Profissionais se preparam para a classificação comercial de banana no Acre
Profissionais se preparam para a classificação comercial de banana no Acre
Foto: Diva Gonçalves
Participantes do curso em aula prática no auditório da Superintendência Federal de Agricultura, em Rio Branco (AC)
Engenheiros agrônomos de diferentes instituições públicas e empresas privadas ligadas à área de produção vegetal participam do curso “Qualificação de classificadores de produtos vegetais com habilitação em banana”, realizado pela Embrapa, em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Superintendência Federal da Agricultura (SFA) no Acre, desde o dia 3 de dezembro. A capacitação de 40 horas visa proporcionar conhecimentos técnicos necessários para a classificação comercial da banana produzida no Estado e encerra nesta sexta-feira (7), com aula prática na Central de Abastecimento (Ceasa) de Rio Branco (AC).
Ministrado por especialistas do Mapa do Mato Grosso do Sul (MS) e da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), no auditório da SFA/Mapa, o curso faz parte das ações para implantação do Sistema de Mitigação de Risco (SMR) da Sigatoka-negra no Acre. Os conteúdos teóricos abordaram conhecimentos gerais sobre a classificação, padronização e fiscalização de produtos vegetais e aspectos legais do processo. Já as atividades práticas, iniciadas, na quinta-feira (6), enfatizam procedimentos operacionais de coleta de amostras de frutos de banana, técnicas de classificação do produto, uso adequado de equipamentos e critérios classificatórios entre outros aspectos normativos exigidos na classificação de banana.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Acre, Virgínia Álvares, autora do projeto da capacitação e coordenadora da atividade, o treinamento também inclui a realização de provas de conhecimentos da legislação e de procedimentos práticos de classificação de banana. “Os participantes aprovados nos exames de habilitação deverão se credenciar junto ao Mapa como classificadores de banana. O credenciamento é um procedimento necessário para obtenção do registro técnico que habilita legalmente o profissional para o exercício da atividade”, explica.
O curso, normatizado pelo Mapa, órgão que também atua como fiscalizador do processo de classificação de produtos vegetais, é viabilizado com o apoio financeiro do gabinete do deputado federal César Messias, por meio de recursos alocados via emenda aprovada pelo parlamentar acreano.
Critérios de classificação
De acordo com a legislação, a banana destinada à comercialização interna e exportação deve ser classificada em Grupos e Tipos, com base em critérios mensuráveis como tamanho dos frutos (comprimento e diâmetro), nível de maturação, apresentação (quantidade de frutos por penca) e qualidade (limpeza dos frutos e ausência de defeitos como rachaduras, amassados). O Grupo 1, representado pelas variedades nanica e nanicão, pode ser dos Tipos Extra, Especial, Comercial e Comum. Já o grupo 2 contempla as bananas prata, maçã e banana da Terra (conhecida como banana comprida), variedades abundantes no Acre e representadas pelos Tipos Extra, Especial e Comercial.
“Essa tipificação ajuda a garantir padronização e homogeneidade à banana e agrega valor comercial ao produto. Contar com profissionais habilitados para esse trabalho trará benefícios para os produtores, que poderão obter preços mais justos para a produção e para o consumidor, que terá acesso a um produto com melhor padrão de qualidade”, afirma a engenheira agrônoma Maria do Carmo Brilhante, lotada no Serviço de Sanidade, Inspeção e Fiscalização da SFA/Mapa no Acre.
Ezequiel Pelentir, técnico da Cidasc, especialista na classificação de 27 produtos vegetais e instrutor da capacitação, explica que os defeitos mais comuns encontrados na banana disponibilizada para o mercado são lesões por doenças, podridão, machucados e escurecimento dos frutos, geralmente decorrentes de práticas inadequadas no manejo, colheita e pós-colheita e na logística de acondicionamento e transporte da produção. “Esses problemas, facilmente identificados, influenciam a compra do produto pelo consumidor, que dará preferência a pencas que possibilitem aproveitar todos os frutos. A permanência de bananas defeituosas na gôndola de exposição acaba afetando outros frutos e inviabilizando a sua comercialização. Separar os frutos com potencial comercial daqueles com defeito evita perdas para o produtor e para o comerciante”, diz.
Na opinião do engenheiro Agrônomo Josicley Azevedo, técnico da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) e um dos participantes do curso, a aplicação de critérios de classificação da banana descritos na legislação, requer mudança de comportamento por parte dos agricultores. “Atualmente, o produtor é quem menos ganha com a venda da produção, mas com os conhecimentos adquiridos na capacitação pretendemos atuar para modificar essa realidade. Sabemos que a adequação a novos padrões de manejo da produção requer investimento na atividade produtiva, que certamente será compensado pela oferta de um produto com valor agregado no mercado e aumento da procura, resultando em mais renda para as famílias”.
Casa de embalagem
De acordo com Virgínia Álvares, o processo de classificação comercial da produção de banana também envolve a embalagem do produto, atividade que deve ser realizado em local apropriado, também seguindo critérios legais. A primeira casa de embalagem será construída no município de Acrelândia, principal polo produtor de banana do Estado, com recursos financeiros do Banco Mundial. O processo, em fase de licitação, é coordenado pela Associação dos Produtores Rurais do Ramal Campo Novo (Apruracan). Conforme Virgínia Álvares, responsável pelo projeto, o funcionamento da estrutura está previsto para iniciar no primeiro semestre de 2019.
“Dispor dessa estrutura é requisito essencial para implantação do Sistema de Mitigação de Risco da Sigatoka-negra. Estamos finalizando o diagnóstico da produção no município e a partir dos pontos críticos identificados, vamos capacitar os produtores em boas práticas na colheita e pós-colheita da banana e em procedimentos de embalagem, como forma de garantir qualidade à produção comercial”, diz a pesquisadora.
Outro aspecto dessa cadeia produtiva que será impactado com a classificação comercial é a forma de venda da produção. Desde 2005, a legislação brasileira recomenda a venda da fruta em pencas, entretanto, os frutos ainda são comprados em cacho por supermercados e outros estabelecimentos. “Essa prática tem por base sempre pagar pela menor banana, resultando em prejuízo para o produtor rural. Classificar a banana em pencas maiores e menores, selecionando os frutos, permite preços diferenciados”, enfatiza Pelentir.
Sistema de Mitigação de Risco
A Sigatoka-negra ataca as folhas da bananeira, reduz a produtividade dos cultivos e prejudica a qualidade dos frutos e impõe limitações comerciais. Devido à ocorrência da doença, a banana acreana somente pode ser comercializada com Rondônia e Amazonas, estados que também não contam com o Sistema de Mitigação de Risco da doença, estratégia de controle fitossanitário que integra diferentes medidas de manejo da cultura da banana, desde a implantação dos cultivos até a fase de embalagem do produto para comercialização.
Para implantar o sistema no Acre, um conjunto de instituições atua na capacitação de produtores rurais e técnicos que atuam no apoio à produção agrícola do Estado. No mês de agosto, 30 profissionais foram capacitados para atuar na certificação fitossanitária (de Origem e Consolidada) de áreas produtoras de banana em Acrelândia e outros municípios acreanos. “Além de preconizar a adoção de procedimentos adequados na condução da cultura, com o objetivo de aumentar a produtividade, garantir sanidade aos bananais e fortalecer a cadeia produtiva, o Sistema de Mitigação de Risco da Sigatoka-negra visa contribuir para melhorar a qualidade da produção, tornar o produto mais competitivo e abrir novos mercados”, afirma Virgínia Álvares.
Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
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