29/11/18 |   Florestas e silvicultura  ILPF  Agricultura de Baixo Carbono

Renovação de sistema silvipastoril é tema de Dia de Campo

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Foto: Katia Pichelli

Katia Pichelli -

Produtores rurais da região de Missal/PR, participaram de um dia de campo em 20/11. Em pauta, sistema silvipastoril, uma das estratégias de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Os 150 participantes passaram por quatro estações montadas na propriedade de Pedro Marin. (para ver mais fotos, clique aqui)


Em 4,5 hectares, Marin implantou o sistema silvipastoril de eucalipto com gado de leite há 13 anos e, agora, a área vai passar pela primeira reforma. O sistema silvipastoril tem como objetivo o conforto térmico animal, por meio da sombra proporcionada pelas árvores, e também a obtenção de renda com a produção de madeira, além de outros benefícios, como a conservação de solo e água, diversificação da produção, proteção dos animais e pastagens, entre outros fatores. Segundo Emiliano Santarosa, engenheiro agrônomo e analista da Embrapa Florestas responsável por uma das estações do dia de campo, “para que o sistema seja produtivo, é necessário planejar e manejar de acordo com as recomendações, como a escolha das espécies, qualidade de muda, espaçamentos, aplicação de práticas silviculturais, como as desramas e os desbastes”. Também é necessário realizar o monitoramento das árvores e pastagens, tanto para regular o sombreamento, quanto verificar a taxa de crescimento e o volume de madeira. “Nesta área, por exemplo, já foram realizados os desbastes, ou seja, a colheita de parte das árvores, sobrando ainda 79 árvores e 110 m3 de madeira no sistema. É necessário, agora, prever a continuidade do sistema, garantindo o sombreamento adequado aos animais e o manejo correto das árvores”, explica Santarosa. 

Além do conforto térmico animal, garantido pelo sistema silvipastoril, a colheita parcial de árvores ao longo dos anos garantiu suprimento de madeira (200m3 de lenha e 30m3 madeira para serraria) que foi utilizada parte na propriedade e parte comercializada em serrarias locais, além da madeira ainda disponível para ser retirada. Segundo Marin, “o sistema vale muito a pena! Vamos replantar tudo de novo, porque o conforto dos animais tem que continuar e a renda com a madeira foi muito boa”. No entanto, Marin alerta: “mas tem que planejar. Não adianta fazer uma coisa, ganhar 50 e gastar 100. Aí não tem futuro”.

A importância do planejamento é foco de atuação do Instituto Emater Paraná. Para José Lindomir Pezenti, Chefe da Regional de Cascavel/PR (à qual o município de Missal faz parte), “o produtor rural interessado pode contar com a assessoria da Emater e com os resultados de pesquisa da Embrapa, para selecionar o melhor local, escolher a melhor espécie e a melhor variedade para aquela propriedade e aquele tamanho de pastagem. Ou seja, para o planejamento adequado”.

Para Eduardo Staudt, vice-prefeito de Missal, “eventos assim oportunizam aos agricultores do nosso município sempre estar acompanhando as tecnologias e também trocar informações com produtores de outras regiões, para também trazer cada vez mais inovação para a propriedade rural”.

Leandro Marin, filho do seu Pedro, já trabalhou “na cidade”, mas hoje não troca a produção rural: “o trabalho vai de geração em geração e cada vez melhor, né? Já estamos planejando para meus filhos”. Leandro conta que, antigamente, a propriedade tinha menos cabeças de gado, que não se alimentavam bem por causa do sol forte da região. “Com o sistema silvipastoril, aumentou muito a produção de leite e também pudemos colocar mais animais por m2”, explica. O produtor conta que, quando resolveram implantar o sistema, chegaram a ser chamados de “loucos” na região. Até uns quatro anos após a implantação das árvores, quando o sistema passou a ter sombra, as pessoas não acreditavam, em especial por causa dos mitos de que eucalipto seca o solo e que a pastagem não vai bem na sombra. “Pois a pastagem certa vai muito bem no sistema”, atesta Leandro. “Este ano tivemos geada na região e o pasto no sistema silvipastoril não foi atingido. E o que tivemos de lucro e bem-estar animal compensa muito!”, comemora.

