20/11/18 |   Comunicação

Oficina prepara jovens extrativistas para a comunicação comunitária

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Foto: Diva Gonçalves

Diva Gonçalves - Participantes da capacitação em atividade prática sobre temas relacionados à realidade das comunidades rurais do Acre, como as queimadas florestais

Participantes da capacitação em atividade prática sobre temas relacionados à realidade das comunidades rurais do Acre, como as queimadas florestais

Extrativistas do Acre e Minas Gerais participaram de oficina de comunicação comunitária, realizada pela Embrapa, por meio do projeto Bem Diverso, no município de Brasileia (AC), entre 15 e 17 de novembro. A atividade teve como objetivo capacitar jovens moradores de comunidades tradicionais para o uso de mídias digitais, com foco na produção e divulgação de conteúdos de interesse dessas localidades.

Ministrada por profissionais da Rede Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), organismo que atua na produção e compartilhamento de conteúdos informativos em plataformas digitais, de forma colaborativa, a capacitação abordou aspectos do processo de comunicação, incluindo a escolha de pautas, cobertura em tempo real, narrativas e linguagens midiáticas, interatividade na Web e planejamento de campanhas colaborativas de divulgação. Os participantes também ampliaram conhecimentos sobre o uso de mídias alternativas no contexto das reservas extrativistas e em ambientes urbanos e puderam realizar práticas de produção de conteúdos informativos (foto, vídeo e texto), compartilhamento e divulgação, via internet.


De acordo com Priscila Viudes, analista da Embrapa Acre e coordenadora da oficina, as atividades buscaram mostrar que é possível uma atuação nas mídias sociais para além do entretenimento, com foco na comunicação comunitária e no interesse coletivo. “As tecnologias digitais podem ser utilizadas para dar visibilidade às conquistas, demandas e reivindicações das comunidades rurais, dificilmente retratadas pelas mídias tradicionais, já que a maioria dessas localidades é de difícil acesso e distante das cidades. Sabemos que essas ferramentas ainda são pouco presente no meio rural amazônico, mas muitos moradores dispõem de celular e utilizam ativamente as redes sociais, por meio dessa tecnologia, no trânsito entre o meio rural e os contextos urbanos”, explica.


Para o jornalista Clayton Nobre, instrutor da oficina, embora as dificuldades de acesso às tecnologias da comunicação ainda sejam latentes em muitas comunidades rurais, há uma um interesse comum dos seus moradores por essas ferramentas e uma propensão ao uso de tecnologias digitais, especialmente entre os mais jovens, que sempre encontram formas alternativas para se comunicar e interagir nas mídias sociais. “Pensando na capacidade inventiva dessa geração, trabalhamos com a ideia de cidadão multimídia, mostrando que mesmo onde a cultura digital não está plenamente internalizada, cada pessoa tem a capacidade de produzir suas próprias narrativas e contar o que acontece na comunidade”, destaca.

Troca de experiências

A oficina cotou com 30 participantes e deste total, 25 moram nas Reservas Extrativistas (Resex) Alto Tarauacá (município de Jordão), Chico Mendes (municípios de Epitaciolândia, Brasileia, Xapuri e Assis Brasil), Riozinho da Liberdade (Tarauacá) e Cazumbá Iracema. Também participaram extrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Nascentes Geraizeiras, Unidade de conservação situada no município Pardo de Minas (MG), no Território da Cidadania Alto do Rio Pardo, além de técnicos de instituições parceiras. O evento contou com o apoio do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), por meio do Programa de Áreas Protegidas da Amazônia, Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Fundo Amazônia, por meio do Projeto Integrado para a Produção e Manejo Sustentável do Bioma Amazônia, Governo do Acre por meio do Instituto de Mudanças Climáticas (IMC) e Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e WWF Brasil.


