07/12/18 |   Agricultura familiar

Profissionais se preparam para a classificação comercial de banana no Acre

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Foto: Diva Gonçalves

Diva Gonçalves - Participantes do curso em aula prática no auditório da Superintendência Federal de Agricultura, em Rio Branco (AC)

Participantes do curso em aula prática no auditório da Superintendência Federal de Agricultura, em Rio Branco (AC)

Engenheiros agrônomos de diferentes instituições públicas e empresas privadas ligadas à área de produção vegetal participam do curso “Qualificação de classificadores de produtos vegetais com habilitação em banana”, realizado pela Embrapa, em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Superintendência Federal da Agricultura (SFA) no Acre, desde o dia 3 de dezembro. A capacitação de 40 horas visa proporcionar conhecimentos técnicos necessários para a classificação comercial da banana produzida no Estado e encerra nesta sexta-feira (7), com aula prática na Central de Abastecimento (Ceasa) de Rio Branco (AC).

Ministrado por especialistas do Mapa do Mato Grosso do Sul (MS) e da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), no auditório da SFA/Mapa, o curso faz parte das ações para implantação do Sistema de Mitigação de Risco (SMR) da Sigatoka-negra no Acre. Os conteúdos teóricos abordaram conhecimentos gerais sobre a classificação, padronização e fiscalização de produtos vegetais e aspectos legais do processo. Já as atividades práticas, iniciadas, na quinta-feira (6), enfatizam procedimentos operacionais de coleta de amostras de frutos de banana, técnicas de classificação do produto, uso adequado de equipamentos e critérios classificatórios entre outros aspectos normativos exigidos na classificação de banana.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Acre, Virgínia Álvares, autora do projeto da capacitação e coordenadora da atividade, o treinamento também inclui a realização de provas de conhecimentos da legislação e de procedimentos práticos de classificação de banana.  “Os participantes aprovados nos exames de habilitação deverão se credenciar junto ao Mapa como classificadores de banana. O credenciamento é um procedimento necessário para obtenção do registro técnico que habilita legalmente o profissional para o exercício da atividade”, explica.

O curso, normatizado pelo Mapa, órgão que também atua como fiscalizador do processo de classificação de produtos vegetais, é viabilizado com o apoio financeiro do gabinete do deputado federal César Messias, por meio de recursos alocados via emenda aprovada pelo parlamentar acreano.

Critérios de classificação
De acordo com a legislação, a banana destinada à comercialização interna e exportação deve ser classificada em Grupos e Tipos, com base em critérios mensuráveis como tamanho dos frutos (comprimento e diâmetro), nível de maturação, apresentação (quantidade de frutos por penca) e qualidade (limpeza dos frutos e ausência de defeitos como rachaduras, amassados). O Grupo 1, representado pelas variedades nanica e nanicão, pode ser dos Tipos Extra, Especial, Comercial e Comum. Já o grupo 2 contempla as bananas prata, maçã e banana da Terra (conhecida como banana comprida), variedades abundantes no Acre e representadas pelos Tipos Extra, Especial e Comercial.

“Essa tipificação ajuda a garantir padronização e homogeneidade à banana e agrega valor comercial ao produto. Contar com profissionais habilitados para esse trabalho trará benefícios para os produtores, que poderão obter preços mais justos para a produção e para o consumidor, que terá acesso a um produto com melhor padrão de qualidade”, afirma a engenheira agrônoma Maria do Carmo Brilhante, lotada no Serviço de Sanidade, Inspeção e Fiscalização da SFA/Mapa no Acre.

