o cenário da pecuária familiar no Estado. 

Em relação às oportunidades para quem investe na pecuária de corte estão a integração lavoura-pecuária, menor risco em relação às adversidades climáticas, produção de alimento com qualidade, investimento menor em relação à agricultura e a demanda de carne, que deve ser crescente até 2020. 

Também foram citados os desafios da pecuária de corte em relação individualismo dos produtores (neste sentido, segundo ele, a Associação de Santo Antônio das Missões está na contramão e dá o exemplo de um bom caminho a ser seguido), consumo reduzido e muita oferta de carne, competitividade por área com soja e arroz, utilização de áreas marginais e baixos investimentos, pecuária extensiva com baixa renda por hectare, insegurança no comércio de bovinos para abate, infraestrutura de transporte, escala de produção com incompatibilidade na relação entre área e rebanho em alguns casos, necessidade de padronização do rebanho, entre outros.   

Texto: Deise A. Froelich - Emater/RS-Ascar 

Felipe Rosa (Mtb 14406/RS)
Embrapa Pecuária Sul

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