A atividade também enfatizou a troca de experiências entre extrativistas que já atuam com mídias sociais e quem está se preparando para o uso das tecnologias digitais. A agricultora familiar Edianilha Ribas (a Nina), moradora da comunidade Olhos D´Água, localizada em Taiobeiras, município que integrante do Território da Cidadania Alto Rio Pardo (MG), atua com comunicação popular há três anos e veio ao Acre participar da oficina e compartilhar sua vivência com as mídias digitais como estratégia de mobilização social. Para a jovem ativista, as comunidades rurais da Amazônia e do Cerrado mineiro guardam inúmeras semelhanças, tanto em relação à diversidade de povos tradicionais quanto à necessidade crescente de reforçar a comunicação como estratégia de desenvolvimento local e empoderamento das populações nesses territórios.


“Quando bem utilizadas, as tecnologias da comunicação são armas poderosas para a obtenção de conquistas coletivas e ajudam a fortalecer as comunidades rurais. A exclusão digital no meio rural não representa impedimento para uma comunicação comunitária eficiente. Em localidades sem acesso à internet é possível comunicar bem aspectos da vida da comunidade utilizando mídias tradicionais como o rádio ou ainda por meio de conversas verbais, prática que ajuda a manter viva a tradição de oralidade”, enfatiza Nina.


Um dos resultados práticos da oficina é que os participantes que moram na Reserva Extrativista Chico Mendes possam atuar na cobertura em tempo real da Semana Chico Mendes, evento alusivo aos 30 anos da morte do ativista acreano, que acontecerá nos dias 15, 16 e 17 de dezembro, no município de Xapuri.

Multiplicação de conhecimentos

Morador do seringal Jaminawá, na Reserva Extrativista Alto Tarauacá, município de Jordão (AC), Francisco Marciel viajou durante dois dias para participar da oficina. Para chegar a Brasileia realizou parte do trajeto de barco (até Jordão), parte de avião (até Rio Branco) e percorreu 230 quilômetros por via terrestre. Essa logística traduz de forma emblemática o isolamento e os desafios da comunicação em centenas de comunidades rurais do Acre. Apesar das dificuldades de acesso, o extrativista de 22 anos garante que o esforço valeu a pena e que atuará na multiplicação dos conhecimentos adquiridos.


“Vou repassar esse aprendizado a outros moradores da comunidade, especialmente em relação ao celular, para melhorar o uso dessa tecnologia quando estivermos na cidade. Além de vídeos e fotos, poderemos divulgar eventos populares na internet. Devido à ausência de energia elétrica, o rádio ainda é o principal meio tanto para transmitir informações e para saber o que acontece na cidade. O trabalho coletivo, envolvendo jovens engajados com a causa social, pode ajudar a melhorar a comunicação e o acesso a informações pelos moradores”, diz Marciel.


Outro participante que almeja transformar a realidade comunicacional da comunidade, a partir do que aprendeu na capacitação, é Jeferson Rodrigues, de apenas 15 anos. Em Altamira, na Reserva Extrativista Chico Mendes, onde vive com a família, a cerca de 20 quilômetros de Xapuri, a internet está disponível, mas o serviço ainda é precário. “Geralmente, para utilizar o celular e acessar as redes sociais busco pontos mais elevados, nem sempre próximos da casa, para captar o sinal. É necessário ampliar as possibilidades de comunicação na comunidade. Agora, que aprendi novas formas de divulgação pela internet, posso socializar assuntos importantes para a vida na Reserva, mesmo que esse trabalho só seja possível no meio urbano”.

Sobre o Bem Diverso

Executado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), o Projeto Bem Diverso atua em seis Territórios da Cidadania: Alto Acre e Capixaba (AC) e Marajó (PA), no bioma Amazônia; Médio Mearim (MA) e Alto Rio Pardo (MG), no bioma Cerrado; e Sobral (CE) e Sertão de São Francisco (BA), na Caatinga.


No Acre, as ações são desenvolvidas em comunidades rurais da Reserva Extrativista Chico Mendes, com foco na melhoria da produção de castanha-do-Brasil e ampliação do uso de sistemas agroflorestais envolvendo modelos que incluem espécies nativas como castanheira e seringueira e funcionam como alternativa para diversificar a renda familiar e conservar o meio ambiente. Clique aqui para saber mais sobre o Projeto Bem Diverso.

Diva da Conceição Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre

Contatos para a imprensa

Telefone: (68) 3212-3250

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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