As quatro estações do Dia de Campo orientaram os participantes sobre os diversos aspectos do sistema silvipastoril em uma propriedade que trabalha com pecuária leiteira. Desde a gestão da atividade na propriedade rural, arborização de pastagem, reforma/renovação do sistema silvipastoril e manejo da pastagem. “O gado de leite, se não pasta e não come, não produz leite”, explica Amauri Ferreira Pinto, coordenador de produção vegetal do Instituto Emater/PR, “por isso, aqui nesta propriedade, é importante agora planejarmos os próximos passos para que possa, até mesmo, melhorar ainda mais sua produtividade”. Como as árvores remanescentes já estão em ponto de colheita final, é necessário, então, planejar a renovação do sistema silvipastoril. No dia de campo, foi mostrado aos produtores que é possível a continuidade do sistema, com os devidos cuidados na reimplantação. “O produtor aqui não abre mais mão dos benefícios da arborização do pasto”, ressalta Amauri.

A escolha e manejo do pasto também são ponto de atenção, como explicou o zootecnista Endrigo de Carvalho, do Instituto Emater/PR. Em sua estação, Carvalho lembrou aos participantes aspectos importantes como análise de solo, qualidade de sementes, escolha de pastagem, altura de pastejo, espécies x tolerância ao sombreamento. “Todos estes assuntos precisam ser pensados pelo produtor, para que tenha uma boa qualidade de pasto e o sistema funcione bem”, explica.

O produtor rural Irineu Schmidt participou do dia de campo com a ideia de justamente conhecer melhor sobre pastagem: “vim para conhecer e entender qual pastagem se desenvolve melhor na minha propriedade. Não conhecia árvore no pasto, mas agora já estou de olho para implantar. Valeu muito a pena ter vindo: temos sempre que procurar novas ideias”. Já Vilso de Souza Ferraz já conta com apoio da Emater/PR, mas o dia de campo reforçou a intenção de implantar o sistema silvipastoril: “a gente sabe algo mas precisa saber mais. Já tenho algumas carreiras de nativas, mas quero colocar eucalipto para também ter renda, com planejamento. E hoje também o meio ambiente pede isso pra gente”.

Sistema silvipastoril

O sistema silvipastoril conjuga a produção pecuária e florestal em uma mesma área e ao mesmo tempo. É uma atividade que traz diversos benefícios, tais como conforto térmico ao gado, com reflexo direto na produtividade do rebanho; sequestro de carbono, auxiliando na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas; e um novo produto para a propriedade rural: a madeira.

Projeto Bioeste Florestas

O dia de campo em Missal faz parte do Projeto Bioeste Florestas, coordenado pela Embrapa Florestas, com a parceria da Emater/PR, Itaipu Binacional e CIBiogás.

O projeto Bioeste foi criado para dar bases mais sólidas ao plantio de árvores para a produção de energia no Oeste do Paraná. A região tem importância estratégica na produção de grãos e de proteína animal. Estas cadeias produtivas necessitam de biomassa florestal para energia térmica, seja na secagem de grãos, nas caldeiras das agroindústrias, no aquecimento de aviários ou em outras atividades do agronegócio. Essa demanda por biomassa de madeira contrasta com a baixa tradição da região em plantios florestais com fins produtivos e ganha importância com o déficit dessa biomassa, que aumenta na mesma medida do crescimento do setor agroindustrial local. Segundo o coordenador do projeto, o pesquisador João Bosco Gomes, da Embrapa Florestas, “os sistemas silvipastoris são mais focaos na produção de madeira para outros fins, como serraria, por exemplo, mas achamos importante trazer também esta opção de renda aos produtores da região”. “Fazemos nossos ensaios, experimentos, identificamos resultados e os dias de campo nos ajudam a trazer estes resultados para os produtores”, completa João Bosco. “A ILPF está ganhando cada vez mais espaço na pecuária nacional, em especial pela sustentabilidade dos sistemas”, finaliza. 

Katia Pichelli (MTb 3594/PR)
Embrapa Florestas

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