Ezequiel Pelentir, técnico da Cidasc, especialista na classificação de 27 produtos vegetais e instrutor da capacitação, explica que os defeitos mais comuns encontrados na banana disponibilizada para o mercado são lesões por doenças, podridão, machucados e escurecimento dos frutos, geralmente decorrentes de práticas inadequadas no manejo, colheita e pós-colheita e na logística de acondicionamento e transporte da produção. “Esses problemas, facilmente identificados, influenciam a compra do produto pelo consumidor, que dará preferência a pencas que possibilitem aproveitar todos os frutos. A permanência de bananas defeituosas na gôndola de exposição acaba afetando outros frutos e inviabilizando a sua comercialização. Separar os frutos com potencial comercial daqueles com defeito evita perdas para o produtor e para o comerciante”, diz.

Na opinião do engenheiro Agrônomo Josicley Azevedo, técnico da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) e um dos participantes do curso, a aplicação de critérios de classificação da banana descritos na legislação, requer mudança de comportamento por parte dos agricultores. “Atualmente, o produtor é quem menos ganha com a venda da produção, mas com os conhecimentos adquiridos na capacitação pretendemos atuar para modificar essa realidade. Sabemos que a adequação a novos padrões de manejo da produção requer investimento na atividade produtiva, que certamente será compensado pela oferta de um produto com valor agregado no mercado e aumento da procura, resultando em mais renda para as famílias”.

Casa de embalagem
De acordo com Virgínia Álvares, o processo de classificação comercial da produção de banana também envolve a embalagem do produto, atividade que deve ser realizado em local apropriado, também seguindo critérios legais. A primeira casa de embalagem será construída no município de Acrelândia, principal polo produtor de banana do Estado, com recursos financeiros do Banco Mundial. O processo, em fase de licitação, é coordenado pela Associação dos Produtores Rurais do Ramal Campo Novo (Apruracan). Conforme Virgínia Álvares, responsável pelo projeto, o funcionamento da estrutura está previsto para iniciar no primeiro semestre de 2019.

“Dispor dessa estrutura é requisito essencial para implantação do Sistema de Mitigação de Risco da Sigatoka-negra. Estamos finalizando o diagnóstico da produção no município e a partir dos pontos críticos identificados, vamos capacitar os produtores em boas práticas na colheita e pós-colheita da banana e em procedimentos de embalagem, como forma de garantir qualidade à produção comercial”, diz a pesquisadora.

Outro aspecto dessa cadeia produtiva que será impactado com a classificação comercial é a forma de venda da produção. Desde 2005, a legislação brasileira recomenda a venda da fruta em pencas, entretanto, os frutos ainda são comprados em cacho por supermercados e outros estabelecimentos. “Essa prática tem por base sempre pagar pela menor banana, resultando em prejuízo para o produtor rural. Classificar a banana em pencas maiores e menores, selecionando os frutos, permite preços diferenciados”, enfatiza Pelentir.

Sistema de Mitigação de Risco
A Sigatoka-negra ataca as folhas da bananeira, reduz a produtividade dos cultivos e prejudica a qualidade dos frutos e impõe limitações comerciais. Devido à ocorrência da doença, a banana acreana somente pode ser comercializada com Rondônia e Amazonas, estados que também não contam com o Sistema de Mitigação de Risco da doença, estratégia de controle fitossanitário que integra diferentes medidas de manejo da cultura da banana, desde a implantação dos cultivos até a fase de embalagem do produto para comercialização.

Para implantar o sistema no Acre, um conjunto de instituições atua na capacitação de produtores rurais e técnicos que atuam no apoio à produção agrícola do Estado. No mês de agosto, 30 profissionais foram capacitados para atuar na certificação fitossanitária (de Origem e Consolidada) de áreas produtoras de banana em Acrelândia e outros municípios acreanos. “Além de preconizar a adoção de procedimentos adequados na condução da cultura, com o objetivo de aumentar a produtividade, garantir sanidade aos bananais e fortalecer a cadeia produtiva, o Sistema de Mitigação de Risco da Sigatoka-negra visa contribuir para melhorar a qualidade da produção, tornar o produto mais competitivo e abrir novos mercados”, afirma Virgínia Álvares.

Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre

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