Começa projeto de pesquisa para a seleção de porta-enxertos de videira adequados para áreas de replantio
Começa projeto de pesquisa para a seleção de porta-enxertos de videira adequados para áreas de replantio
Nas tradicionais regiões vitícolas do sul do Brasil (Serra Gaúcha-RS e Vale do Rio do Peixe-SC) ocorrem altos índices de chuva durante as safras, que favorecem as doenças fúngicas e obrigam o uso frequente de tratamentos fitossanitários, principalmente a base de cobre, como a calda bordalesa. Este padrão de manejo condiciona um aporte constante de metais pesados no solo. Além disso, pelo uso contínuo, estes vinhedos também apresentam solos com excesso de nutrientes, compactados e mal drenados. Nestas áreas também se destaca a presença de nematóides e de insetos de solo, como pérola-da-terra e filoxera, em conjunto com uma grande diversidade de fungos de solo, tais como Fusarium oxysporum, Cylindrocarpon spp, Phaeoacremonium spp, Botryosphaeria spp. Com esse conjunto de estresses, as áreas de replantio tem apresentado a morte antecipada de plantas (média de oito anos pós-plantio) e com grandes impactos na sustentabilidade das pequenas propriedades vitícolas.
O emprego de porta-enxertos resistentes aos fatores de estresse pode ser uma das estratégias de manejo para contornar esses problemas. Contudo, até o momento não se dispõe de nenhuma alternativa comercial que possa garantir a sobrevivência das videiras nestas condições restritivas. O porta-enxerto Paulsen 1103 tem sido o mais usado, em função da resistência ao Fusarium, mas não expõe a mesma tolerância a todo conjunto de estresse. Portanto, disponibilizar opções de porta-enxertos mais resistentes aos estresses de áreas de replantio, visando garantir vinhedos com um estabelecimento uniforme e maior vida útil nestas principais regiões vitivinícolas do sul do Brasil, se apresenta como o principal objetivo do Projeto "Prospecção e ajustes tecnológicos de porta-enxertos de videira para superação de estresses típicos de áreas de replantio no Sul do Brasil (PE-VITISUL)”.
O projeto, coordenado pela Embrapa Uva e Vinho, começou a ser executado no mês de janeiro de 2018 e terá vigência de quatro anos. Como estratégia principal, serão utilizados diferentes genótipos oriundos principalmente dos programas de melhoramento da Embrapa, Epagri e Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para caracterização e seleção de resistência serão empregados desafios controlados com os diferentes fatores de estresse das áreas de replantio. Na equipe mobilizada para as diferentes etapas de avaliação, participarão pesquisadores de instituições-referência em pesquisa agropecuária: Embrapa, Empresa de Pesquisa de Santa Catarina (Epagri), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Irrigação (SEAPI/RS), Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS). O projeto também contará com a colaboração técnica do Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), da França, que é o principal instituto de pesquisa agrícola da Europa, disponibilizando genótipos para os testes de resistência.
No mês de março aconteceu a primeira reunião de trabalho do Projeto, na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves (RS), uma ação que deverá se repetir anualmente durante os próximos anos nas duas regiões envolvidas. “Promover essa discussão já no início do projeto foi um importante espaço para o nivelamento estratégico e operacional com toda equipe, com a apresentação das ações e da logística que será adotada”, destacou o pesquisador Henrique Pessoa dos Santos, líder do projeto. O encontro também possibilitou novas perspectivas de interações entre as diferentes atividades de pesquisa, o que poderá prover economia de tempo e de recursos na obtenção dos resultados.
Na opinião de Paulo Vitor Dutra de Souza, membro da equipe, professor e vice-Diretor da Faculdade de Agronomia da UFRGS, que já de longa data participa de projetos com a orientação de alunos de pós-graduação, a parceria entre o ensino, a pesquisa e a extensão é muito positiva. “Essa interação auxilia a Embrapa no desenvolvimento das pesquisas, ao mesmo tempo em que qualifica o egresso da pós-graduação, sendo produtivo para todos”, pontuou. Ele destaca que a criação desses porta-enxertos é a garantia da sobrevivência da viticultura em regiões tradicionais. “A falta de alternativas de porta-enxertos é um gargalo da fruticultura em geral. É um problema histórico dos citros, das frutas de caroço e da viticultura. Na maioria dos casos, ficamos reféns de um único material (porta-enxerto) para os cultivos”, avalia o professor.
