Barragens subterrâneas estão entre práticas finalistas do prêmio ODS Brasil
Barragens subterrâneas estão entre práticas finalistas do prêmio ODS Brasil
As barragens subterrâneas, tecnologia popular pesquisada pela Embrapa há cerca de 30 anos e que tem sido adotada por famílias agricultoras na região do Semiárido, acabam de ser selecionadas entre as iniciativas finalistas da primeira edição do prêmio ODS Brasil, na categoria "Ensino, Pesquisa e Extensão". Estavam concorrendo outras 122 práticas, até serem selecionadas as dez indicadas à fase final do concurso.
O objetivo da premiação é incentivar, valorizar e dar visibilidade a práticas que contribuam para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, no território nacional, além de ser o primeiro passo para a formação de um banco de práticas que servirão de referência na implementação e disseminação de ações nos próximos 12 anos. O resultado final será divulgado em dezembro, em solenidade no Palácio do Planalto, em Brasília.
Na mesma categoria da Embrapa, também foram selecionados como finalistas o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá ("Água, esgotamento sanitário e higiene para a qualidade de vida de populações ribeirinhas na Amazônia"), a Universidade Federal de Lavras ("Criação de uma universidade verde: o Plano Ambiental e estruturante da Ufla"), a Casa Familiar Agroflorestal do Baixo Sul da Bahia ("Educação emancipadora e ações multiplicadoras em comunidades rurais"), a Universidade Federal do Ceará ("Escritório de Tecnologia Social"), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte ("Gestão ambiental integrada na UFRN: efluentes e resíduos sólidos" e "Horta comunitária Nutrir: educação para o desenvolvimento sustentável na formação em alimentação e nutrição"), a Fundação Oswaldo Cruz ("Observatório de territórios sustentáveis e saudáveis da Bocaina" e "Plataforma tecnológica para o monitoramento participativo de emergência de zoonoses") e a Universidade Federal Rural do Semiárido ("Tecnologia da dessanilização da água salobra e potencial hídrico do rejeito salino na produção agrícola familiar").
Além de "Ensino, Pesquisa e Extensão", serão contempladas iniciativas nas categorias "Com Fins Lucrativos", "Sem Fins Lucrativos" e "Governo". A primeira edição do prêmio ODS Brasil 2018 é uma promoção da Secretaria Nacional de Articulação Social, da Secretaria de Governo (Segov) da Presidência da República.
Entre maio e julho foram inscritas 1.038 iniciativas de todas as regiões do País. Após avaliação dos critérios, 729 foram validadas nas categorias "Governo" (211), "Com Fins Lucrativos" (139), "Sem Fins Lucrativos" (256) e "Ensino, Pesquisa e Extensão" (123).
Na fase seguinte, um comitê técnico, composto por representantes da Segov, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e do Ministério da Saúde (MS), promoveu novas rodadas de avaliação, inclusive presencial, até a seleção das 39 práticas finalistas. Da etapa final, participam especialistas em desenvolvimento sustentável de diversos segmentos, que se reunirão nesta sexta-feira (9).
Benefício social
Há mais de dois séculos há registros do uso de barragens, mas as primeiras pesquisas de barragens subterrâneas no Brasil começaram em 1982, pela Embrapa Semiárido. A partir de 2007, a Embrapa Solos, por meio da Unidade de Execução de Pesquisas e Desenvolvimento de Recife (PE), passou a participar de pesquisas e ações de transferência de tecnologia no Semiárido, nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Como inovação, a Embrapa introduziu nas suas pesquisas a participação das famílias agricultoras e a parceria com organizações representativas da sociedade civil, por meio de ONGs associadas à ASA Brasil.
As barragens são uma tecnologia de captação de água da chuva que contribui para o convívio dos sertanejos com o Semiárido, facilitando a produção de água para a atividade agropecuária e reduzindo os riscos da agricultura dependente de chuva. Desenvolvidas a partir de princípios simples, são paredes construídas dentro da terra, com a função de bloquear as águas das chuvas no solo e acima dele, formando uma vazante artificial onde agricultores conseguem manter o terreno molhado entre três e cinco meses após a época chuvosa. Assim é possível garantir o cultivo, mesmo durante a estiagem, de culturas de subsistência: frutíferas, forragem, hortaliças, plantas medicinais, cana-de-açúcar, batata-doce, arroz, entre outras.
Segundo a coordenadora do projeto, a pesquisadora da Embrapa Solos Maria Sônia Lopes da Silva, a grande inovação da pesquisa em relação ao modelo tradicional da tecnologia foi a adoção do uso do plástico septo impermeável, responsável inclusive pelo barateamento do custo da implantação do sistema.
Disseminação do conhecimento e parcerias
Além de atender demandas do Brasil, a Embrapa Solos vem sendo procurada para contribuir com a implantação de barragens subterrâneas em países como Honduras (América Central), Moçambique e Cabo Verde (África).
Em 2008, as barragens subterrâneas foram destacadas como caso de sucesso no Balanço Social da Embrapa e em 2013, foram reconhecidas como tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil (FBB) e receberam o prêmio Mandacaru I.
Ao longo dos anos, dez Unidades participam ou já participaram como parceiras no desenvolvimento de expansão do projeto das barragens subterrâneas: Embrapa Semiárido, Embrapa Algodão, Embrapa Meio-Norte, Embrapa Tabuleiros Costeiros, Embrapa Mandioca e Fruticultura, Embrapa Agroindústria Tropical, Embrapa Caprinos e Ovinos, Embrapa Agrobiologia e Embrapa Agrossilvipastoril, além de instituições como Centro Francês de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional (Cirad), Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, Emater, Seagri, universidades federais Rural de Pernambuco e da Bahia, Cáritas Diocesana, entre outras.
“Uma das mais fundamentais participações e que não pode ser esquecida é a presença das comunidades agricultoras, que contribuíram com seu saber e suas representações para que a tecnologia se disseminasse”, disse a pesquisadora Maria Sônia. “Foi um processo de construção coletiva, que possibilitou a mudança que ocorreu e vem ocorrendo nas comunidades”, completou. Ela ressaltou ainda a importância das barragens nos programas de políticas públicas de inclusão socioprodutiva de erradicação da miséria e da fome, como o Água para Todos e o Fome Zero.
Alinhamento com os ODS
A Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é parte do Protocolo Internacional, assinado por 193 países, na Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU), em setembro de 2015. Na ocasião, o governo brasileiro se comprometeu em desenvolver e adotar um modelo de desenvolvimento sustentável, com metas a serem alcançadas até 2030, entre elas a erradicação da fome, a redução das desigualdades, o combate às mudanças climáticas e a promoção do crescimento econômico com inclusão.
Especificamente no caso das barragens subterrâneas, a prática apresenta uma transversalidade com nove dos 17 ODS (1 – Erradicação da pobreza; 2 – Fome zero e agricultura sustentável; 3 – Saúde e bem-estar; 5 – Igualdade de gênero; 6 – Água limpa e saneamento; 10 – Redução das desigualdades; 12 – Consumo e produção responsáveis; 13 – Ação contra a mudança global do clima; e 17 – Parcerias e meios de implementação).
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