Essa visão de demanda por novos porta-enxertos também é compartilhada por outras entidades, que não participam diretamente das ações, mas enviaram cartas de apoio na submissão do projeto, como as recebidas da Agaprovitis, Centro Ecológico de Ipê, Coopervil (SC), Epagri (SC), Cooperativa Nova Aliança, Sindicado Rural de Bento Gonçalves, Emater-ASCAR/RS, Fecovinho e Ibravin, que foram decisivas para a aprovação do mesmo.
A busca por materiais resistentes não é uma novidade, como cita André Luiz Kulkamp de Souza, que atua na Estação Experimental de Videira da Epagri. Ele comenta que mesmo com uma equipe reduzida, a Epagri já vinha conduzindo pesquisas na área, com o desenvolvimento de porta-enxertos resistentes, baseado em Vitis caribea que é uma espécie tropical. “Participar deste projeto, que é bastante amplo e ambicioso, e que conta com uma grande equipe envolvida, com certeza terá como resultado as recomendações de quais são os melhores porta-enxertos para os viticultores das diferentes regiões”, avaliou.
“Acredito que vai ser difícil chegar ao final do projeto com um genótipo resistente a tudo, mas poderemos avançar no conhecimento técnico de diferentes porta-enxertos que pode subsidiar os produtores nas futuras escolhas dos mais adequados à sua propriedade”, antecipou Marcus Kurtz Almança, que é professor da área de Fitossanidade do IFRS, e está responsável pela primeira etapa do projeto, que é buscar identificar exemplares resistentes às principais doenças fúngicas de solo, como o pé-preto (Cylindrocarpon spp).
Juntamente com a estratégia de seleção dos porta-enxertos mais promissores, outros profissionais, como o professor Gustavo Brunetto, da UFSM, avaliarão diferentes aspectos, como a caracterização morfológica e questões relativas à absorção dos nutrientes, que também estão intimamente relacionadas às características de tolerância aos elementos tóxicos. Brunetto compara o porta-enxerto ao pilar de uma casa, ou seja, é a base para o sucesso da instalação do vinhedo, sendo fundamental para o sucesso na produção da uva.
As atividades do projeto estão apenas no início, mas a estratégia geral da proposta parte de um histórico e de bases científicas que foram desenvolvidas desde a década de 1980, pelos programas de melhoramento da Embrapa, Epagri e UFPR, o que fortalece o otimismo da equipe e o sucesso na seleção de porta-enxertos promissores. No entanto, pela complexidade e as combinações de estresses das áreas de replantio, acredita-se que os genótipos resistentes serão apenas uma das ferramentas para o manejo do declínio e da morte de plantas de videira. Ou seja, para a sustentabilidade dos parreirais nas regiões vitícolas tradicionais, é importante a adoção conjunta de outros cuidados básicos e específicos nos momentos de replantio, tais como o preparo e correção de solo com critérios técnicos, uso de mudas com qualidade e sanidade garantida, dentre outros, pois o porta-enxerto, por mais resistente que seja, não será a “cura para todos os males”.
Essa foi a mensagem apresentada pela equipe neste primeiro encontro de março. Portanto, outras ações terão grande interface e complementariedade com o projeto, tais como o “Programa para produção e transferência de plantas matrizes de videira com qualidade superior” e “Tecnologias para a viabilização e sustentabilidade dos vinhedos em áreas de renovação na região sul do Brasil”, que já estão em vigência na Embrapa Uva e Vinho e visam, respectivamente, atender a carência por mudas com sanidade e identidade garantida e o manejo prévio do solo em áreas de replantio. Os resultados destas ações, em conjunto com porta-enxertos promissores, poderão gerar grandes impactos econômicos, ambientais e, principalmente, sociais, nas pequenas propriedades vitícolas na região sul do Brasil.
Com a colaboração de Henrique Pessoa dos Santos, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e líder do Projeto Prospecção e ajustes tecnológicos de porta-enxertos de videira para superação de estresses típicos de áreas de replantio no Sul do Brasil (PE-VITISUL).
Foto: Parte da equipe do Projeto - Crédito:
Viviane Zanella (Mtb 14400)
Embrapa Uva e Vinho
Contatos para a imprensa
uva-e-vinho.imprensa@embrapa.br
Telefone: 54-34558084
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/